Pax
Podia ter sido o espartilho de uma tradição inexorável.
Podia ter sido um preconceito religioso arreigado. Podia ter sido um
ressentimento social vulcânico ou uma concorrência económica desenfreada. Podia
ter sido um delírio alucinatório, esquizofrénico, visceralmente conspirativo.
Ou podia até ter sido uma qualquer repugnância fisiológica irracional – sangue
contra sangue. Qualquer coisa de viril.
No Ocidente – foram palavras de ordem passageiras. Foi a
intersecção de noções vagas. Foi uma maranha de pequenas impressões e emoções
anémicas e evanescentes, herdadas de pais pelos filhos – they are the world;
they are the children. Uma culpabilidade postiça, de bom tom, salonsfähig em
reuniões de soixante-huitards, debitada com um sorriso metálico e grande
doçura de palavras. Um infantilismo monádico, cujo máximo de alteridade a que
chega é extasiar-se diante de um espelho, para o qual lá fora nada há e amanhã
nada há. A mascarada da compaixão exibida, narcisicamente bem cepilhada. Confortável
materialmente, confortável moralmente.
Uma tão pequena pedra de escândalo para uma tão grande queda.
João Tiago Proença
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