Comecei a trabalhar no Luxemburgo em Setembro de 1999. Parti sozinho de
Lisboa, um pouco ansioso e sem saber de todo o que me esperava (não conhecia o
grão-ducado nem o reino da Bélgica). Ali conheci a minha primeira mulher,
italiana, e lá nasceu o meu filho, no mês de Outubro do ano 2000.
Os colegas portugueses sempre foram muito simpáticos e a minha integração
na unidade de trabalho foi rápida e fácil. Um gosto. Ver as pessoas nas ruas e
frequentar-lhes as casas (dos mais próximos), foi rápido e bem gostoso.
As traduções fazem-se bem e, desde que comecei, a língua de trabalho
passou do 50-50 francês e inglês, para quase 100% inglês, desde o grande
alargamento de 10 países em 2004, porque muitos eslavos não têm o francês no
rol de línguas estrangeiras que dominam habitualmente (mais inglês e alemão).
Não tenho queixas a fazer. A não ser lamentar a resistência de certos
colegas mais velhos à mudança. Ficou na história o meu 'atrevimento', em início
de carreira, em ter ousado usar «envelope» e não «sobrescrito», que um colega
mais velho, ao rever, comentou «aqui é sempre sobrescrito». Ao que respondi que
não conhecia nenhum português da minha geração que usasse sobrescrito e não
envelope e que tinha sido contratado para utilizar português corrente e não do
séc. XIX. A 'luta' foi ganha junto da chefe de unidade da altura, que me deu
razão. O que levou o colega mais antigo referido a passar mais de um ano sem me
falar a direito, comentado em voz alta que «o Luís tem a mania de mudar
tudo»...
Fiz dois intercâmbios interinstitucionais, que me deram gozo. Conheci
gente que fazia o mesmo que eu, num momento diferente do processo legislativo.
No Conselho da UE e nos Comités Económico e Social e das Regiões.
Para muitos colegas, a Comissão e restantes instituições da União
Europeia, são uma «gaiola dourada». As condições de trabalho e os salários são
tão sumptuosos que, uma vez lá dentro, é difícil querer sair.
No meu caso, nunca me senti preso numa gaiola, gosto de línguas e de
traduzir, pelo que o trabalho me convém.
Luís Seabra
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