quarta-feira, 25 de junho de 2025

Belgitudes - Parte III.

 

 

Comecei a trabalhar no Luxemburgo em Setembro de 1999. Parti sozinho de Lisboa, um pouco ansioso e sem saber de todo o que me esperava (não conhecia o grão-ducado nem o reino da Bélgica). Ali conheci a minha primeira mulher, italiana, e lá nasceu o meu filho, no mês de Outubro do ano 2000.

 

Os colegas portugueses sempre foram muito simpáticos e a minha integração na unidade de trabalho foi rápida e fácil. Um gosto. Ver as pessoas nas ruas e frequentar-lhes as casas (dos mais próximos), foi rápido e bem gostoso.

 

As traduções fazem-se bem e, desde que comecei, a língua de trabalho passou do 50-50 francês e inglês, para quase 100% inglês, desde o grande alargamento de 10 países em 2004, porque muitos eslavos não têm o francês no rol de línguas estrangeiras que dominam habitualmente (mais inglês e alemão).

 

Não tenho queixas a fazer. A não ser lamentar a resistência de certos colegas mais velhos à mudança. Ficou na história o meu 'atrevimento', em início de carreira, em ter ousado usar «envelope» e não «sobrescrito», que um colega mais velho, ao rever, comentou «aqui é sempre sobrescrito». Ao que respondi que não conhecia nenhum português da minha geração que usasse sobrescrito e não envelope e que tinha sido contratado para utilizar português corrente e não do séc. XIX. A 'luta' foi ganha junto da chefe de unidade da altura, que me deu razão. O que levou o colega mais antigo referido a passar mais de um ano sem me falar a direito, comentado em voz alta que «o Luís tem a mania de mudar tudo»...

 

Fiz dois intercâmbios interinstitucionais, que me deram gozo. Conheci gente que fazia o mesmo que eu, num momento diferente do processo legislativo. No Conselho da UE e nos Comités Económico e Social e das Regiões.

 

Para muitos colegas, a Comissão e restantes instituições da União Europeia, são uma «gaiola dourada». As condições de trabalho e os salários são tão sumptuosos que, uma vez lá dentro, é difícil querer sair.

 

No meu caso, nunca me senti preso numa gaiola, gosto de línguas e de traduzir, pelo que o trabalho me convém.

 

                                                                                                        Luís Seabra


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