segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

#SheToo.


Emma Becker

 
Virgine Despentes
 

Li agora no Le Monde que o Sr. Macron, depois de ter largado, sem grandes consequências, o míssil das devoluções de obras de arte, abriu agora o debate sobre o acesso das pessoas com deficiência a serviços sexuais. A reflectirmos, pois o tema bem justifica (e não estou a brincar). O que não justifica mesmo nada é o último livro da Emma Becker, que é uma tonta de uma exibicionista e quiçá uma aldrabona, pois nunca sabemos que o que diz é verdade nem temos meios de saber se mente. Diz que se fez prostituta e que esteve dois anos num BB (bordel de Berlim). Não estou a dizer que não tenha estado, nunca vi BBB (Becker num Bordel de Berlim). E também vi, mas não li o livro La Maison, editado pela Flammarion o ano passado. Mas li uma reportagem grandita sobre A Casa, saída no Le (Nouveau) Magazine Littéraire (com o belo título «Bordeline»). O que me pareceu? Que, talvez sendo injusto, aquilo é uma versão século XXI e mal amanhada da Crónica da Mais Velha Profissão do Mundo e que os franceses sempre adoraram literatura prostitucional, naquele país houve e há dezenas de livros e «relatos» sobre a vida na rua, nos bordéis, no sexo a dinheiro. Muitas vezes, e suspeito que com a Becker se passa o mesmo, sob o pretexto da «denúncia» o que se quer é fazer pseudoporno e literatura-escândalo (que, de resto, já não causa escândalo nenhum, o último exemplo deste lixo foi o inacreditavelmente péssimo American Psycho, em meu modesto entendimento).

Diferente, muito diferente, é o relato confessional, também sobre a vida na prostituição (e não só, o trauma da violação, a pornografia, etc.), de outra francesinha escandalosa, Virgine Despentes. Teoria King Kong é um livro que, em meu modesto entendimento, vale muito a pena ser lido. Ela alterna, alterna entre muitas asneiras que diz (sobre o capitalismo, etc. coisas de um basismo atroz) e intuições de uma clarividência cortante, brutal (sobre os filmes pornográficos, por exemplo, algumas observações certeiríssimas). Há muita coisa criticável ou passível de discussão em Teoria King Kong mas vale muito, muito a pena. Estive até para mandar vir de França a obra romanesca da moça Virgínia Dos Pentes, Vernon Subutex (1 e 2, falta o 3). reparei entretanto que saiu cá pela EE (Excelente Elsinore). Ao folhear numa livraria, sentimentos mistos, se aquilo não será uma tentativa fraquinha, fraquinha, de mimetizar o Houellebecq e outros carrascos dos bons costumes, outra especialidade sádica em que FF (França é Fértil). Se tiver vagar, ainda escrevo um dia com mais calma sobre Teoria King Kong, seria bom que lessem para podermos falar de um livro que, goste-se ou não (e muitos irão certamente odiar), é muito importante. Mais do que parece. Mais até do que a autora se calhar julga, apesar do sucesso tremendo (só em Espanha já vai na 8ª edição). A ler.
 

a evitar (parece-me)
 
 

a ler!




 
 

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