quinta-feira, 13 de maio de 2021

O enigma do mausoléu.

 







Ermida de Nossa Senhora da Conceição:

O enigma do mausoléu de D. João III

 

 

Aviso prévio ao leitor: não embarco de ânimo leve nessas descrições de lugares e sítios mágicos, cabalísticos, mantenho-me indiferente ao tesouro dos Templários e ao esoterismo que tantos propalam, atribuindo a Tomar virtudes simbólicas ímpares. Enfim, está tudo por demonstrar, embora a atmosfera propicie as visitas dos cultivadores de enigmas. Mas estou absolutamente seguro de que há templos que permitem interpretações que a História às vezes ajuda a corroborar. E com esta mania das leituras de coisas antigas, vou-vos falar do enigma do mausoléu de D. João III, que está para dar e durar. Tudo começou quando li uma revista infelizmente há muito desaparecida.

 O número 1 do Boletim Cultural e Informativo da Câmara Municipal de Tomar, março de 1981, apareceu cheio de vida, parecia destinado a mexer no orgulho tomarense. O seu conteúdo fala por si: um enternecedor trabalho sobre o tipismo e as tradições tomarenses; José Inácio da Costa Rosa, autor da capa, escrevia sobre os oito claustros do Convento de Cristo; cozinha, doçaria e vinhos de Toma, toponímia das ruas de Tomar, eram outros aliciantes de uma publicação que parecia fadada a uma longa vida e constituir uma ferramenta cultural topo de gama.

Rafael Moreira entendeu por bem debruçar-se sobre um dos mistérios mais cuidadosamente guardados da arquitetura tomarense: qual seria o destino a dar à Ermida de Nossa Senhora da Conceição, grande demais para capela, pequena demais para igreja?

Primeiro, a sua construção. A obra fez-se durante o priorado de Fr. António de Lisboa, provavelmente em 1550 ou 1551, sofreu várias paragens, concluiu-se 20 anos depois, quando se assentou a cobertura, mais no século seguinte ainda havia acabamentos para resolver. Enfim, uma construção com altos e baixos, denota desinteresse e abandono da sua finalidade inicial.

Segundo, faz todo o sentido olhar para este edifício como exemplo de arte funerária monumental e supor o seu destino. D. João III jaz na capela-mor dos Mosteiros dos Jerónimos, mas tudo quanto se tem publicado sobre as preocupações do monarca para jazigo da sua família fazem pensar que D. João III não o destinava para seu sepulcro nem para sua mulher, D.ª Catarina de Áustria. Como observa o autor, quando foi entendimento em sepultá-lo em Belém, foi necessário improvisar um lugar “aos pés da sepultura de el-Rei D. Manuel seu pai”. O autor enfatiza que D. João III não planeara vir repousar ao lado de seus pais e seus irmãos na capela-mor de Belém, a sua decisão induz-se pela negativa: excluir-se do panteão de Belém significava ter formado o desígnio no sentido de erigir outro para si, tudo indicando que foi precisamente com esse fim que se fundou a capela de Nossa Senhora da Conceição. E abona com vários testemunhos, onde não faltam Francisco de Holanda e Fernão Duarte de Montarroio.

A ligação de D. João III com o Convento de Tomar era solidíssima: concedeu-lhe sucessivos privilégios, ele que era grão-mestre perpétuo da Ordem de Cristo, privilégios que suscitaram remoques se não ódios de outras ordens religiosas (dos Alcobacenses, por exemplo, a quem o monarca retirou chorudas rendas. D. João III concedeu a Tomar o título de “Vila notável”. E o autor questiona porquê um panteão real na órbita do Convento de Cristo? E responde dizendo que nenhuma das suas dependências tinha caráter apropriado. Ora o local escolhido para a Ermida da Nossa Senhora da Conceição é ao mesmo tempo uma pequena acrópole e a traça é a de um típico mausoléu à antiga em forma de templo destinado ao enterramento e culto do defunto.

Olhando para o edifício, tudo faz para nos convencer, alegando que temos ali os elementos mais significativos da sua intencionalidade. A complicada organização volumétrica espelha a diferenciação entre a zona religiosa e a zona funerária. “Interiormente, o traço que define a estrutura é o extraordinário relevo dado à zona do cruzeiro como foco de atração visual. Precedido pela colunata coríntia que funciona como um vestíbulo, a ele conduz o movimento dos entablamentos e abóbadas, nele se concentram os elementos decorativos (na cúpula, sobre a qual se erguem por fora bolas de fogo e o ovo primordial), converge e angulação das janelas do transepto e desembocam as linhas de comunicação dos recessos internos; um ponto exato à entrada do cruzeiro é, de facto, o centro da construção perspética da igreja. Em confronto com ele, a capela-mor torna-se insignificante, e quase passa desapercebida. Os braços do transepto criam extensões laterais de valor equivalente a esse espaço central. Nos arcos-cegos que se abrem cada topo – hoje vazios à exceção de um pequeno altar de talha – deveriam talvez ter sido abertas as sepulturas de D. João III e D.ª Catarina, nunca construídas”.

Obviamente que todo este quadro de suposições implica o autor a questionar por que motivo D. João III não ficou aí sepultado, deixando a sua capela panteão vazia. A resposta é lapidar, é a própria História que o explica. “Passado esse fugaz momento de apogeu do poderia imperial, soprando já os ventos da viragem tridentina, a abertura às ideias humanistas cede lugar a um classicismo formal. O falecimento súbito do monarca em 1557, sem lhe dar tempo sequer de fazer testamento irregular o problema sucessório, deixou campo livre aos influentes grupos de pressão que atuavam na corte e no alto clero, conduzindo o país a alinhar nas novas correntes internacionalistas e centralizantes da Contrarreforma. Apesar do apoio de D.ª Catarina, a Ordem de Cristo sofre violentos ataques e entra rapidamente em recessão: o Cardeal-Infante D. Henrique tentará mesmo extingui-la. Desta nova conjuntura que se afirma durante a regência de D. Henrique (1562-68) é expressão emblemática o panteão real dos Jerónimos. Foi ele, sem dúvida, quem decidiu a sua construção, com o consequente abandono das obras de Tomar, só retomadas muitos anos mais tarde”.

E o artigo termina com um comentário bem curioso, da autoria de Frei Bernardo da Costa: “Os magníficos conventos e casas reais de Portugal, todos se enobrecem com os depósitos das reais cinzas dos nossos monarcas. Assim S. Cruz de Coimbra, Alcobaça, Batalha, Belém, S. Vicente de Fora. O convento de Tomar é privado desta honra”. Ao que o autor contrapõe: “Mal saberia ele por pouco, se não estou em erro, essa pretensão tinha estado para se realizar”.

Seja como for, a Ermida é obra sem igual e não exagera quem já passou a escrito que é um dos mais belos interiores que existem no mundo. Digo-vos eu, plenamente convicto.


Mário Beja Santos




 






3 comentários:

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