domingo, 24 de novembro de 2024

Carta de Bruxelas.

 



                                                                                        Pânico nas ruas de Amesterdão

 

    Já lá vão uns anos. Em 1933, Trotsky, o «velho» como era carinhosamente tratado pelos seus proches no exílio, escrevia «o pogrom torna-se a prova suprema da superioridade racial.» Na época, pagava-se a cegueira face à realidade com a falsa moeda da irracionalidade racial.  Hoje a acusação agravou-se. O pogrom tornou-se a prova suprema da superioridade moral, para os participantes, os que o aplaudem ou que a ele assistem passivamente mas, no íntimo, com satisfacção. A troco da violência, apazigua-se a má consciência imaginária por meio do ataque ao ocidente. Mas há pior. Como uma casa pobre se revela mais miserável pela mobília gasta e decrépita do que pelo espaço vazio, o presságio sinistro do pogrom revelou-se na dissimulação moral daqueles que olham para o lado fingindo que não vêem o que vêem. Sentados no recato e conchego do lar, talvez a ler livros de história da Alemanha nazi, pretendem não ouvir as facas que estão a ser afiadas para os degolar. É difícil imaginar sinal mais desesperado do desespero. E mais cobarde.


                                                                                João Tiago Proença




 


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