Pânico
nas ruas de Amesterdão
Já lá vão uns anos. Em 1933, Trotsky, o «velho» como era
carinhosamente tratado pelos seus proches no exílio, escrevia «o pogrom
torna-se a prova suprema da superioridade racial.» Na época, pagava-se a
cegueira face à realidade com a falsa moeda da irracionalidade racial. Hoje a acusação agravou-se. O pogrom
tornou-se a prova suprema da superioridade moral, para os participantes, os que
o aplaudem ou que a ele assistem passivamente mas, no íntimo, com satisfacção.
A troco da violência, apazigua-se a má consciência imaginária por meio do
ataque ao ocidente. Mas há pior. Como uma casa pobre se revela mais miserável
pela mobília gasta e decrépita do que pelo espaço vazio, o presságio sinistro
do pogrom revelou-se na dissimulação moral daqueles que olham para o
lado fingindo que não vêem o que vêem. Sentados no recato e conchego do lar, talvez
a ler livros de história da Alemanha nazi, pretendem não ouvir as facas que
estão a ser afiadas para os degolar. É difícil imaginar sinal mais desesperado
do desespero. E mais cobarde.
João Tiago Proença
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