sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Notas bárbaras (diário ocasional).







Mark Rothko

 
 
 
 
6 de Setembro

Artur Goulart partilhou numa rede de amigos um artigo sobre a pressão académica contemporânea de publicar, onde impera a obsessiva insistência na quantidade[http://www.gpopai.org/ortellado/2012/01/a-fabrica-de-papers/]. Intervim comentando que sentia esse problema muito mais na Europa do que aqui nos States, pois por estas bandas há hoje uma grande insistência na qualidade sobre a quantidade e estão há muito institucionalizados processos de recolha de avaliações que privilegiam precisamente essa dimensão, a da qualidade. Tendo já por dois períodos de três anos participado no mais importante comité académico da minha universidade, a Brown, o Committee on Tenure and Promotions (um grupo de 18 pessoas que praticamente toma a última decisão sobre etapas-chave da carreira de docentes, como é o caso da efectivação definitiva - tenure) tenho algum conhecimento na matéria.

 Mas venho ao assunto agora porque hoje encontrei-me com o meu director de Departamento (cargo rotativo, que eu próprio ocupei durante uma dúzia de anos). Vinha de um encontro com o Provost, o # 2 da universidade, quem de facto rege o dia a dia da instituição. Um dos temas que levava para o encontro era o da contratação de uma segunda secretária que perdemos por doença. O Provost, que veio recrutado de fora não há muito tempo, desconhece o historial do nosso Departamento. Ao ouvir a justificação da necessidade de contratarmos uma segunda secretária porque publicamos quatro revistas, três delas a cargo de um só indivíduo (este escriba) reagiu sem conseguir refrear uma dose de irritação: Pode lá ser! Como é que se pode dar conta disso tudo e assegurar qualidade!

Pois! Tomara ele ver como se trabalha para se conseguir que as coisas apareçam decentemente feitas! E qualquer colega meu viria em minha defesa: Se há alguém para ajuizar da qualidade do trabalho feito, de certeza que não é ele pois nada conhece do campo. De facto, são os pares quem julga. Ou deve julgar.

De qualquer modo, isto são cá contas minhas e das belíssimas equipas com que trabalho. Para aqui, a estória serve apenas para ilustrar o meu comentário na sequência do artigo partilhado pelo Artur Goulart e que aborda questões centrais nas universidades de hoje, como é esse da avaliação das publicações.

 

Onésimo Teotónio de Almeida
 
 
 
 

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