quinta-feira, 30 de julho de 2020

Vergonhoso.






Midas Filmes afastada do concurso de apoio à Distribuição do ICA
com o objectivo de liquidar a actividade de estreia de filmes da distribuidora

Os apoios do Instituto de Cinema à actividade da distribuição independente em Portugal têm sido decisivos para a manutenção deste sector e o país pode orgulhar-se de ter continuado a mostrar algum do melhor cinema do mundo nas suas salas de cinema.
Na actual situação em que os cinemas encerraram durante quase três meses e em que a actividade continua muito incerta, esse apoio é ainda mais decisivo.
Pois é precisamente numa situação como a que vivemos que os serviços do ICA decidem - escudando-se num artifício legal inconcebível - afastar liminarmente a candidatura da Midas Filmes (consequência de uma plataforma informática totalmente incompetente e que tem levado ao regular adiamento de concursos, e sendo famosa no meio cinematográfico pela sua total inadequação). *
É um apoio de apenas 60 mil euros - e portanto uma pequena parte na nossa actividade de distribuição - mas o suficiente para pura e simplesmente liquidar essa actividade de estreia de filmes por parte da Midas.
Para dizê-lo de forma muito clara, o resultado desta decisão por parte do ICA será a liquidação da actividade de estreia de filmes por parte da Midas.
Criada em 2007, a Midas estreou ao longo destes anos alguns dos filmes e realizadores mais importantes do cinema contemporâneo, num total de 190 filmes (26 dos quais portugueses) e editou em DVD mais de três centenas.
Este ano, depois de J’AccuseRetrato da Rapariga em Chamas e O Paraíso, Provavelmente, iríamos estrear, entre muitos outros, os novos filmes do mexicano Carlos Reygadas, dos franceses Arnaud DesplechinPhilippe Garrel e Valerie Donzelli, dos italianos Nanni MorettiDaniele Luchetti e Gabriele Salvatores, do tailandês Apichatpong Weerasethakul, do japonês Kioshi Kurosawa e do coreano Hong Sang-Soo, documentários do chinês Jia Zhang-Ke e do chileno Patricio Guzmán, do britânico Mark Cousins. A qualidade e a importância destes filmes falam por si.
São estes filmes e a actividade de distribuição da Midas que esta decisão dos serviços do ICA - perante a passividade e a complacência do Ministério da Cultura - agora irá liquidar.
E de caminho, liquidar também o Cinema Ideal, que à beira de assinalar seis anos de vida foi a única sala de cinema de Lisboa (e a primeira no país) que a 1 de Junho reabriu depois do confinamento.
Numa altura em que a Cultura e o Cinema em particular passam por uma das suas mais graves crises, a atitude dos serviços do Instituto de Cinema (que ao longo dos últimos meses têm tido atitudes cada vez mais controversas e não escrutinadas) requer uma intervenção imediata por parte das autoridades governamentais.
O senhor Secretário de Estado do Cinema, a senhora Ministra da Cultura, o senhor Primeiro-Ministro, não podem assistir passivamente, não à liquidação da Midas, mas à liquidação da razão de ser do próprio Instituto de Cinema, que é o que esta atitude significa.

* a ridícula ‘justificação’ dos serviços do Instituto é da ausência de um documento – Declaração Sob Compromisso de Honra, modelo A – em que o gerente da empresa candidata certifica que não é assassino nem ladrão nem por tal foi condenado, documento que é no meio cinematográfico apenas objecto de chacota e que juristas abalizados consideram, além de imprestável, ilegal. E declaração de que os serviços do ICA possuem anteriores exemplares; e finalmente declaração que não faz parte do dossier do projecto a concurso.








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