Pela segunda semana do meu primeiro ano de seminário, fui um dos quatro ou
cinco seleccionados, entre uns oitenta e tal alunos, aproximadamente, todos
primeiranistas, para aprender a tocar piano, a fim de a Congregação Salesiana
poder contar sempre com um número razoável de clérigos, padres e coadjutores
devidamente habilitados para desempenharem o importante e nobre papel de
futuros mestres de canto coral, de mestres de banda, de pianistas, de
organistas e de professores de música nos seminários menores e maiores e nos
colégios.
Como a frequência de qualquer conservatório estava fora de questão, para
evitar, a todo o custo, por princípio e tradição, expor os futuros mestres e
professores aos meios mundanos, supostamente perniciosos à sagrada vocação
religiosa, não é preciso dizer que, salvo raríssimas excepções, a competência
dos mestres e professores de música era de uma mediocridade gritante e
confrangedora.
A referência às “raríssimas excepções” baseia-se no facto de, por um feliz
acaso, aparecer, lá muito de longe em longe, uma rara avis, quer dizer, um
seminarista com dotes tão extraordinários para a música e por ela tão
apaixonado, que, por si só, num golpe de auto-didactismo exemplar e quase
miraculoso, conseguia aprender a tocar plausivelmente bem os instrumentos
musicais, tais como o piano e o órgão, e aprender os princípios fundamentais da
composição, a ponto de vir a ser capaz, não só de fazer arranjos musicais, tais
como transformar um canto a uma voz num canto a duas, três ou quatro vozes, ou
transformar um acompanhamento difícil num acompanhamento fácil, mas até de ser
capaz de compor uma peça de música original.
Perante essa vocação para a mediocridade, por parte da instituição
religiosa, chegou o momento em que dois dos cinco seminaristas, já estudantes
do primeiro ano de Filosofia (1952-53), literalmente envergonhados da triste
figura que faziam quando eram obrigados a acompanhar ao órgão as missas
destinadas a um público em que certamente havia fiéis com elevada formação
musical e habituados a assistir à ópera, a recitais ou a concertos dados por
grandes músicos profissionais, dois dos cinco seminaristas (os outros três
tinham voltado para a ... mais apetitosa vida do século), repito, encheram-se
de coragem e fizeram ver ao padre superior do seminário maior – Instituto
Filosófico Salesiano do Estoril - que, uma vez que não os deixavam frequentar o
conservatório, pelo menos lhes contratassem um competente professor de piano
que lhes desse uma ou duas lições semanais. Advogaram tão vigorosamente a sua
causa, que o padre superior, embora com certa relutância, decidiu contratar um
professor de piano, digno de tal nome.
Chamava-se Doria Meunier; era de origem francesa; e era um estupendo
pianista, de cujo currículo constava que tinha sido, durante vários anos,
pianista do transatlântico português Santa Maria e que muitos dos seus
concertos eram transmitidos pela Emissora Nacional, a que nós, seminaristas,
raramente tínhamos acesso, e, sempre que isso acontecia, era com o beneplácito
expresso dos superiores e sob a sua superior supervisão. Porém, manda a verdade
que se diga que, como professor de piano, Doria Meunier era a incompetência em
pessoa.
A ver se me explico por meio de exemplos. Chega a primeira aula de piano e
que faz o professor Meunier? Senta-se ao piano e diz-nos que reparemos como ele
executa a célebre Marcha Fúnebre de Chopin. Quase transfigurado, como muitos
dos artistas possuídos do daimon de Sócrates, de que fala o divino Platão, toca
essa sublime sonata, totalmente de cor, e no fim, a suar por todos os poros,
enquanto limpa o rosto a um lenço vermelho, pede-nos os aplausos que nós ambos,
como qualquer apreciador normal, não lhe podíamos regatear.
Feito um breve intervalo, para repouso do artista, pede-nos que reparemos
se a peça que ele vai executar não é obra de outro génio da música. E,
proferidas estas palavras, executa, com o mesmo furor daimónico, a Appassionata
de Beethoven, sem sequer abrir a partitura. Entusiasticamente aplaudido por
nós, que fez ele, após uns minutos de descanso? Quando imaginávamos que nos ia
mandar sentar ao piano, um após outro, e nos fazia tocar um ou dois exercícios
de Czerny e um ou dois andamentos das Sonatinas de Clementi ou de Kuhlau, para
verificar a posição dos dedos, por exemplo, e para avaliar o nosso nível
musical, como aprendizes de piano, que é que fez o nosso indigitado mestre de
piano? A propósito da famosa sonata de Beethoven que ele acabara de tocar
magistralmente, falou-nos, em bastante pormenor, com visível entusiasmo, de um
jovem músico português, menino-prodígio, chamado Sequeira Costa, o qual, em
plena adolescência, cometera a proeza de dar um recital de piano em que
executou de cor todas as sonatas de Beethoven, o que lhe valera a recepção de
um prémio muito especial e a fama imediata.
Depois de nos maravilhar e de nos deixar embasbacados e deslumbrados com a
narração dos êxitos fulgurantes e retumbantes desse pianista prodigioso que,
desde criança, demonstrara um talento tão extraordinário para o piano, que, aos
oito anos de idade, deixou Luanda, onde nascera, em 1929, para ir para Lisboa
estudar com o famoso pianista e mestre Vianna da Motta, o nosso novo professor
de piano, executou, com o maior vigor e brilhantismo, a Polonaise Heróica de
Chopin e deu por finda a lição.
Daí a dias, Doria Meunier voltou para nos dar uma segunda lição de piano,
sensivelmente nos moldes em que nos dera a primeira. Tocou ele e nós não
tivemos outro remédio senão ouvi-lo e aplaudi-lo. A partir desse momento, o
nosso famoso e putativo professor de piano passou a mandar-nos um filho dele, o
qual pouco mais sabia que nós e, quanto a competência didáctica, era mais ou
menos o retrato do pai, fazendo jus ao velho adágio: tal pai, tal filho.
Quando o Padre Director nos perguntou, passado algum tempo, se gostávamos
do professor de piano, tivemos que lhe confessar, com toda a sinceridade, que
sim e que não. Convidados a explicar-lhe esse aparente paradoxo, não tivemos
outro remédio senão fazê-lo. Perante esse facto, o Padre Director apenas nos
disse que a Ordem era pobre e que não dispunha de dinheiro para gastar com
professores desses: que nos contentássemos com a prata da casa, isto é, com o
professor que tínhamos, o qual não passava de um pobre amador, mas que tinha
competência suficiente para nos ensinar o indispensável, garantia ele a pés
juntos, a fim de podermos acompanhar, atabalhoadamente, ao órgão as missas
cantadas e acompanhar ao piano os cantos e as operetas, por ocasião das muitas
festas em que a Congregação Salesiana era pródiga.
Conclusão. Para nossa frustração e tristeza, a nossa modesta e legítima
aspiração a uma formação pianística elementar não encontrou quem podia e devia
remediá-la.
Voltando ao grande pianista português Sequeira Costa, vou contar brevemente
o que aconteceu em 1981. Ocupando, desde 1976, o prestigioso cargo de Cordelia
Browm Murphy Distinguesd Professor of Piano na Universidade de Kansas, em
Lawrence, tendo renome internacional e tendo dado concertos de piano a solo e
concertos com grandes orquestras através do mundo e nas salas de música mais
célebres, em Fevereiro de 1981 pôde finalmente realizar um dos seus sonhos, que
é o de todos os grandes pianistas do mundo inteiro. Com o patrocínio do
Consulado-Geral de Portugal de Nova Iorque, da Câmara do Comércio
Luso-Americana da mesma cidade e da Fundação Calouste Gulbenkian, Sequeira
Costa deu um concerto de piano a solo na lendária Carnegie Hall de Nova Iorque.
Não
é necessário dizer que, tal como outros carolas de outros estados próximos de
Nova Iorque, com a velha Pátria sempre na mente e no coração, o Cônsul
Honorário de Portugal em Connecticut e o abaixo-assinado fizeram o máximo de
publicidade entre a vasta comunidade luso-americana para levar um bom
contingente de espectadores a esse auspicioso concerto. Além da publicidade feita,
eu, por exemplo, por minha parte, orgulhoso por poder mostrar à América que em
Portugal também havia grandes pianistas e se fazia, embora em tom menor, alta
cultura musical, convidei quatro casais amigos, da minha universidade, sabendo
de antemão, por experiência própria, que todos tinham considerável formação
musical e apreciavam a grande música romântica, especialidade de Sequeira
Costa.
Para
minha desagradável surpresa, eterno optimista, a celebérrima Carnegie Hall
estava muito longe da enchente esperada.
Como
é natural, o pianista esteve à altura do prestígio de que gozava através do
mundo, ou, como diria o meu amigo Manuel Gaspar, não deixou os seus pergaminhos
por mãos alheias. Entretanto, quando, na manhã do dia seguinte, abro o New York
Times para ler a recensão da praxe, venho a encontrá-la, escondida e
envergonhada, no fundo de uma página, na secção das Artes, reduzida a umas
magras linhas em que apenas era posta em destaque a curiosa peça que o célebre
pianista português tocara como brinde, ou “encore”: uma sonata do compositor
português João Domingos Bomtempo (1775-1842), lamentavelmente desconhecido do
público americano e, muito provavelmente, do crítico musical do New York Times.
Ao
chamar a atenção da Jane e George Reinhardt, dois dos meus oito convidados e
ambos competentes musicólogos, para essa modestíssima recensão, apressaram-se a
dizer, em uníssono, que outra coisa não era de esperar, dado o reportório que o
pianista português escolhera, abrindo o concerto com a Appassionata de
Beethoven e prosseguindo com as peças mais frequentemente executadas pelos mais
célebres intérpretes da música romântica para piano. Que essas icónicas peças
as tinham visto os novaiorquinos executar aos maiores pianistas do mundo
inteiro. Que o que esperavam de Sequeira Costa era um reportório diferente, só
dele, e que ele desperdiçara estultamente essa oportunidade única.
António Cirurgião
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