sexta-feira, 31 de maio de 2013

Linha de passe.


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Prof. Manuel Sérgio



 
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«Também sou um gajo que vende o meu peixe, quero que a malta conheça a minha teoria. Não é nada de especial, mas para o tempo em que a criei, quando publiquei o meu artigo em 1979, foi nobre.»
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«Quer a educação física, quer a medicina moderna são produtos do cartesianismo. Descartes dividiu o ser humano em mente e corpo. Uma pessoa tinha saúde desde que o físico funcionasse como uma máquina. É esse o ponto de partida da minha luta. Para mim, não há educação do físico, há educação de pessoas em movimento».
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«Saiu-me a sorte grande ao ler Maurice Merleau-Ponty. Ele define a motricidade como um movimento intencional e tive um clique».
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«Comecei a falar em movimento intencional de transcendência. Porque nesta área o movimento é de quem quer superar o outro e superar-se a superar-se a si mesmo».
 
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«Fiz uma revolução científica, mas uma pessoa qualquer que me oiça dizer isto vai dizer que sou parvo, está a perceber?! Falo disto pela primeira vez há quase 40 anos e agora aparece como novidade».
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«Só ligavam ao físico e pouco mais. Eu nunca tinha jogado à bola, era uma pessoa de fora do meio e viam-me como um teórico a ladrar; não ligavam puto. Agora é uma grande teoria. Eu falo do erro de Descartes muito antes do Damásio. Só que o Damásio sabia provar neurologicamente e eu não sei. A minha tese de doutoramento é uma visão filosófica do erro de Descartes».
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«Qualquer ignorante, ao fim de 24 horas, sabe que a táctica é o 4x4x2 o 4x3x3, qual é a dificuldade? É evidente que o futebol é táctica também, mas aquilo é música».
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«Tudo o que é cultura é bom. Mas não é uma cultura à maneira do Renascimento, em que uma pessoa lia livros e andava no ar platonicamente. Hoje a pessoa tem de nascer de uma especialidade e passa por conhecer o chão de onde ela brota».
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«Eu conheço os fundamentos científicos. Sei que o todo é mais importante do que a soma das partes. Para mim era evidente que ao mesmo tempo que trabalho a táctica tenho de trabalhar o homem».
«O Jorge Jesus é um grande treinador em qualquer parte do mundo».
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«A leitura de jogo é sensacional. Faz lembrar o cientista, que olha e vê diferente. Imaginemos o córtex cerebral. Estamos a olhar através de uma cirurgia. O neurocirurgião vê coisas que eu não vejo e estou a olhar para o mesmo. O grande treinador é a mesma coisa».
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«Ele [Pedroto] estava no FC Porto e ligou-me. Cheguei a ir a estágios da equipa, na Póvoa de Varzim, só para conversarmos. Questionava-me: “Desculpe, que coisa é essa de não haver educação física?”. E lá lhe dizia que era uma falha do cartesianismo».
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«Para mim o desporto deve ser contrapoder ao poder das taras dominantes, mas não há dúvida que a alta competição hoje reproduz e multiplica as taras da sociedade capitalista».
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«O Peyroteo foi dos maiores rematadores da história do futebol. Um gajo ombrudo. Lançavam-lhe a bola e era com cada sarda».
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«Ainda hoje estou para saber como é que apanhei 16 em Grego. Parto do pressuposto que os gajos se enganaram».
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«Politicamente sou um socialista síntese de marxismo e cristianismo».
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«Temos de gritar por um outro mundo».
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«Estava num partido dos reformados e só queriam melhores reformas. Lidava com pessoas velhas no corpo e na alma. Quando disse que o partido devia ter ideologia, queimei-me. Fiquei farto de velhos.
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«O professor Barbosa de Melo, presidente da AR, telefonava-me durante o plenário a perguntar que livro estava a ler, enquanto na AR se discutiam os tapetes de Arraiolos».
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«Eu hoje estou a falar de mim à brava, até tenho vergonha. Eu, eu, eu».
 

Manuel Sérgio, entrevista ao Sol/Tabu, de 24/05/2013
 
 

1 comentário:

  1. é absolutamente incrível como o post-moderno M.S. contribuiu tão pouco para a dívida nacional

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