quinta-feira, 27 de junho de 2013

Um mês no Luberon: extractos dum diário provençal (14).






René Char


 



27-VIII                                                                              
Cérest sem René Char

 

 

Fomos até Cérest, aldeola numa encosta do Vaucluse, pátria de René Char, mas não encontrei nada que evocasse o famoso poeta hermético das Folhas de Hypnos, o amigo íntimo de Camus, o resistente que chefiou um maquis em luta armada contra os ocupantes nazis. Nada, nem uma placa, nem um a rua com o seu nome, nem um qualquer monumento que assinalasse a origem dele neste obscuro recanto provençal, aliás pouco atraente. Em termos de Guia Michelin, até se podia dizer que esta terra não “vale um desvio”: uma igrejola medíocre, dois ou três cafés banais com esplanadas semelhantes a todos os demais neste país, um quiosque de jornais, umas ruelas sem nada de curioso, árvores também comuns, em suma, um pequeno nada trivial que não merecia uma visita e, sobretudo, não honra o nome do grande poeta surrealista e hermético aqui nascido em 1907. É verdade que não sou um leitor entusiasta dos poemas de Char, até porque sempre lhe preferi outros bardos como Aragon, Verlaine, Baudelaire, Apollinaire, Queneau e até Victor Hugo, este sobretudo como figura de intelectual oitocentista exilado nas ilhas normandas para protestar contra a ditadura de Napoleão o Pequeno. Também é certo que, admirando muito a enigmática poesia de Celan ou até de Trakl, já não me fascinam os hermetismos concisos do antigo surrealista Char. Por fim, sendo toda a Provença um tesouro de pequenas maravilhas sob a forma de aldeias, paisagens, fontes e recantos arborizados, esta aldeola de Cérest faz-me a impressão duma espécie de Reboleira meridional. Conviria também alegar que, para mim, a literatura da provençal é sobretudo feita de romancistas como Daudet, Pagnol, Giono e poucos mais, o que deixa o poeta de Fureur et Mystère à margem das minhas leituras mais favoritas.
 
 
João Medina
 
 
 

1 comentário:

  1. Com os meus cumprimentos, deixo-lhe uma sugestão: referir, sempre, os autores da imagens aqui publicadas, sejam elas fotografias, aguarelas ou outras formas de expressão artística que, perdoe-me a expressão, não caíram do céu.

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