terça-feira, 22 de setembro de 2015

Em Teu Vento.




 

À boleia oportunista do best-seller gastrointestinal de Giulia Enders, ei-lo que volta. Depois da Coreia do Norte, soam trompas de Falópio. É Outono, a reentrada equinocial. E, com o cair da folha, lá teremos nas livrarias Em Teu Ventre, um doloroso exercício de colonoscopia literária. O autor aborda as aparições de Fátima e os milagres da Virgem, trazendo a tiracolo os pastorinhos videntes, que esbracejam muito, apavorados. Quem fez a sinopse, mauzinho, gozou o flato. Uma «perspectiva inteiramente nova». Ou esta: «uma narrativa que cruza a rigorosa dimensão histórica com a riqueza de personagens surpreendentes». Também boa, de estalo: «a questão da maternidade é apresentada em múltiplas dimensões, nomeadamente na constatação da importância única que estas ocupam na vida dos filhos». Verdades como punhos. Convém acrescentar que o livro oferece ainda, sem custos adicionais, «uma reflexão acerca de Portugal e de alguns dos seus traços mais subtis e profundos». Muito se divertem os fazedores de sinopses. «O sereno prodígio destas páginas, atravessado por inúmeros instantes de assombro e milagre…».

Mas agora, a palavra ao Mestre. Faz-se silêncio entre as mesas; na penumbra da sala avança Peixoto, à guitarra: «Mãe, atravessas a vida e a morte como a verdade atravessa o tempo, como os nomes atravessam aquilo que nomeiam».

Na capa, um bando de pombos de corrida. Esvoaçam dali para fora, escapulindo à justa de serem engaiolados na narrativa ventral. Haja alguém sensato no meio desta porcaria toda. Em Teu Ventre sai em Outubro, de cesariana. E consta que é menino. Ecografia disponível no site do artista, aqui.


1 comentário:

  1. hummm... gosto do que o Zé Luís escreve e do como dele escrever.

    Mas sobre este livro novo não me pronuncio porque não o conheço. E aquele bocadinho que li é pouco de nada. Portanto...

    No entanto, gostei dessa mãe inalterável a atravessar ser e não ser como quem bebe um copo de água. As mães são assim, umas abelhudas, vão a todo o lado dentro do coração dos filhos. As palermas das mães.

    Quanto a quem apresenta a sinopse, não ligo muito, até porque em geral dizem bem das obras. Só costumo lê-las no fim de terminar a leitura. No entanto, salvo erro, há uma falta de concordância na também boa de estalo; ou pareceu-me haver. Não interessa.

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