quinta-feira, 30 de setembro de 2021

O estendal.

 




Já aqui foi caso da importância da mola da roupa.

Agora, mais precisamente no dia de hoje, é a vez do estendal.

Uma das principais cenas que Jean Cocteau quis filmar nesse filme de culto que é La Belle et La Bête foi a “cena dos lençóis no estendal”, cena essa que era, para ele, uma obsessão.

Antes de mais mobilizou tudo e todos e mandou a equipa em expedição em demanda dos lençóis mais-que-perfeitos para estender no mais-que-perfeito estendal. O diário de filmagem do realizador mostra-o constantemente inquieto e meticulosamente preocupado com a localização do conjunto, a disposição, a orientação do estendal. Mais: com cada fio do estendal, cada centímetro do fio do estendal, cada centímetro quadrado de cada lençol no estendal.

Um extrato do diário dá conta do feitiço que o tomou: “Tenho de tratar de tudo, pendurar a roupa, amarrar os mastros (…), construir as ruelas de lençóis e preencher os espaços a descoberto. É difícil imaginar o que é tentar alugar doze lençóis suplementares em 1945…  Eu só tinha seis. As ruelas e os bastidores foram sendo construídos à medida que se ia avançando, o que me impedia de ter à partida uma visão de conjunto. Mas na verdade até prefiro assim. Se tivesse de descrever esse labirinto de lençóis, havia de arranjar maneira de o leitor se perder nele”




Dedicado à Tânia Cunha.


Manuela Ivone Cunha





 

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