domingo, 14 de dezembro de 2014

Sul profundo.

 
 
 


A ordem das imagens não era esta, mas coloquei primeiro a das meninas a olhar para um parque de diversões. Porventura, a mais violenta e cruel de todas as fotografias. Não sei ao certo o que se passou ou o que a imagem quer dizer. Ponho-me a imaginar que é um parque infantil reservado a brancos, onde aquelas meninas sonhavam um dia poder brincar. E até poderia fazer-se uma analogia entre esse sonho e o outro, o de Luther King. Mas seria abusivo. Como abusiva foi a ideia que brancos e negros poderiam ser iguais, desde que vivessem separados. Entradas para uns e para outros, consoante a cor; balcões distintos, separados por meio metro, com a legenda ignóbil «Colored». Durante algum tempo, o Supremo Tribunal aceitou a doutrina separate but equal, considerando que ela garantia o respeito pelo princípio constitucional da igualdade. Depois, percebeu que isso acabava por ser ainda mais ultrajante do que a segregação pura e dura. As fotografias foram descobertas em 2012 e irão ser exibidas. Pertenciam ao espólio do fotógrafo negro Gordon Parks, que morreu de cancro em 2006, aos 93 anos de idade. Nos anos cinquenta, seguiu a vida de três famílias em Mobile, no Alabama, no Sul profundo. Os Thorntons, os Causeys e os Tanners, três famílias. Mais tarde fotografou gente mais famosa – Malcolm X, Barbara Streisand, Muhammad Ali –, sendo o primeiro fotógrafo negro a trabalhar para a Vogue. Fez filmes e escreveu, foi repórter da Life durante duas décadas. Deixou-nos este testemunho, só há pouco descoberto. Tudo o mais que se diga será inútil ou desastrado. Falem as imagens, que dizem muito.















 

1 comentário:

  1. Os preconceitos que habitam os miolos de certas pessoas é que as fazem ver e imaginar coisas.
    Conheço pessoas que se afirmam anti-racistas e que antes de verem outras pessoas vêem pretos, indianos ou ciganos.
    As histórias que se deduzem das fotos são mais reveladoras do que vai na cabeça do intérprete do que as inócuas fotos.

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