À porta, o chefe Martins, da 11ª Esquadra, acompanhado pelo estilista francês Dwight D. Eisenhower
À Rua da
Misericórdia, em Lisboa, o Restaurante Tavares (Rico) é casa bem centenária.
Por ela passou muita História e até alguma petite
histoire, dizendo-se que Ramalho utilizava os reservados do piso de
cima para fins pouco confessáveis. Fazendo jus aos seus pergaminhos seculares,
o Restaurante Tavares ilustra o seu passado ilustríssimo através de predicados
d’antanho. Como se pode ver na página do Tavares na Internet, é possível o
cliente reservar no aristocrático Salão Nobre a sempre disputada Mesa Hermógenes dos Reis. Basta ligar para o
213421112 e pedir com bons modos: «Oi, sou Tchizé, secretária pessoal do general Lobito, e queria
reservar a Hermógenes dos Reis aí por volta das 13 horas, 13 e meia da tarde»
Há também as gémeas M&M: a Mesa Mariza, «uma diva da música do mundo» e a Mesa Madonna,
«considerada a rainha da música pop». Os mais másculos poderão optar pela Mesa
Hemingway, que «foi um escritor norte-americano», ou a Mesa Cary Grant, «actor estadunidense nascido em Inglaterra». Para conciliábulos discretos sobre o tormentoso futuro da res publica, aconselha-se a Mesa Sá Carneiro,
«que foi um político português».
A tábua mais
avantajada, com capacidade para 6 a 8 pessoas, chama-se Mesa Rei Abdullah II.
Aqui o site do Tavares estica-se um
bocadito, ousando aventurar-se nos complexos meandros da geopolítica
internacional. Assegura que Abdullah II se trata do «actual rei da Jordânia» e
que «é a favor da paz com Israel e tem intenções de tornar a Jordânia democrática». Se assim o diz o Tavares, podemos então almoçar pacificamente,
ainda que os preços sejam bastante menos democráticos do que as intenções
políticas de Abdullah para o seu reino.
O site
do Tavares é uma delícia. Mais saboroso, por certo, do que o que servem no
prato. Falando em gozar o prato, há no site
do Tavares coisas boas e em abundância, numa cornucópia de fartura que compensa
a magreza do repasto. Além de uns errozitos de ortografia, apreciámos saber que
o general Eisenhower foi – atenção – um «famoso estilista francês. Conhecido pelo seu estilo irreverente». A Mesa Eisenhower dá para 2 a 4 pessoas, ou seja,
para um casalito ou dois que saibam degustar a irreverência francesa daquele feérico
costureiro parisiense que gostava de se fazer passar por Presidente dos EUA (o
que sucedeu entre 1953 e 1961, até ser apanhado na Casa Branca com um tailleur de tarar, griffe Jean
Paul Gaultier).
Teatro de Operações, assinalando-se a Mesa Eisenhower
Prosseguindo na ementa, autêntica carta
de marear dessa «viagem inolvidável pelos sabores portugueses contemporâneos», estampamo-nos logo a seguir no
«camarão à Guilho», sem dúvida um sabor português – e, claro, contemporâneo.
Mas no Tavares, no histórico Tavares
Rico, o melhor de tudo é a opulência majestosa do Cozido à Portuguesa, «one portuguese tradicional meat stew that you can taste in the 5 courses menu» (repare-se no «portuguese tradicional», muito Zezé Camarinha). Bem sabemos que esta interpretação
minimalista e microbiótica do cozido lusitano aparece no menu degustação, ou
seja, à laia de pórtico, antes de entrarmos nas coisas sérias. De todo o modo,
veja-se o que o Restaurante Tavares, o centenário Tavares, considera ser um
Cozido à Portuguesa em versão de fusão. Modelo 2.0, tonalidade sushi:
Lamentável exemplo da desconstrução que a culinária vem sofrendo. O que haverá de "chefs" a revolverem-se nas suas tumbas..., quanto aos vivos, “é sorrir e acenar” e nunca ceder. Mais um "post" magnificamente hilário-acutilante. Cada vez mais o meu blog favorito.
Meus Senhores: caem os estados nações, caem as gastronomias autóctones em prol do neo-liberalismo selvagem. Produzem num lado do planeta, obrigando o outro a consumir em prol de uma formatação e mundialização da cultura em todas as vertentes, onde só se visa o control e a ganância. Claro que iremos morrer de cancro cada vez mais.
Isto chama-se cuspir nos clientes e insultar a gastronomia tradicional portuguesa que se tem revelado um cartaz turístico importante para quem nos visita."Nouvelle cuisine" é um conceito que nada tem a ver com a nossa forma de estar à mesa. Servir assim e por aqueles preços chama-se ROUBAR.
A Europa caiu num novo-riquismo gastronómico que está a destruir a verdadeira gastronomia, componente essencial de uma verdadeira cultura. Este ex-polícia metido a "chef" não é mais do que um "revelador" do imenso caricato de todo um mundo de espertalhões que se limitam a replicar as habilidades da dupla de alfaiates do conto infantil de "O Rei vai nu"
LOL "À porta, o chefe Martins, da 11ª esquadra"
ResponderEliminarE esse cozido. Quem diz que são os pobres quem passa fome está bastante desfasado da realidade.
De ser o primeiro eliminado no Top Chef, às panelas do Tavares, foi um saltinho...
ResponderEliminarhttp://degustar.blogs.sapo.pt/1796.html
Paulo Coelho ou Gato Fedorento?
ResponderEliminarO que é camarão à »Guilho«?
ResponderEliminarhttp://womenageatrois.blogs.sapo.pt/37260.html
Eliminaro resto do cozido , está num paraíso fiscal
EliminarGuilho é o aportuguesamento saloio da palavra castelhana ajillo, que significa alho.
EliminarLamentável exemplo da desconstrução que a culinária vem sofrendo. O que haverá de "chefs" a revolverem-se nas suas tumbas..., quanto aos vivos, “é sorrir e acenar” e nunca ceder. Mais um "post" magnificamente hilário-acutilante. Cada vez mais o meu blog favorito.
ResponderEliminarSenhor Malomi, como dizer? E os pittas que andam por aí, não têm mesa? Sei lá, agora de repente veio-me o Pitta à mona.
ResponderEliminarMeus Senhores: caem os estados nações, caem as gastronomias autóctones em prol do neo-liberalismo selvagem. Produzem num lado do planeta, obrigando o outro a consumir em prol de uma formatação e mundialização da cultura em todas as vertentes, onde só se visa o control e a ganância. Claro que iremos morrer de cancro cada vez mais.
ResponderEliminarEscumalha social incapaz de viver fora das feiras de vaidades. Coitados! Metem dó! Tenham pena...
ResponderEliminarIsto chama-se cuspir nos clientes e insultar a gastronomia tradicional portuguesa que se tem revelado um cartaz turístico importante para quem nos visita."Nouvelle cuisine" é um conceito que nada tem a ver com a nossa forma de estar à mesa. Servir assim e por aqueles preços chama-se ROUBAR.
ResponderEliminarVou partilhar o link para aqui pois a foto do FB não o trazia...Não fazia ideia de quem servia este "cozido à portuguesa" versão dieta triste!;)
ResponderEliminarA Europa caiu num novo-riquismo gastronómico que está a destruir a verdadeira gastronomia, componente essencial de uma verdadeira cultura. Este ex-polícia metido a "chef" não é mais do que um "revelador" do imenso caricato de todo um mundo de espertalhões que se limitam a replicar as habilidades da dupla de alfaiates do conto infantil de "O Rei vai nu"
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