Aqui há uns
dias, passou-se uma história engraçada, lá longe. Quase nos antípodas. E,
atenção, não é para gozar, a coisa é séria e bonita. Houve um incêndio grande
na Austrália, ardeu-me muito eucalipto. Além de danos no eucaliptal, houve
ferimentos em coalas. Graves. Vai daí, uma organização benemérita, o International Fund for Animal Welfare
(IFAW), lançou uma campanha internacional para fazerem meias para os coalas
cujas patas haviam sido terrivelmente queimadas. Chegaram peúgas de toda a
parte, da China aos Estados Unidos, do Reino Unido ao Cazaquistão.
Desconhece-se se Portugal participou na acção, mas por cá o amor aos bichos
ainda não é levado a sério (veja-se as condições inacreditáveis em que se
encontram os animais abandonados em Lisboa…).
A IFAW chegou a aprovar um modelo de
protecção, em algodão, para as patas dos coalas. A afluência de meias foi tal que os senhores da IFAW apelaram com estridência para que parasse tanta benemerência. Enquanto isso, outra associação benemérita, a Australian Marine Wildlife Research and
Rescue Organization (AMWRRO), dizia que as meias não protegiam nada os
coalas. Como trunfo, a AMWRRO foi a primeira a mostrar um coala em franca
recuperação. Jeremy, um jovem macho, está em convalescença profunda.
Parece
existir alguma compita ente a IFAW e a AMWRRO a ver quem é mais amigo dos coalas,
que é um bicho simpático de que toda a gente gosta. Mas o certo é que, por uma
via ou outra, os coalas magoados estão todos muito melhor de saúde. Parecerá
caricato e ridículo falar de coalas feridos quando há bem pouco houve terroristas
a matar jornalistas e anda tudo muito violento por esse mundo fora. Até nos
antípodas. Mas, se virmos bem, quem anda mal e violento é o bicho-homem. Os outros animais
lá vão levando as suas vidas – se os deixarem em paz e sossego. É uma
felicidade ver quando o bicho-homem se preocupa com os seus semelhantes, mesmo
quando estes têm pêlo, e patas queimadas a precisar de ajuda. Isto também é ser Charlie Hebdo.
Obrigada por existir.
ResponderEliminarObrigado pelas suas palavras, tão simpáticas. Todavia, declino qualquer responsabilidade pelo facto de existir. Tudo o resto assumo. Bom ou mau, é meu. Mas existir é a única coisa pela qual não tive a mínima responsabilidade - como sucede, aliás, com todos nós. Desculpe-me, sei que foi força de expressão sua, mas a sua expressão teve tanta força em mim que me senti obrigado a prestar-lhe este singelo esclarecimento.
ResponderEliminarCordialmente,
António Araújo