sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Vidas singulares: Dèlegue.

 
 
 
 

 
 
Não consegui encontrar nenhuma imagem dele. Nem sequer uma biografia de jeito. Sei apenas o que li num livro que é um assombro, The Killer of Little Shepherds, de Douglas Starr. A história de um tenebroso homicida em série e do papel que as ciências forenses, com Lacassagne à cabeça, tiveram na sua captura. A dado passo da sua cativante narrativa (e isto é dizer pouco), Starr conta a história da morgue flutuante de Lyon, um gigantesco edifício amarrado nas margens do Ródano. Acumulavam-se aí centenas de cadáveres, poucos se atreviam a chegar perto daquele navio fantasma, pejado de mortos. Apenas um homem não se importava de lá dormir, servindo de guarda. Delègue, um ancião de barbas veneráveis, bondosíssimo, tinha dotes especiais, que espantavam os cientistas e os médicos, para determinar a causa da morte, quantos dias tinham os corpos passado imersos no rio (eram frequentes as mortes no Ródano), etc, etc. Um dia, em 1910, subitamente, a corrente arrastou para longe a morgue de Lyon. Delégue, o seu cão e três cadáveres foram levados pelas águas. Na manhã seguinte, encontraram o ancião bondoso perdido numa das margens do rio. Aquele homem, que nunca se impressionara com nada, que pernoitava na companhia dos cadáveres, chorou como uma madalena quando lhe disseram que o seu cão morrera afogado. 


 






 

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