terça-feira, 11 de setembro de 2018

Vidas singulares: Mabel Stark.

 
 



Mabel Stark, a mulher dos tigres. Nascida Mary Hayne (Kentucky, 1889), começou em jovem a trabalhar como enfermeira mas não passou muito até estar no circo, como bailarina exótica, seguindo-se os cavalos de raça e depois os tigres. E assim continuou até ao fim dos seus dias. Ou quase. Tornou-se domadora de feras. De tigres, acima de tudo. «A vida sem tigres não vale a pena», dizia. Mabel amava-os como a nenhum outro ser, como vamos ver. Há quem diga que essa felina paixão – e o amor ao risco que ela envolvia – nascera de um complexo autodestrutivo causado pela morte prematura dos seus pais, era Mary/Mabel ainda criança muito tenra. No circo, chegava a enjaular-se com dezoito tigres em simultâneo. Por três vezes na vida foi atacada com ferocidade, muita ferocidade mesmo. Arrancaram-lhe os tigres pedaços de carne, rasgaram-lhe a pele, deixaram-na às portas da morte. Sempre lhes perdoou – é assim, o amor. Há quem diga, vozes maldosas, que Mabel teve inclusivamente, mas não exclusivamente, relações sexuais consumadas e reiteradas com o poderoso Rajah, um tigre enorme. Verdade, verdade, é que Mabel e Rajah faziam um número circense arriscadíssimo, a peça de resistência que mais sensação despertava nas plateias em transe; o tigre agarrava-a por trás e derrubava-a ao chão como se a quisesse devorar. No final, sem que os espectadores notassem (ou talvez notassem), o tigre imenso ejaculava sobre a domadora. Mabel teve até de mudar a indumentária das suas actuações, deixando de usar couro negro, onde era mais visível o sémen do felino, e passando a envergar trajes brancos, reluzentes, onde se topava menos o produto do entusiasmo carnal do abusador Rajah. Com brincadeiras destas, é claro, não admira que Mabel nunca tenha tido filhos na vida. Para piorar a situação conjugal (Mabel teve vários maridos, um dos quais passava por mulher…), a domadora tinha por hábito deixar que os tigres dormissem na sua cama, o que não contribuiu decerto para a harmonia de um matrimónio. Depois de uma vida entre feras, nos mais famosos circos da época, Barnum e tudo, a carreira de Mabel entrou em declínio: aquela que outrora fora uma estrela – chegou até a fazer de dupla de Mae West em I’m no angel –, a senhora-domadora arrastou-se por circos de segunda até ir trabalhar para Jungleland, um centro de treino e adestramento de animais ferozes. Em 1968, para seu grande desgosto, mataram-lhe a tiros uma fêmea felina que muito amava, a Goldie, e Mabel acabou despedida da Jungleland. Devastada, ingeriu uma quantidade enorme de barbitúricos – e morreu.
 
 
 
 
 
 
 
 

 

1 comentário:

  1. Queridos amigos leitores,

    convidamos-vos a ler o capítulo 9 do nosso conto escrito a várias mãos "Janelas de Tempo"
    http://contospartilhados.blogspot.com/2018/09/janelas-de-tempo-capitulo-9.html

    Com votos de continuação de boa semana,
    saudações literárias!

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