Mabel Stark, a mulher dos tigres. Nascida Mary Hayne (Kentucky, 1889), começou em
jovem a trabalhar como enfermeira mas não passou muito até estar no circo, como
bailarina exótica, seguindo-se os cavalos de raça e depois os tigres. E assim
continuou até ao fim dos seus dias. Ou quase. Tornou-se domadora de feras. De
tigres, acima de tudo. «A vida sem tigres não vale a pena», dizia. Mabel amava-os
como a nenhum outro ser, como vamos ver. Há quem diga que essa felina paixão –
e o amor ao risco que ela envolvia – nascera de um complexo autodestrutivo
causado pela morte prematura dos seus pais, era Mary/Mabel ainda criança muito tenra.
No circo, chegava a enjaular-se com dezoito tigres em simultâneo. Por três
vezes na vida foi atacada com ferocidade, muita ferocidade mesmo.
Arrancaram-lhe os tigres pedaços de carne, rasgaram-lhe a pele, deixaram-na às
portas da morte. Sempre lhes perdoou – é assim, o amor. Há quem diga, vozes
maldosas, que Mabel teve inclusivamente, mas não exclusivamente, relações
sexuais consumadas e reiteradas com o poderoso Rajah, um tigre enorme. Verdade,
verdade, é que Mabel e Rajah faziam um número circense arriscadíssimo, a peça
de resistência que mais sensação despertava nas plateias em transe; o tigre
agarrava-a por trás e derrubava-a ao chão como se a quisesse devorar. No final,
sem que os espectadores notassem (ou talvez notassem), o tigre imenso ejaculava
sobre a domadora. Mabel teve até de mudar a indumentária das suas actuações,
deixando de usar couro negro, onde era mais visível o sémen do felino, e
passando a envergar trajes brancos, reluzentes, onde se topava menos o produto
do entusiasmo carnal do abusador Rajah. Com brincadeiras destas, é claro, não
admira que Mabel nunca tenha tido filhos na vida. Para piorar a situação
conjugal (Mabel teve vários maridos, um dos quais passava por mulher…), a
domadora tinha por hábito deixar que os tigres dormissem na sua cama, o que não
contribuiu decerto para a harmonia de um matrimónio. Depois de uma vida entre
feras, nos mais famosos circos da época, Barnum e tudo, a carreira de Mabel
entrou em declínio: aquela que outrora fora uma estrela – chegou até a fazer de
dupla de Mae West em I’m no angel –, a
senhora-domadora arrastou-se por circos de segunda até ir trabalhar para
Jungleland, um centro de treino e adestramento de animais ferozes. Em 1968,
para seu grande desgosto, mataram-lhe a tiros uma fêmea felina que muito amava,
a Goldie, e Mabel acabou despedida da Jungleland. Devastada, ingeriu uma
quantidade enorme de barbitúricos – e morreu.
Queridos amigos leitores,
ResponderEliminarconvidamos-vos a ler o capítulo 9 do nosso conto escrito a várias mãos "Janelas de Tempo"
http://contospartilhados.blogspot.com/2018/09/janelas-de-tempo-capitulo-9.html
Com votos de continuação de boa semana,
saudações literárias!