sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Miguel Galvão Teles (1939-2015).

 
 
 
 
Fotografia de António Araújo
 


 
Acabo de saber da morte de Miguel Galvão Teles, il miglior fabbro. A inteligência mais fulgurante que conheci na vida, um dos homens mais dignos que Portugal tinha. Ainda a semana passada, por um estranho acaso daqueles que o destino nos traz, estive a rever uma nota biográfica que sobre ele escrevi para um dicionário do 25 de Abril. Estava ali a sua vida pública, toda, em algumas dezenas de linhas, com o que de mais importante fez  – e foi muito. Mas o essencial do que era nunca caberá numa entrada de dicionário. Um espírito livre e aberto, um exemplo de tolerância, capaz de falar com todos, mesmo sendo melhor do que todos. O melhor, em tudo: na inteligência e na humildade, na simpatia imensa e na discrição dos grandes. Daquelas pessoas, infelizmente raras, que não necessitam de provar nada a ninguém ou demonstrar a terceiros o que quer que seja. Basta-lhes serem o que são. E assim foi Miguel Galvão Teles, il miglior fabbro.
 
António Araújo
 
 
 

 

9 comentários:

  1. Muito obrigado, já corrigi

    Cordialmente,

    António Araújo

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  2. José Manuel Marques Ribeiro Varatojo24 de janeiro de 2015 às 01:10

    Sobre o seu texto relativo a MGT n'O Observador, tenho o seguinte a dizer (não o faço em sede própria porque não estou registado no sítio daquele jornal), em resposta a este excerto, que passo a citar:

    "[...] algo que seria impensável na esmagadora maioria dos alunos de Direito dos nossos dias, ansiosos por “fazer a cadeira” à base de fotocópias ou textos extraídos da Internet. [...]"


    i) Trata-se de uma generalização e o Autor falou sem conhecimento de causa ou com uma amostra muito deficitária;

    ii) No presente clima pós-Bolonha, não é possível ler ou tratar de Hart, Barre, Ricardo, Smith, Marx e por aí fora como há mais de cinquenta anos, isto é, com o vagar necessário, pelo menos naquilo a que hoje apresentam como "licenciaturas" - obviamente com aspas. Três exames escritos por semana quando no tempo de MGT só havia um; manuais de vários tomos totalizando milhares de páginas para apenas um semestre, multiplicando por dez cadeiras por ano; avaliação contínua deficiente e excesso de carga lectiva que não deixam aos alunos grande margem para um aprofundamento de conhecimentos teóricos, salvo em matéria de orais de melhoria e mesmo aí há problemas de falta de tempo;

    iii) Eu próprio aventurei-me pela doutrina juspenalista de referência, como Beccaria, Roxin e Jakobs, para acabar com um bonito 6 e a minha excelentíssima assistente a contrariar, nas aulas práticas, as recomendações de leitura do regente da cadeira. Valeu a pena ir mais longe? Não. O apontamento das aulas prevaleceu;

    iv) Tudo isto na Faculdade de Direito de Lisboa nos nossos dias, assaz diferente da de MGT;

    v) Milagres são para quem acredita neles e ser o melhor aluno raramente é sinal de que se é um vulto. O mundo do Direito é pródigo em alunos de 10 a terem mais sucesso na barra do que os de 13/14 para cima. Paz à alma de Miguel Galvão Teles, mas em ano de centenário do nascimento de Manuel João da Palma Carlos, parece-me que este era Advogado com maiúscula, ao passo que MGT preferiu, nos últimos vinte anos, um caminho demasiado fácil pelas grandes sociedades de advogados.

    Relembro, aqui, o pai de MGT, o grande Mestre Inocêncio Galvão Telles, tão esquecido nas bibliografias das cadeiras na actual FDL - basta consultar o sítio da própria faculdade.
    Este blog e seus Autores são, para mim, referências em matéria de rigor intelectual; com esta generalização grosseira começo a ter algumas dúvidas. Parece-me, contudo, um caso de incompreensão entre gerações.


    Cumprimentos,

    J. Varatojo

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  3. José Manuel Marques Ribeiro Varatojo24 de janeiro de 2015 às 01:17

    Adenda: quem diz Hart, diz Larenz, Kelsen ou, já que andam tão na moda, os cultores da análise económica do Direito, como os Calabrese desta vida.
    Salvo uma citação ou conceito adoptado num manual, não há, pura e simplesmente, tempo para o actual aluno de "licenciatura" em Direito absorver toda esta doutrina em condições.
    E, graças às deficiências do sistema de avaliação contínua, o caminho está já enviesado de modo a que o aluno não se "perca" demasiado, arregimentando-o e, em certos casos, punindo a ousadia, como foi no caso que relatei "supra".

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    1. A J. Varatojo:

      Já percebi que é um estudante de Direito desiludido com os efeitos de estudar literatura jurídica de qualidade, mas se um dia, no intervalo das suas surfadelas internéticas, tiver umas horas, leia isto (se conseguir): http://www.almedina.net/catalog/product_info.php?products_id=20171.

      Lembre-se também da idade do Autor quando o escreveu. Leia depois uma biografia (muito) resumida de entre as várias recentemente publicadas, para tentar apreender, ainda que levemente, o percurso de vida do Dr. Miguel Galvão Teles.

      Cá o esperarei para pedir desculpas pelas enormidades que escreveu e repor a verdade.

      Um dia, se tiver coragem da sair da faculdade e (conseguir) passar pelo "caminho demasiado fácil pelas grandes sociedades de advogados", lembre-se também deste post.

      Eduardo Paulino

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Caro José Manuel Varatojo,

    Não conheci Palma Carlos. Por isso, nada digo sobre ele.

    V. Exa. não conheceu Miguel Galvão Teles. Por isso, talvez fosse mais ajuízado atentar às considerações que faz sobre o mesmo.

    Assim não fez. Optou, na verdade, por disparar sem cuidado e, em consequência disparatar. Com efeito, depois de ler e reler o que escreveu, só posso concluir isto mesmo: o seu texto é um disparate, uma "tontería" (como dizem os castelhanos).

    Chega ao ponto de, por soberba ou ignorância, desvalorizar o nível intelectual de Miguel Galvão Teles. A isso respondo: leia MGT! Já leu? Leia outra vez, porque da primeira vez não leu bem. Isabel de Magalhães Collaço, sobre MGT, dizia tratar-se "do melhor jurista desde João das Regras". Jorge Miranda, na homenagem que recebeu por ocasião da jubilação afirmou que a mesma devia, outrossim, fazer-se a Miguel Galvão Teles por se tratar "do melhor da sua geração". Marcelo Rebelo de Sousa afirmou há dias que Miguel Galvão Teles era um jurista "ao nível de Gomes da Silva ou Magalhães Collaço".

    Nada disto chega? A obra, o reconhecimento inter-pares? Talvez. Apresente-me melhor! Eu cá, Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, frequentador assíduo de conferências de Direito Público e Privado, leitor actualizado de doutrina portuguesa, digo-lhe que não conheci outrem com o brilho de MGT. Aliás, duvido que venha a conhecer.

    Quanto às grandes sociedades de advogados, ilustre senhor, desconheço as considerações que faz. Posso-lhe apenas dizer que a grande sociedade de advogados de Miguel Galvão Teles é grande graças à grandeza dos que a fundaram, como Miguel Galvão Teles. Não o inverso.

    Perante as trivialidades aqui ditas sobre a morte de MGT, termino com a afirmação de Ramalho Eanes: "Quem poderá matar a tua imortalidade, Miguel Galvão Teles?".

    Gonçalo Carrilho

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  6. Ó Varatojo, para malta do teu calibre, o "bonito 6" peca mas é por defeito. Que coisa mais vilzinha e ignorante.

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  7. Defeito do avaliado e excesso da avaliação, bem entendido.

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