Agora
que se acabou o Campeonato do Mundo, palavra para Eduard Stretlsov (1937-1990). O nome é
lendário e dispensa muita conversa: o maior futebolista russo de todos os tempos.
Chamavam-lhe o «Pelé russo» mas, estranhamente, nunca jogou um Mundial pela
União Soviética. A sua carreira foi interrompida por uma acusação de violação,
que tudo indicia ter sido forjada pelo KGB. Por causa disso, Stretlsov foi
condenado a doze anos – doze anos – nos campos de trabalho do Gulag. Porquê?
Porque, com o seu cabelo comprido e o seu ar de Teddy Boy, dava nas vistas em
excesso para os austeros costumes soviéticos. Por causa disso, nada mais. Doze
anos na Sibéria. Mal chegado ao campo prisional, Eduard foi atacado por outro
prisioneiro, violentamente, passou quatro meses num hospital. Passou-se tudo
isto, note-se, já depois de Estaline ter morrido, em plena era Krutschev. Quando
voltou do inferno, cumpridos cinco anos de pena, ainda jogou pelo Torpedo, o
seu clube da vida inteira, o clube favorito do KGB, mas os seus tempos de ouro
tinham passado. Morreu em 1990, de cancro. Depois de morto, a mulher que
disseram que tinha violado foi vista a deixar flores na sua campa, talvez a
prova mais concludente da sua inocência. Deram o seu nome ao Estádio do Torpedo
de Moscovo, homenagem tardia a quem nunca fizeram justiça em vida. Uma história
soviética, enfim, obviamente triste.
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