Acabado de sair, já com uma notícia no
SOL, aqui, e uma recensão muito positiva no EXPRESSO, Desaparecer na Escuridão é, para quem goste de policiais e
sobretudo de true crime, um livro de
leitura compulsiva. Não se consegue parar enquanto não se assassinam as mais de
trezentas páginas em que se contam os horrores de um violador e homicida em
série que assolou a Califórnia nas décadas de 1970 e 1980. Talvez as partes
mais interessantes do livro sejam aquelas em que a autora, com um pormenor
milimétrico, descreve os bairros de classe média e média-alta onde o predador
atacava as suas presas, o quotidiano destas, os seus percursos de vida,
conformistas ou atribulados. Num certo sentido – e perdoe-se a observação óbvia
e banal –, a autora foi a derradeira vítima do Golden State Killer. A obsessão
em apanhá-lo destruiu-lhe a vida: Michelle McNamara morreu devido a uma
overdose de tranquilizantes, dos calmantes que tomava para aplacar a ansiedade
tremenda suscitada por uma busca insana e insone que, tragicamente, não chegou a
concluir com sucesso. Agora, que localizaram o presumível criminoso (por favor,
só leia isto ou isto depois de ler o livro), e por mais que as autoridades digam que o
livro de Michelle nada contribuiu para isso, o certo é que o seu blogue e os
seus escritos mantiveram acesa a paixão por descobrir o assassino-violador em
série. Por outro lado, McNamara tem a intuição certeira do potencial
extraordinário do cruzamento entre o ADN e as bases de dados genealógicas, um
método de investigação que levanta dúvidas éticas, sem dúvida, mas que produz
resultados espantosos – como agora se viu. Estamos já muito longe dos métodos
do profilers que vimos em O Silêncio dos Inocentes, a propósito do
qual foi agora publicado um livro lido há anos, Mindhunter – e cuja edição actual, entre
nós, peca por tardia, servindo apenas para acompanhar a série da Netflix com o mesmo nome ou como documento histórico sobre o modo
como num passado não muito distante o FBI caçava, ou não, os serial killers.
Não são técnicas de há muitos anos e nem se encontram sequer inteiramente
ultrapassadas – mas, com as novas metodologias, tudo parece de um passado
distante e escuro. Recomenda-se muitíssimo Desaparecer
na Escuridão. Não tem, de modo algum, a densidade de O Meu Quarto Escuro, nem Michelle McNamara é James Ellroy. Em todo
o caso, uma grande leitura de férias, enquanto aguardamos o desfecho do caso do
Golden State Killer, capturado há um par de meses.
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