Estou
a ler um livro fascinante sobre os viajantes estrangeiros no Terceiro Reich.
Interessantíssimo. Percebe-se ali, de uma forma muito precisa e exacta, a
ascensão de Hitler ao poder – e o modo como alguma complacência das elites
anglo-saxónicas ajudou à tragédia. Nem todas eram favoráveis ao nazismo, longe
disso. Mas muitas partilhavam o seu anti-semitismo; outras, apesar de críticas,
não deixavam de enaltecer a «ordem» que o Führer trouxera a uma Alemanha
dilacerada pelo Tratado de Versalhes e pela hiperinflação. Só poucos, muito
poucos, se aperceberam do que estava em causa e em curso.
Receio
que, com as devidas e grandes distâncias, estas «viagens» pela Coreia do Norte
tornem o regime de Pyongyang mais palatável aos olhos do Ocidente. Não vemos
mortos nem fome, apenas cidadãos bem nutridos em figuras patéticas, quando
muito, mas nada de ofensivo ou cruel. Não é por acaso que a Coreia do Norte
permite estas viagens, como aquela que são feitas, imagine-se, pela empresa Pinto
Lopes, com José Luís Peixoto por cicerone (ver aqui). Parece a Thomas Cook na Alemanha
hitleriana. Uma coisa destas devia ser motivo de escândalo: imagine-se que
havia uma agência de viagens que organizava excursões à Alemanha nazi, pagando
ao Reich em dólares, ou agora euros, ou noutra moeda forte. Contribuindo, no
fundo, para a perpetuação de um sistema que, além de um perigo nuclear para a
Humanidade inteira, deixa morrer à fome milhões de norte-coreanos. Milhões,
leram bem. Pois é aí que se faz turismo, enchendo os cofres da dinastia Kim.
No
caso em apreço, o fotógrafo Carl De Keyzer fez quatro viagens à Coreia do Norte
entre 2015 e 2017. Passou lá 60 dias. A fotografar à vontade, livremente?
Duvida-se. Duvida-se mesmo. Em resultado dessas viagens, surgiu um livro,
claro. (ver aqui)
O
leitor que aprecie e veja; pense e medite, conclua se isto é bem feito ou não.
Por mim, tenho as maiores dúvidas, mas não certezas absolutas a favor ou
contra.
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