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Jorge Almeida Fernandes, sempre amigo, mandou-me uma versão muito completa da história de Paul Tibbets (já agora, ver aqui), um piloto da Força Aérea dos Estados Unidos que tinha
uma mãe chamada Enola Gay e que comandou um avião que tinha o nome da sua mãe.
Após o lançamento da bomba de Hiroshima, Tibbets passou o resto dos seus dias
perseguido pela explosão atómica, sendo ostracizado pelo que fez. Muitos viram
nele a suprema encarnação do mal e da desumanidade, alguém capaz de largar uma
bomba mortífera sobre 300 mil pessoas. Tibbets tinha na altura 29 anos. E todos
os membros do Enola Gay levavam consigo cápsulas de cianeto – e a ordem de se
suicidarem se acaso fossem apanhados. Ninguém, absolutamente ninguém, podia
saber da natureza daquela missão. Aos 29 anos – insistimos: aos 29 anos – Paul Tibbets Jr. tinha
ordens expressas para matar todos os seus camaradas que recusassem suicidar-se.
Se a isto juntarmos o comando do Enola Gay, não é fácil perceber que raramente
um fardo moral tão pesado esteve aos ombros de um homem só. Um homem que já
combatera os nazis, em 1942 e em 1943, e que já combatera os japoneses, em 1944-45. Um homem só. Basta isso para que
Tibbets mereça o nosso respeito, mesmo para os que achem que não é credor da nossa
admiração. Paul Tibbets morreu em Columbus, Ohio, aos 92 anos. Entrevistado poucos anos de morrer, e
respondendo pela enésima vez à pergunta
sobre se sentia remorosos pelo que fez, disse:
“I had no problem with it. I knew we did the right thing. I thought, Yes,
we’re going to kill a lot of people, but by God we’re going to save a lot of
lives. We won’t have to invade Japan”. Muitos dizem que era uma forma de autodefesa
como qualquer outra, que no mais íntimo de si Paul Tibbets Jr. carregou até ao
fim dos seus dias a culpa pelas mortes de Hiroshima e Nagasáqui. Nunca o
saberemos. De certo sabemos apenas que, com menos de trinta anos, aquele homem
foi chamado a cumprir uma missão que o marcaria para todo o sempre. Trágico
destino, o seu.
Não consigo sentir empatia...
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