Falou-se
há dias de Paul Tibbets, o comandante do Enola Gay. Agora é tempo de dar voz a
Michihiko Hachiya, um médico japonês que nasceu em 1913 e morreu em 1980. Não é
por isso que o lembramos, obviamente, mas pelo facto de Hachiya ter deixado um
diário. Um diário que relata todos os momentos que se seguiram ao eclodir da
bomba. O dr. Hachiya era o director do único hospital que resistiu à explosão
atómica. Registou tudo, dia a dia, hora a hora, de 6 de Agosto de 1945 até 30
de Setembro desse mesmo ano, o dia em que as tropas americanas chegaram a Hiroshima.
Por ali também andou Pedro Arrupe, o padre jesuíta que mais tarde seria Geral
da Companhia. O que foi a jornada em Hiroshima de Arrupe é-nos contado na sua
biografia, um livro espantoso de Pedro Miguel Llamet. Quanto ao dr. Hachiya, que
sobreviveu com graves queimaduras mas logo se apressou a ajudar os seus compatriotas,
o mais assombroso é que nunca pensou publicar o seu escrito, um escrito que
(traduzo a partir da edição italiana) começa assim:
6 de Agosto 1945 – As primeiras
horas de um dia tranquilo e quente. As folhas das árvores agitavam-se, reflectindo
a luz do sol, que resplandecia num céu claro…
Por
insistência dos amigos, Hachiya publicaria o diário nas páginas de uma revista
médica japonesa, de circulação restrita. Foi um médico americano, Warner Wells,
que se apercebeu do extraordinário valor documental daquele texto. Na altura,
Wells estava no Japão a trabalhar como consultor da Atomic Bomb Casuakty
Commission. Os habitantes de Hiroshima chamaram à bomba Pikadon: pika significa
clarão; don é o ruído de uma
explosão.
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