terça-feira, 4 de junho de 2019

Enigma.


 
 
 
         A primeira edição portuguesa deste livro surgiu, pasme-se, em 1975, o ano em que tudo era possível, até publicar um livro sobre transexualidade e uma operação de mudança de sexo ocorrida em Casablanca. Mas esta é uma nova e cuidada edição, com cuidada tradução de Paulo Faria. A Tinta-da-china tem trazido Jan Morris ao conhecimento dos portugueses, e ainda há dias se recomendou aqui Manhattan ’45. É do melhor que existe em literatura de viagens, e este Enigma também é, num certo sentido, um livro de viagens, ou de uma viagem, um livro que nos leva a um país que ainda temos por bizarro e estranho. Quase cinquenta anos depois de ser publicado, o relato autobiográfico de Jan Morris, e o que ela nos conta sobre a provação de ter nascido num corpo masculino, continua a merecer ser lido, até porque Morris não adopta o registo revoltado e agreste muito típico neste tipo de depoimentos. Podemos pensar o que quisermos sobre a transexualidade, mas, como em tudo na vida, convém ler e estudar antes de opinar; neste caso, ler um testemunho na primeira pessoa do que significa ser transexual. Não necessariamente para extrair daí opiniões políticas ou conclusões genéricas, para tomar partido a favor ou contra. Nada disso. Aqui o que importa é ler apenas, sem preconceitos nem ideias feitas, num sentido ou noutro. Ler e sobretudo ouvir o que nos diz Jan Morris, sobre o que significa ser como é, e ter nascido e crescido de outra maneira, em permanente e atormentada dúvida.
 

 
 

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