segunda-feira, 18 de maio de 2020

Quietude júnior (2).







Leves e breves, para crianças tranquilas. Catálogo Primavera-Outono.

Atenção, crianças! O catálogo de hoje não substitui o catálogo de pais, para o caso de quererem trocar um ou dois dos vossos. Podem trocar por um, dois, cinco ou trinta, sem número fixo. Os que vos calharam saíram pesados, pegajosos, peludos, picantes e implicantes já antes da conjuntura? Já eram sisudos, maçadores, decapantes e arreliantes? Continuam a não vos ouvir, a arrumar-vos o quarto, a andar por cima dos brinquedos e a não vos deixar ajavardar à mesa? Não stressem mais do que é preciso. É escolher qualquer modelo neste sortido de pais, inventariado pelo essencial Claude Ponti, bastando preencher a referência no cupão de encomenda.

Podem também guarnecer o artigo da vossa escolha com acessórios, como i) o patodeapoio equipado com rodinhas, voz de ranger de portas, 30 tipos de riso e grito silente de recusa-responder; ou ii) o sinistreiro, que engole ideias negras, horrivilifientas, catastrofóficas e caidentro; ou ainda iii) a lanterneta, que ilumina os cantos sombrios, atrás de espelhos e fundos de armário, convertível em levantador de moral parental, com adaptador internacional e três intensidades. No campo ou na cidade, é indispensável o melão de jardim, que se alimenta de dor de cabeça e dor mental em geral.

Quanto à música embalante do dia, hoje é a vez do catálogo de modelos que despreocupam e aligeiram ambientes densos. Passeios descontraídos antes ou depois do jantar, balanços sossegados e flutuantes, sem ponta de melancolia. Também dispõem à sesta. Duas amostras da coleção Primavera-Outono:  

1) Dolly, a Berceuse que Gabriel Fauré compôs para a sua filha, Dolly de seu nome, pelas irmãs Labèque.

2) Berceuse des Soirs d'Automne, de Reynaldo Hahn, por Huseyin Sermet e Kun Woo Paik.





Manuela Ivone Cunha







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