Fonte: http://www.sansiro.net/?page_id=186
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Esta
crónica é dedicada ao meu marido Duarte.
Na semana em que teve lugar a primeira mão dos
quartos-de-final da Liga dos Campões dei por mim a pensar nos grandes ausentes.
Os colossos que nem para a Liga Europa se qualificaram: Manchester United e
Milan. Destes dois gigantes do futebol europeu e mundial é a equipa de
Manchester que parece mais lançada no regresso às competições europeias. Depois
de alguns meses complicados Louis van Gaal conseguiu mudar a atitude dos seus
jogadores após uma época desastrosa e está finalmente a transformá-los à sua
imagem. O treinador holandês dispensa apresentações e é um dos generais do
futebol. Apesar da derrota com o Chelsea no passado sábado o Man United está
claramente uma equipa diferente como se viu no derby da cidade. Frente aos Citizens
a equipa liderada por Wayne Rooney foi uma justíssima vencedora.
Fonte: http://www.goal.com/en-us/news/7179/galleries/2015/04/12/10706322/live-gallery-the-manchester-derby-as-it-happened/ander-herrera-louis-van-gaal-manchester-united-manchester/56 |
Para além de uma excelente exibição colectiva gostaria de
destacar Marouane Fellaini com quem finalmente os adeptos parecem ter feito as
pazes e, em especial, Ander Herrera cuja maturidade e entrega incondicional me
impressiona muito. Van Gaal sempre foi um treinador com ideias muito claras e
para quem o «nome» ou o «pedigree» não é o factor determinante nas suas escolhas
de jogadores. E essa característica é importante numa equipa que precisa de se
renovar e pensar no futuro.
Caminho diferente tem percorrido a equipa italiana do
Milan. O derby com os seus
arqui-rivais este fim-de-semana foi disso um bom exemplo apesar de casa cheia,
ou seja, quase 80 000 espectadores. Se é certo
que as duas equipas jogaram com vontade de ganhar senti a falta dos grandes,
grandes jogadores. Não deixa de ser curioso que um dos craques do passado
glorioso e imperial do futebol italiano, Roberto Mancini (e aquela Sampdoria de 1990-91!) seja o treinador do Inter. A diferença
entre as duas equipas de Milão e a Juventus é … enorme. Basta olharmos para a
classificação: a Juventus lidera com quinze pontos de avanço em relação à Lazio
e à Roma e o Milan e o Inter surgem em nono e décimo lugar. E mesmo em relação
às equipas romanas há um longo caminho a percorrer para os clubes de Milão.
Como foi possível chegar aqui? Lembro-me tão bem das
grandes equipas de Milão e da sua rivalidade e imensa qualidade. Já aqui falei
muito daquela equipa perfeita de Arrigo Sacchi que foi campeã europeia duas
vezes seguidas. Para além de jogadores fabulosos o seu trio de estrangeiros, ou
melhor dizendo holandeses, era fora de série.
E ao trio holandês o Inter respondia com o … trio alemão.
Fonte: https://europafootball.wordpress.com/2011/03/27/derby-della-madonnina-a-historia/ |
A enorme rivalidade entre os dois clubes de Milão está
relacionada com a sua origem. O Milan é o mais antigo
tendo sido fundado em 1899 com o nome de Milan
Cricket & Football Club. Formalmente, as suas origens inglesas passaram
a «italianas» na década de quarenta quando adoptou o nome de Associazione Calcio Milan. Ainda assim
ficou Milan. O Internazionale Milano
Football Club, mais conhecido como Inter, foi fundado em 1908 por «dissidentes» do Milan. A razão da discórdia entre os dois grupos é
aliás muito actual e explica a importância da palavra «internacional»: os dissidentes queriam abrir as portas a estrangeiros
e não ter apenas jogadores italianos.
Para nós portugueses é impensável que dois rivais de uma cidade
partilhem o mesmo estádio mas é isso
que acontece com as equipas de Milão. O estádio de San Siro foi
financiado pelo Presidente do Milan, Piero Pirelli, e inaugurado em 1926. Em
1935 seria vendido à Câmara de Milão em 1935 e passaria a ser também casa do
Inter em meados dos anos quarenta. Outro exemplo de cooperação está relacionado
com o nome do estádio. Em 1980 passou a ter o nome de Giuseppe Meazza, o grande «artista»
italiano, duas vezes campeão do mundo em 1934 e 1938, e herói do Inter (embora também tenha jogado pelo Milan duas épocas).
Ainda assim os ultras do Inter quando
jogam em casa referem-se ao estádio como Giuseppe Meazza e no caso do Milan … é
o San Siro.
Voltando ao Milan de hoje a grande pergunta que se coloca
é a seguinte: qual é a sua estratégia? Sem dúvida que desde os anos gloriosos de
Sacchi tivemos o Milan de Capello ou de Ancelotti (ou o Inter de Mancini ou de Mourinho)
mas o que mais impressiona hoje em dia é o desnorte de um grande clube. A esta
falta de rumo (ou também por causa dela?) juntam-se as notícias de que o Milan
poderá ser vendido por Berlusconi a um investidor tailandês, Bee Thaechaubol.
Se assim for segue o caminho trilhado pelo seu arqui-rival em 2013. Neste ano
um grupo liderado pelo empresário indonésio Erick Thohir comprou 70% do Inter
de Milão.
Será o novo dono capaz de inverter o rumo desastroso do
Milan? Há muito que as opções de Berlusconi e do seu braço-direito, Adriano
Galliani, são questionadas e em particular as transferências e as contratações.
Há muitos exemplos mas diria que o «turning-point» foi a opção de mandar embora
Andrea Pirlo. Os detalhes desta decisão são … de uma frieza extraordinária.
Pirlo conta na sua autobiografia como se sentiu ao fim de tantos anos de dedicação e amor
à camisola. Como bem sabemos ficou a ganhar a minha Juve e Andrea Pirlo tem sido crucial na conquista de três
campeonatos consecutivos (e um quarto a caminho).
Um dos símbolos do Milan (e um dos meus ídolos) Paolo
Maldini pôs há muito o dedo na ferida em declarações a um jornal italiano, La Repubblica, em 2012: «eu
posso destruir este mito de que sou um membro da família do Milan (…) não me
querem lá.» É bem conhecida a oposição de Galliani a um dos poucos homens que
lhe pode fazer sombra já que, apesar da saída de Maldini não ter sido bem
recebida pelos Ultras do Milan, há poucos heróis como Paolo.
Este é um jogador que se estreou na equipa principal em
1985 aos 16 anos e abandonou os relvados em 2009. Tal como o seu pai Cesare (e
talvez um dia o seu filho Christian) pertence ao Olimpo do Milan. Paolo Maldini
nunca conheceu outro clube e foi campeão europeu cinco vezes, sim cinco vezes:
1989, 1990, 1994, 2003 e 2007. E foi o seu capitão desde 1997 quando outro
imortal e ídolo, Franco Baresi, deixou o futebol activo. E até os adeptos do
Inter no último derby prestaram
homenagem a Paolo Maldini.
É justamente Paolo Maldini que Bee Thaechaubol quer para
director desportivo. Seria ouro sobre azul para um homem que sabe melhor do que
ninguém o que é o coração rossoneri e
a necessidade de pensar nas gerações mais novas incutindo-lhes o amor pela
camisola. Como disse recentemente numa entrevista à Gazetta TV: «falta atenção aos verdadeiros valores do
Milan». Mais ainda, «uma das fontes de força para um clube como o Milan é a
tradição.»
Fonte: http://www.gazzetta.it/Foto-Gallery/Calcio/Serie-A/Milan/20-01-2015/tutto-maldini-esordio-5-champions-100554326167.shtml
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Quando Paolo Maldini se retirou do futebol foram
proferidos muitos elogios. Para mim, as palavras mais certeiras e comoventes
foram as do capitão do Barcelona Carles Puyol que lhe escreveu uma carta em 2009. Carles Puyol foi capaz de captar a essência
deste colosso do futebol mundial: um exemplo de atleta que se foi adaptando ao
passar do tempo sem nunca perder a qualidade e que defendia sempre de forma
«limpa» e em antecipação. Maldini nunca precisou de agressividade para ser o
patrão da defesa, do Milan e da squadra
azzurra. Puyol disse-o de forma clara: «O futebol não será o mesmo sem
Maldini». Pois não. O Milan que o diga.
Raquel Vaz-Pinto
Excelente crónica, a exemplo aliás de todas as anteriores!
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