É pouco conhecida a
passagem do pintor Henri Toulouse-Lautrec (1864-1901) por Lisboa.
Mas a actual exposição
consagrada ao pintor que decorre no Grand Palais em Paris permite desvendar
pelo menos as circunstâncias que rodearam essa passagem.
Em Agosto de 1895, o
célebre pintor embarca no porto do Havre no navio de carga e de passageiros Le Chili. O destino era Bordéus, seu
local habitual de férias, o que mostra que, tal como em Portugal, neste final
do século XIX, era usual a viagem marítima entre cidades costeiras. Depois de
Bordéus o navio aportaria a Lisboa e a Dakar. Fazia parte da linha de África.
Acompanhava-o um amigo,
Maurice Guibert (1856-1913), fotógrafo.
Na viagem para Bordéus,
Toulouse-Lautrec sucumbe ao charme de uma passageira que vislumbra na ponte do
navio. O seu biógrafo Gustave Coquiot escreve que Toulouse contempla-a, exalta-se. É sem dúvida a mulher de um funcionário
colonial francês que se junta ao marido em Saint-Louis. E decide: partimos para
África!
Ficou tão fascinado pela
sua beleza que não desembarca em Bordéus e só a muito custo Maurice consegue
convencê-lo a desembarcar em Lisboa.
Do regresso, apenas se
sabe que passou por Toledo e Madrid onde se apaixonou pelas obras de Greco e
Velásquez.
A passageira do 54,
número da cabine da misteriosa senhora, viria a inspirar um dos seus cartazes
mais famosos, apresentado num concurso de cartazes no Salon des Cent.
Neste cartaz, Toulouse
retrata a passageira sentada numa cadeira de bordo, no deck do navio, um
cobertor cobrindo os seus joelhos. Tem um livro abandonado que marca com os
dedos da mão direita e lê os seus próprios pensamentos num horizonte longínquo.
É um dos poucos
afloramentos românticos da sua obra. A passageira do 54 representava o amor
romântico de que Toulouse se sentia excluído.
Fotografia de 6 de
Novembro de 2019
José Liberato
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