sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

As afinidades electivas.

 
 
 
Kai Frober, na fronteira, na década de 1970

Kai Frober, 2015


O «Cinto Verde»
 
Gunther Berwing (à direita), em 1983

Gunter Berwing e Kai Friobel, 2015




As comemorações do aniversário da queda do Muro de Berlim deram azo a muita coisa. A Taschen arrasou a paróquia com um calhamaço sobre a República Democrática que, do ponto de vista iconográfico, não tem rival. Num registo completamente diferente, em que a imagem pouco interessa ante a riqueza da história, Maxim Leo reconstituiu as biografias atribuladas dos seus pais e avós no apaixonante Red Love. The Story of an East German Family. 
 
          Mas a história mais fascinante de todas, aquela que mais me tocou, encontra-se aqui, à distância de um clique. Foi-me trazida pelo João Gama – e é por essas e outras que beijo o chão que ele pisa. Vamos à história, mas em linhas muito gerais. Entre aquilo que outrora dividia as Alemanhas existia uma vasta terra-de-ninguém. A ausência de presença humana fez florescer a natureza no «Cinto Verde», um corredor arborizado de quilómetros e quilómetros. Por vezes, o campo era atravessado por fugitivos de Leste, sendo território perigoso e minado. Nada disso dissuadiu um jovem alemão ocidental de entrar lá, para ver os pássaros. Do lado de lá da fronteira, outro rapaz faria o mesmo. Kai Frobel e Gunter Berwing acabariam por se conhecer, comungando da mesma paixão pela terra e seus bichos. A história mete a malvada da Stasi e peripécias várias. Mas acaba bem, com a reunificação de um povo e a reintrodução de um bicho, o lince. Dava um livro, um filme; dava o que quiserem. Por agora, leiam-na, que bem merece.
 
António Araújo
 
 
 


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