Sempre considerei o
Manuel um dos homens mais inteligentes, perspicazes e cultos que conheci.
Aprendi mais com ele do que com a maior parte dos meus colegas, portugueses ou
estrangeiros. Há dias, reli a Autobiografia de G. K. Chesterton. Foi então que notei algumas semelhanças entre este
católico inglês e o Manuel. Não falo da mais óbvia, a excentricidade,
mas de uma outra, a distracção. Eis apenas um exemplo do que poderia ter
acontecido ao Manuel.
G. K. Chesterton decidira
proferir uma conferência algures no norte de Inglaterra. A meio da viagem notou
que se esquecera do local onde era suposto ir, pelo que, na primeira estação,
saiu, a fim de mandar à mulher o seguinte telegrama: «Estou em Market
Harborough. Onde deveria estar?» O seu espírito era ocupado por coisas por ele tidas
como mais importantes do que prazos, datas e compromissos.
Ainda há pouco, tendo
combinado almoçar com ele, pediu-me para lhe ligar meia hora antes, não fosse esquecer-se
do encontro. Assim fiz. O telefone tocou, tocou, tocou, mas ninguém atendeu. No
dia seguinte, explicou-me que tinha perdido «o telefone fixo». Pensei que
estava a brincar. Em parte, a culpa era minha, uma vez que julgava que este
tipo de telefones estava ligado à parede por um fio. Acabámos por não almoçar:
eu adoeci e ele perdeu o meu número de telefone.
Maria Filomena Mónica
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