sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Espalhar quietude.

 
 

Fotografia de António Araújo



 
Há uns anos, intrigado e agastado com o frenesim “fazedor” de um certo governante, e achando que essa agitação permanente não era sadia nem aproveitava a ninguém, o escritor Yann Martel criou uma listopia aí com uma meia centena de livros e empreendeu enviar um de 15 em 15 dias à irrequieta personagem. 
 
Os livros, selecionou-os não tanto pelo valor literário, mas sim por “expandirem quietude”. Daí que na lista tanto conste o Read All About It! de Laura Bush, como as Meditações de Marco Aurélio e A Sonata Kreutzer, de Tolstoi (olha, Tolstoi a escrever sobre Beethoven? Ignorante a dobrar, fui ver à net e fiquei banzada com o que li. E agora que li, já não posso desler).
 
Perguntou-se Martel:
"Who is this man? What makes him tick? No doubt he is busy. No doubt he is deluded by that busyness. No doubt [o cargo] fills his entire consideration and froths his sense of busied importance to the very brim. But he must have moments of stillness. And so this is what I propose to do: not to educate—that would be arrogant, less than that—, to make suggestions to his stillness”.
 
Imbuída do mesmo espírito, e porque diz que até ler à pressa faz mal às pessoas e à sociedade, é minha intenção vir aqui de vez em quando falar à quietude de cada um e de cada uma, mesmo que seja aquela que nos dispõe a dançar – ou vice-versa.
 
Não sendo, ainda assim, uma lírica e conservando o sentido das realidades, não ponho aqui nada que leve mais de 5 minutos a ouvir (em média, digamos; ao fim-de-semana não digo que não me passe uns 3-4 minutos dos limites: sejamos loucos).
 
Ora, 5 minutos é capaz de ser menos do que nos tomam alguns dos magníficos textos do Malomil. Hei-de inspecionar com um cronómetro, levando já em linha de conta que haverá quem leia à pressa – no que faz mal (ver supra). 
Uns auscultadores à mão ajuda à quietude, tanto mais que o fio prende os leitores-ouvintes ao computador, caso não sejam wifi (os auscultadores, não os leitores – ainda, creio).
 
Prometo coisas elevadas e culturais. Fica uma amostra.
 
Pobre Boccherini, as minhas desculpas. Agora é que é: a sério
 
Até ao Carnaval
 
Manuela Ivone Cunha
 
 
 
 
 

Sem comentários:

Enviar um comentário