domingo, 26 de abril de 2020

Os tempos da pneumónica.







Os tempos da pneumónica: medo, morte, religião




[extracto do livro Sons de Sinos. Estado e Igreja no advento do salazarismo, 2009]





 Os  números dos surtos epidémicos de 1918-19 são impressionantes: enquanto no período 1910-15 a taxa de mortalidade se situava em 20,3‰, em 1918 ascende a 42,1‰. A mais letal das doenças foi a gripe pneumónica, a maior epidemia isolada na História da Humanidade, que, transmitida por um vírus especialmente mortífero, o H1N1[1], matou, segundo algumas estimativas, 21 milhões de pessoas[2], havendo quem fale em números que vão dos 20 aos 50 milhões de vítimas[3], muito mais do que a Grande Guerra[4] (e, de resto, do que qualquer outro conflito armado da História[5]) ou que o grande surto gripal de 1889-1891, que se estendeu por todo o globo, com uma mortalidade muito elevada, que oscilou entre 40 e 70% da população[6]. Estima-se a ocorrência de 1 milhão de mortes na América Central e do Norte, 300.000 na América Latina, 2,2 milhões na Europa, 15,8 milhões na Ásia, 1 milhão na Oceânia e 1 milhão e 400 mil mortes em África[7]. A gripe de 1918-19 foi, tão-só, o maior desastre demográfico do século XX[8].  
Em Portugal, os seus efeitos, numa perspectiva diacrónica, podem ser avaliados através de um dado assaz revelador: inverteu-se a tendência para um declínio crescente da mortalidade que se verificava desde 1890 e, por volta de 1920, verificou-se «uma recrudescência do número de óbitos, devidos à gripe pneumónica/espanhola que se instalou e que afectou particularmente a mortalidade entre 1918 e 1919, acompanhada sinergicamente de uma epidemia de varíola e de tifo exantemático»[9]. A gripe de 1918 foi, escreve Fernando da Silva Correia, «a epidemia mais mortífera da nossa história»[10]. As suas consequências demográficas são assaz ilustrativas: a gripe pneumónica foi o factor que produziu mais mortes em Portugal no século XX e foi responsável por uma inversão relativa das taxas de mortalidade e natalidade, única no período compreendido entre 1886 e 1993.
Comparando a Guerra e a pandemia gripal, o Inspector de Higiene dos Hospitais Civis de Lisboa diria que «foi esta última tão intensa, tão terrível e tão grandemente perturbadora dos espíritos que conseguiu sobrepujar ao próprio conflito que então ainda assolava o mundo»[11]. O confronto bélico – e as deslocações de milhares de pessoas por ele provocados – foi um dos grandes agentes de disseminação da doença; um exemplo expressivo: quando a gripe começa a produzir efeitos, encontravam-se na Europa um milhão de soldados americanos, dos quais um em cada quinze seria vitimado pela Spanish Lady (ainda que a Royal Academy of Medicine tenha sustentado, na altura, a origem hispânica da doença, parece que essa ideia não tem qualquer fundamento[12]).
 Para se perceber a dimensão global da doença – um médico diria que ela «assolou com toda a ferocidade o universo inteiro»[13] – pode referir-se que dos 3.000 esquimós que viviam na costa do Labrador 2.000 morreriam da gripe. Nas reservas de índios dos Estados Unidos – um país onde morreram cerca de 550.000 pessoas[14] –, a taxa de mortalidade atingiria 7,5%, taxa muito superior aos 2% da restante população norte-americana. Em Inglaterra e no País de Gales fala-se em 200.000 mortes. Na África do Sul, a taxa de mortalidade por gripe entre os negros foi quatro vezes superior à dos brancos. Nesse país, 20% da população de Kimberley morreu. Um quarto da população da Samoa pereceu em virtude da gripe, tendo os líderes políticos, enraivecidos contra a administração neozelandesa, chegado a pedir formalmente ao rei Jorge V que a Samoa fosse anexada como colónia britânica[15]. Em vários pontos do globo – Estados Unidos, Canadá, Nova Zelândia, Escandinávia – as minorias étnicas apresentaram níveis de mortalidade significativamente mais elevados do que os da generalidade da população. Na Noruega, os lapões, ao contrário de outros grupos étnicos (os Kven, imigrantes de origem finlandesa), foram literalmente dizimados pela gripe, atribuindo-se a causa deste fenómeno a uma ausência congénita de defesas imunitárias por parte dos membros daquela comunidade[16]. Os australianos e neozelandeses do ANZAC levaram a epidemia para as suas terras e só na Austrália, nos antípodas do foco da doença, seriam feitas 12.000 vítimas. Em Espanha, calcula-se que morreram 250.000 pessoas no espaço de um ano[17]. Em Barcelona, a gripe vitimava 1.200 pessoas diariamente. No Brasil, 528.295 habitantes de São Paulo seriam contaminados e 5.000 acabariam por morrer[18]; no Rio de Janeiro, só num dia – 22 de Outubro de 1918 – faleceriam 930 pessoas vitimadas pela gripe, calculando-se que o índice global de mortalidade cresceu na então capital federal quase 2.000%[19]. A Índia seria o país mais afectado, com 6 milhões de mortos, havendo mesmo quem fale em 12,5 milhões de vítimas[20] e até em 20 milhões, o que equivaleria a uma taxa de 160‰. Entre os países mais castigados, além da Índia, destacam-se Madagáscar, África do Sul, Nova Zelândia[21], Guatemala e México, com taxas de mortalidade que oscilam entre 22 a 35‰. A China, curiosamente, que alguns dizem ter sido a fonte da pandemia, registou uma baixa taxa de mortalidade (1%), consideravelmente inferior à de países como o Japão ou a Indonésia[22].




Há quem diga que esta epidemia «de proporções bíblicas» terá custado a vida entre 20 a 40 milhões de seres humanos, segundo as estimativas mais conservadoras, chegando alguns a situar o número de mortos em 100 milhões[23]. A sua contagiosidade era impressionante, como o demonstram as estatísticas: 90% do pessoal do 168º Regimento de Infantaria e dos marinheiros que se encontravam na base norte-americana de Dunquerque estava infectado, em maior ou menor grau, pela pneumónica[24]. Outros dados são igualmente impressionantes: a 11 de Setembro de 1918, as autoridades sanitárias de Washington confidenciavam à imprensa o receio de estar iminente um novo surto de gripe; no dia seguinte, 96.000 homens, nos Estados Unidos, alistavam-se; no dia 20 do mesmo mês, estavam declarados 9.313 casos de gripe entre as tropas; no dia 23 – em apenas três dias, note-se – tal número tinha subido para mais de 20.000 casos; a 28 de Setembro, eram já 31.000 os infectados[25].
Nos Estados Unidos, por falta de pessoal, as lojas e os teatros iam fechando a um ritmo impressionante, à medida que a doença infectava cerca de 25% da população. Certos pormenores são reveladores do impacto que a gripe espanhola teve nos espíritos desse tempo: num jogo de beisebol realizado em Nova Iorque, todos os espectadores, bem como os próprios jogadores, usavam máscaras de gaze para evitarem o contágio; em Tucson, no Arizona, foi aprovado um regulamento que impunha a todos os cidadãos o uso de uma máscara que cobrisse a boca e o nariz; o embarque de um contingente de 140.000 soldados com destino à Europa foi cancelado após se ter verificado o elevado número de homens afectados pela doença; Filadélfia foi especialmente castigada pela epidemia – em parte devido à incúria das autoridades, no espaço de um mês cerca de 11.000 habitantes daquela cidade tinham perecido[26]; o serviço que preparava os cadáveres para serem enterrados pura e simplesmente entrou em colapso[27]. A companhia telefónica de Filadélfia esteve prestes a encerrar por falta de empregados. Os patrões tiveram, por isso, de ser mais tolerantes: no Rio de Janeiro, os bancos fechavam os olhos ao consumo de cachaça durante as horas de serviço por parte dos raros funcionários que se mantinham no activo – o que, apesar disso, não evitou que muitas agências bancárias brasileiras e neozelandesas acabassem por fechar as portas, à semelhança do que sucedeu com instituições oficiais como o Parlamento da Nova Zelândia, onde trinta e quatro deputados tinham adoecido. 
A par das mortes, os efeitos económicos foram devastadores: as minas de cobre do Perú tiveram de encerrar, o mesmo sucedendo, no Congo Belga, às da Union Minière, onde foram mortalmente infectados cerca de 500.000 mineiros negros; em muitos lugares, como na Austrália, existiram fenómenos contraditórios – algumas empresas fechavam por falta de pessoal, enquanto muitos ficavam no desemprego porque o trabalho que faziam deixou de ser útil em tempo de crise (em Inglaterra chegou a pensar-se, por exemplo, que os actores e funcionários dos teatros passassem a prestar serviços de apoio médico). Deixaram de circular comboios de Berlim para a Suécia e de Espanha para Portugal, mas a gripe já tinha feito o seu curso através das linhas de caminho-de-ferro[28]. O ramo dos seguros, como é natural, foi dos mais afectados: empresas seguradoras da Suíça e da Alemanha pura e simplesmente cessaram pagamentos; em apenas três semanas, a Prudential Insurance Company, de Newark, teve de pagar a astronómica quantia de um milhão de dólares[29]. O Presidente da Associação de Actuários dos Estados Unidos calculou que, apenas nesse país, as mortes iriam corresponder a uma perda económica da ordem dos dez milhões de anos[30]. Numa escala certamente mais reduzida, mas não menos dramática, à Câmara dos Deputados de Portugal seria enviada uma representação da comissão administrativa de Sesimbra alertando para a gravíssima situação financeira aí vivida, à qual não eram alheias as «despesas extraordinárias causadas pelas terríveis epidemias que têm grassado neste concelho (gripe pneumónica, varíola e tifo exantemático)»[31].  
O uso de máscaras correu mundo: desde os polícias de Washington aos vendedores de jornais de Manitoba, passando pelos caixas dos bancos australianos, muitos foram obrigados a tapar o rosto. Ao chegarem a uma estação de caminho-de-ferro na Geórgia, nos Estados Unidos, 1.500 recrutas negros entraram em pânico, julgando que iam ser linchados: viram, afinal, que os que os recebiam na plataforma, com máscaras brancas, não eram membros do temível Ku Klux Klan, mas militares, médicos e seus assistentes[32]. A máscara era um sinal estigmatizante, como o era o facto de estar próximo dos doentes ou dos focos da epidemia. Verificaram-se casos de enfermeiras a quem foi recusada a entrada em estações de correios ou de soldados uniformizados expulsos de lugares públicos. Noutros casos, colocavam-se à janela das casas uma bandeira vermelha ou amarela, assinalando que aí residia uma pessoa infectada; nesses casos, os comerciantes limitavam-se a deixar as provisões na rua, não se atrevendo a entrar nas habitações assoladas pela pandemia. Outros colocavam cartazes às janelas, com os expressivos dizeres «S.O.S.» ou «Comida», enquanto no Paraguai os pedidos de socorro eram assinalados com uma bandeira branca. Em Itália, Mussolini proibiu pura e simplesmente que as pessoas se cumprimentassem com apertos de mão, sob pena de lhes ser aplicada uma pena de prisão – mas tal medida jamais entrou em vigor na prática, sendo apenas concretizada num outro ponto do planeta: a localidade de Prescott, no Arizona[33]. Em muitas cidades norte-americanas, incluindo Nova Iorque, as autoridades locais emitiram regulamentos proibindo os cidadãos de tossir, espirrar ou cuspir, sob a ameaça de pesadas multas ou mesmo de prisão.   



  
Emergiram, como sempre sucede, preconceitos racistas ou xenófobos. Na África do Sul, muitos hospitais recusaram-se a admitir doentes de raça negra, do mesmo passo que em Varsóvia as medidas sanitárias foram aplicadas com especial rigor no ghetto judeu, com o argumento, publicamente afirmado pelas autoridades, de que essa comunidade era «particularmente avessa à ordem e à limpeza». No Canadá, certos jornais noticiaram que a doença não era perigosa, excepto para os que tinham origem asiática; ainda marcados pela memória da guerra dos Boers, muitos afrikaans recusaram-se a ser internados em hospitais militares, acabando por morrer sós em suas casas[34]. Nos Estados Unidos, eclodiram fortes tensões raciais entre brancos e negros, sobretudo na região de St. Louis[35]. Até a tolerante Holanda encerrou as suas fronteiras aos refugiados. Para mais, os imigrantes não conheciam, em muitos casos, a língua do país de acolhimento, os princípios e métodos de actuação da medicina ocidental e, acima de tudo, desconfiavam das autoridades médicas e militares integradas por indivíduos de outras raças e convicções religiosas[36]. Um episódio é bastante esclarecedor: em Nova Iorque, 25 marinheiros chineses, infectados pela doença, foram trazidos do navio que os transportava para o hospital; aqui chegados, viram-se no meio de dezenas de pessoas vestidas de branco, certamente atarefadas e que, para mais, não falavam a sua língua; com medo de ser contagiado, o intérprete fugiu; os chineses recusaram-se até a tirar as roupas, com medo que lhe as roubassem, e não quiseram a comida que lhes deram, com receio que estivesse envenenada; dos 25 internados, 17 acabariam por morrer[37].




          Os profissionais de saúde revelaram, de um modo geral, um espírito de abnegação extraordinário. Muitos trabalhavam dias e noites a fio, ininterruptamente. É sintomático que, em Espanha, o Colégio de Médicos de Madrid tenha reclamado do Governo a atribuição de pensões às famílias dos clínicos mortos no combate à epidemia[38]. Nas páginas do Portugal Médico, eram publicadas listas dos médicos que faleciam contagiados pela gripe[39]. Ao fazer o balanço de 1918, o número de Dezembro do Portugal Médico salientava a dedicação da classe ao combate às epidemias que haviam assolado o país, concluindo que «foi um ano, para quase todos, de trabalho exaustivo»[40]. Um médico que se voluntariou para trabalhar no concelho de Felgueiras recordou mais tarde o «trabalho doido» que aí teve e que lhe «sugava o tempo e a energia»[41]. Na Tasmânia, um médico, infectado pela gripe, assinava na cama as certidões de óbito, já que não podia deslocar-se à morgue para examinar os cadáveres. Em Paris, estimava-se que cada médico, ao longo de uma jornada de trabalho, observava um paciente de três em três minutos[42]. Para fazer face à escassez de pessoal médico, a Universidade de Coimbra antecipou em três semanas o fim das aulas do último ano e mobilizou os quintanistas[43], enquanto na Califórnia o State Board of Medical Examiners num só dia considerou aptos para o exercício da medicina noventa candidatos[44].
Entretanto, os corpos iam-se acumulando, em cenários dantescos, ocupando hospitais inteiros, dos corredores às capelas, passando pelos ginásios e pelas cantinas. Em Filadélfia, depois de um dia em que morreram 528 pessoas, um reverendo católico decidiu percorrer a cidade em busca de cadáveres abandonados: em resultado desta busca, a morgue, que tinha capacidade para 36 corpos, foi ocupada com os restos mortais de 200 pessoas – ao verem a pilha dos mortos, mesmo os mais veteranos e experimentados funcionários da morgue se recusaram a trabalhar naquelas condições. Provocando novas doenças, muitos cadáveres permaneciam por sepultar vários dias (em Atenas, a média era de 5 dias) e, em certos lugares, como sucedeu na Serra Leoa, os clérigos limitavam-se a oficiar os funerais dos mortos da sua religião, deixando ao abandono os que professavam outra crença[45]. Em Rio Maior, Dídio Brazão observou uma singular mudança de hábitos: os funerais eram tão frequentes que os homens deixaram de tirar o chapéu à sua passagem[46]. Em contraste, uma taberneira siciliana, sempre que via passar um funeral erguia o seu copo e, bebendo-o, exclamava ruidosamente: «não me vão apanhar – eu bebo vinho!»[47]. Como à época eram frequentes as filas (para comprar leite ou vegetais com senhas de racionamento), e como os cadáveres se acumulavam à espera de sepultura, o jornal parisiense L’Oeuvre ironizou, afirmando que «depois de termos tido de fazer fila para viver, agora fazemos fila para ser enterrados»[48].    
Os efeitos sobre o moral das populações foram, naturalmente, muito profundos: «a superstição toma o lugar da decência, os serviços públicos colapsam, amigos e até familiares afastam-se uns dos outros e as taxas de mortalidade não páram de crescer em flecha» - escreveu o historiador Alfred Crosby num estudo sobre os efeitos da Spanish flu na América[49]. A gripe, escreve Crosby, foi «um dos mais engenhosos truques de Deus»[50]. Em Belém, no Brasil, um marinheiro que rezava junto à imagem da Senhora da Consolação jurava ter visto a estátua a derramar uma lágrima; o correspondente do Chicago Daily News em Itália, delirando na cama de um hospital militar, julgava que iria ser salvo por ter contemplado há poucos dias um quadro renascentista em que a Virgem, aos pés do Cristo na cruz, tinha as feições da sua mulher; até médicos se deixavam contagiar por crenças estranhas – o clínico de serviço na embaixada britânica em Bangecoque, ao ver as rosas do seu jardim a definhar, afirmou que «algo andava no ar» e que isso iria fatalmente afectar não apenas as flores como os seres humanos; em Montreal, no Canadá, o facto de os céus terem escurecido levou alguns a espalhar a profecia de que uma grave pestilência se aproximava; uma enfermeira na Nova Zelândia asseverava ter visto o sinal da Cruz no firmamento celeste; o inédito aparecimento de corujas em Paranhos da Beira, em Portugal, fez crer às populações que algo de mau estava para vir[51]. Pontualmente, emergia a convicção segundo a qual uma doença tão mortífera não podia ter origem humana: quando o Jardim Zoológico de Regents Park, em Londres, colocou os chimpanzés em celas de vidro para evitar que fossem contaminados pelos visitantes, logo se levantaram vozes dizendo que tal medida era injusta, pois tinham sido os macacos a transmitir a pneumónica aos homens. Em África, a pneumónica fez renascer crenças e movimentos milenaristas[52]. Outros acreditavam em teorias conspirativas, como a que dizia que a doença era uma arma secreta do Kaiser, espalhada ao longo da costa por agentes secretos enviados por submarinos; esta tese omitia, porém, o facto de a «arma secreta» dos exércitos germânicos ter, ao cabo e ao resto, acabado por matar cerca de 225.000 alemães[53]. A associação entre os dois flagelos – a belicosidade germânica e a doença espanhola – impregnou o imaginário colectivo: «Le boche est vaincu, oui. La grippe ne l’est pas», ostentavam cartazes que os parisienses, com uma máscara a tapar o rosto, transportavam pela capital francesa. E alguns periódicos ingleses, como o London Times, insistiram na tese de uma conspiração teutónica em redor da gripe[54].




A gripe, como sempre sucede em epidemias deste genéro, não escolheu classes económicas nem estratos sociais: ninguém estava a salvo do contágio ou, como assinalou William Beveridge, «pessoas de todas as classes socioeconómicas, de reis a vagabundos, sofreram na mesma medida»[55]. Na verdade, várias personalidades eminentes foram infectadas: o Presidente Woodrow Wilson, que quase morreria de gripe em Abril de 1919, e os primeiros-ministros francês e inglês, Georges Clemenceau e David Lloyd George[56], para não falar do general Louis Botha, o primeiro líder do governo da União da África do Sul, o dramaturgo Edmond Rostand, o pretendente ao trono imperial chinês Lu Kuang, o marajá de Jodphur, o célebre actor do cinema mudo Harold Lockwood, o maratonista de natação americano Harry Elionsky, o príncipe Erik da Suécia, o duque italiano Leopoldo Torlonia, o Secretário-Adjunto da Marinha Franklin Delano Roosevelt, o Presidente do Brasil Wenceslau Brás, Walt Disney, Mary Pickford, a rainha Alexandrina da Dinamarca, o sultão-califa Mohammed VI da Tuqruia, o príncipe Yamagata do Japão, o marechal Joffre, o general John Pershing...
Existe um grande consenso sobre os efeitos da epidemia na mentalidade do tempo: certos autores afirmam que a gripe causou uma «tremenda perturbação económica e social»[57], outros falam num cenário de «caos social»[58] e outros ainda, referindo-se especificamente à situação portuguesa, aludem a um ambiente generalizado de pânico[59]. A circunstância de Portugal se encontrar em guerra agudizou a histeria colectiva: «as notícias da epidemia, chegadas a França e África, deixaram aterradas as tropas, ansiosas por saber das famílias»[60]. É exemplar do estado de espírito que atravessava a época que, mesmo em trabalhos académicos, os médicos de então dessem conta, em tom alarmista e grandiloquente, da dimensão da catástrofe. Um trabalho apresentado à Faculdade de Medicina do Porto, dizia, a propósito da gripe, que «foi tal a sua ferocidade e extrema difusibilidade que não houve recanto algum do universo que fosse poupado à sua invasão, que não sofresse seus estragos»[61]. «Nunca, até esta data, pesou sobre a humanidade inteira tamanho flagelo! Jamais epidemia alguma teve em tão elevado grau a voracidade do tempo e do espaço!» - clamava uma dissertação de doutoramento apresentada na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, acrescentando:

«Espalha-se o terror por toda a parte; o trabalho paralisa, reina o desânimo e todos esperam que a vez lhe toque, julgando a cada momento sentir a asa negra adejando em volta de si. As mortes sucedem-se e os sinos, como que impotentes para  anunciarem o número de óbitos, calam-se, emudecem nos campanários, assistindo impassíveis ao desfilar dos cortejos fúnebres que levam os mortos, aos grupos, à última morada, dizendo-lhe entre lágrimas e soluços o derradeiro adeus!
Cessam os espectáculos, fecham-se as casas de ensino, proíbem-se as reuniões, improvisam-se hospitais e enfermarias por toda a parte e a morte, altiva, implacável, como fera indomável, esfaimada, à qual tivessem sido abertas as portas da jaula, paira sobre a humanidade, cobrindo de luto os homens e de cruzes a terra!
Tal é, a largos traços, o quadro que apresenta a sociedade esmagada por tão humilhante castigo»[62].
  
Noutro trabalho académico, assinalava-se que «o espírito do povo foi, como nas velhas epidemias de peste ou de varíola, assaltado de terror, os doentes chegaram a ser abandonados, estabelecimentos comerciais houve que fecharam por falta de empregados, as repartições públicas viram muito reduzido o número dos seus funcionários e as autoridades sanitárias eram censuradas por não poderem, infelizmente, opor um dique às avassaladoras ondas desta gripe epidémica, altissimamente mortífera»[63].
Apesar de ter tido antecedentes nunca apagados no século XIX, a gripe, cuja origem é situada por alguns no Arkansas, nos Estados Unidos da América[64], contrariando a tese que a radicava na China e no Sudeste Asiático[65], teve grandes ligações com a Guerra[66]. Trata-se, aliás, de uma realidade há muito conhecida, bastando relembrar o que a respeito da guerra do Peloponeso escreveu Tucídides. Os defensores da «tese americana» sustentam que os primeiros registos ocorrem logo em Março de 1918 num contigente militar estacionado em Fouston, no Arcansas; aliás, também em Coimbra foi entre os soldados que se detectarem os primeiros sinais da pneumónica[67]. Em contrapartida, os partidários da «tese chinesa» lembram que entre Março e Abril de 1918 cerca de 18.000 coolies chineses vieram para a Europa, destacados da China e da Indochina, com vista a apoiar na rectaguarda o Exército francês[68]. Na Europa, o ponto de partida da epidemia terá sido Brest[69] ou Bordéus (ainda que alguns falassem em São Petersburgo[70]), sendo evidente a sua ligação às movimentações de tropas que então se verificavam. Assim, por exemplo, o Alto Comando Alemão tinha chegado a ponderar o adiamento da grande ofensiva de Julho de 1918 por causa da doença. O próprio general Ludendorff reconheceria, anos mais tarde, que a gripe condicionou o movimento das suas tropas[71]. Os alemães chamavam mesmo à doença a «gripe da Flandres»[72], enquanto a imprensa norte-americana aludia a uma «maldição alemã»[73]. Em contrapartida, durante o ataque germânico na região de Soissons e Reims, o exército francês teve que evacuar, entre os feridos de guerra, cerca de 2.000 doentes de gripe por dia[74]. Por seu turno, o avanço aliado em Meuse-Argonne foi feito com numerosas divisões integradas por milhares de soldados infectados pela doença. No sector americano, eram quase tantos os feridos em combate (93.160) como os militares doentes (68.760)[75] e, no campo francês, 46% dos evacuados no Outono de 1918 foram-no por estarem doentes de gripe[76]. No lado alemão, 189.000 casos de gripe. Ao que parece, a gripe chegaria ao norte da Rússia, em Junho de 1918, emergindo sobretudo na zona de Murmansk, levada por tropas britânicas[77]. Populares heróis de guerra, como o capitão Quigley, aviador canadiano que abateu trinta e quatro aviões alemães, ou Leefe Robinson, outro aviador heróico liberto do cativeiro pelos alemães, seriam vítimas da doença, o mesmo sucedendo a nomes cimeiros da cultura como o poeta Guillaume Appollinaire ou o pintor expressionista Egon Schiele. Devido a um cancelamento do envio de tropas decorrente da pandemia, o escritor F. Scott Fitzgerald veria frustrado o desejo de entrar em combate e narrar a sua experiência de guerra[78]. Dos 300.000 prisioneiros de guerra austríacos internados em campos italianos, 30.000 morreriam de gripe ainda durante o cativeiro – entre os presos encontrava-se Ludwig Wittgenstein, que escaparia à pneumónica. Na Suécia, a ameaça de uma greve geral de inspiração socialista, sob o pretexto de que a guerra era a fonte da epidemia, levou o governo a cancelar todas as manobras militares[79].




O médico Adérito Madeira escreveria lapidarmente que o tifo era um «companheiro inseparável da guerra»[80], sustentando essa afirmação com os antecedentes verificados nas tropas napoleónicas – onde se notaram sinais da doença desde a Rússia a Portugal[81] – nas guerras francesas da Revolução e do Império, na campanha da Crimeia, nas lutas entre liberais e miguelistas. Quanto à gripe, Ricardo Jorge observava que ela era «com a presente fúria contagiante (...) uma das piores pragas que pode cair sobre os exércitos beligerantes»[82]. A proximidade entre a Grande Guerra e a pneumónica é bem ilustrada por um pequeno episódio sucedido em Toronto: no dia da festa organizada pela cidade para celebrar a vitória dos Aliados, o cortejo teve de parar por instantes para deixar passar os funerais de duas vítimas da pneumónica[83]. Aliás, na altura chegou a aventar-se a hipótese de a gripe ser causada pelos gases tóxicos que durante a guerra foram lançados na atmosfera, enquanto outros diziam que os alemães estavam a usar a aspirina Bayer para promover o contágio[84]. A pandemia prolongou-se até ao final do conflito bélico, sendo curioso observar que as próprias delegações à Conferência de Paz de Versalhes foram contagiadas pela gripe, incluindo o Presidente Wilson[85]. Em Espanha, a gripe afectaria o próprio rei e o chefe do Governo, bem como os ministros da Instrução e da Marinha[86].
  Quanto ao tifo, além de ter afectado entre 20 a 30 milhões de pessoas (5 milhões, segundo as estimativas oficiais), disseminou-se, não por acaso, nos campos de concentração da Alemanha e da União Soviética, só sendo debelado quando as tropas americanas trouxeram o DDT em 1943, travando caminho a uma epidemia que começava a grassar na bacia mediterrânica[87]. Pelo menos quanto à gripe, há quem afirme que não pode, contudo, estabelecer-se uma relação directa entre ela e a guerra, porquanto a doença afectou com igual intensidade as debilitadas França e Alemanha e as prósperas e neutrais Suíça ou Suécia[88]. Copenhaga e Estocolmo, cidades alheias ao conflito, foram tão flageladas como Paris ou Berlim[89]. Não houve também, ao contrário do que se supõe frequentemente, qualquer relação entre o clima e o surto gripal, já que este afectou regiões do globo muito diversas, tudo indiciando que a elevada mortalidade registada se deveu à própria natureza do vírus e à sua acção directa – através da pneumonia gripal primária – ou indirecta, ao abrir caminho à invasão bacteriana[90]. 
Em Portugal, a epidemia da gripe desceu do Porto ao Algarve e espalhou-se por todo o País (ainda que com menor intensidade nos Açores e na Madeira), disseminando-se com grande virulência e rapidez nas cidades de Lisboa e do Porto e vitimando sobretudo jovens adultos. Como se escrevia numa dissertação académica apresentada na Faculdade de Medicina do Porto, a gripe escolhera «a sua presa entre os indivíduos novos e robustos»[91], um padrão de vitimização ocorrido em quase todo o mundo[92] e que até hoje permanece inexplicado, ainda que se avance a hipótese de ter sido o excesso de resposta imunitária dos jovens que, paradoxalmente, acabou por lhes ser mais fatal[93]; outros referem que a circunstância de o género masculino estar mais exposto ao contágio – ou seja, o facto de uma parcela significativa de mulheres permanecerem nos lares, aliado a uma imagem de virilidade que compelia os homens, até por necessidade de sustento económico das famílias, a não deixarem de ir trabalhar por causa de uma vulgar gripe – contribuiu de forma decisiva para um padrão de vitimização que incidiu de forma predominante nos indivíduos entre os 20 e os 40 anos[94].    
A gripe portuguesa dizimou seguramente mais de 50.000 pessoas[95], havendo quem avance números superiores: 60.474 mortos[96] ou até 100 mil mortos. E este número tem de ser complementado com outros, ainda mais terríveis: em 1918, o obituário por gripe subiu de uma média anual de 800 mortes para 55.780 e o obituário geral de 125.00 para 248.978 óbitos; o aumento do falecimento por gripe pneumónica (para 55.780) não explica, por si só, o crescimento vertiginoso de 123.000 mortos – este deve-se ao facto de a pandemia gripal se ter feito acompanhar de outras doenças infecciosas, como o tifo exantemático, a varíola, a encefalite epidémica, bronquites, pneumonias lombares[97]. A evolução da taxa de mortalidade é, de resto, muito mais grave em Portugal do que noutros países: entre nós, no quinquénio de 1916-20, atinge-se um valor inaudito de 42,5, muito superior aos de Itália (35,0) ou de Espanha (33,2); comparativamente com esses países, bem como com França, Inglaterra, Bélgica, Alemanha, Suíça e Estados Unidos, Portugal é aquele que regista entre 1916-20 a subida mais acentuada da mortalidade[98]. A mortalidade geral entre nós duplicou, passando de 22 por mil em 1917 para 42 por mil em 1918. Depois de 1918, a taxa de mortalidade geral só em 1921 atinge as cifras anteriores à epidemia[99]. Por sua vez, a taxa de mortalidade por gripe subiu de 18 para 962 por cem mil de 1917 a 1918, isto é, cerca de 53 vezes mais[100]. Em 1918, o crescimento fisiológico (isto é, o excesso dos nascimentos sobre os óbitos) registou, aliás, um valor negativo de 71.819, contra valores positivos dos anos anteriores: 73.547 (1915), 63.801 (1916) e 55.794 (1917)[101]. As estatísticas oficiais apuraram no ano de 1918 55.780 óbitos com a rubrica de gripe e, em 1919, 3.097. A dimensão da epidemia torna-se mais clara se se tiver em conta que, nos oito anos precedentes e subsequentes ao seu aparecimento e extinção, a média anual de óbitos por gripe se situava em 1.528[102]. A par disso, houve um crescimento significativo – a que a pneumónica não foi alheia – de mortes por pneumonia, por outras pneumopatias e por bronquites[103]. Reunindo as estatísticas relativas a essas doenças com uma ponderação moderada dos números relativos às mortes por causa desconhecida, Silva Correia, chega à conclusão de que, directa ou indirectamente, a gripe esteve na origem da «cifra formidável» de 102.750 óbitos[104]. Num cômputo global das mortes provocadas pela gripe de 1918, Silva Correia conclui que esta superou em muito os valores atingidos na «peste grande» de 1569, responsável por cerca de 60.000 falecimentos, «mostrando que a mortalidade pela epidemia de 1918-19 foi quase dupla da maior que registava a história epidemiológica portuguesa»[105]. Curiosamente, estar em combate nas trincheiras da Grande Guerra era uma actividade menos perigosa do que viver em Portugal: os soldados do C.E.P. pouco sofreram com a epidemia gripal, registando-se apenas 37 óbitos.




Ocorreu ainda uma epidemia de varíola, responsável por 4.338 mortes em 1918 e 8.864 em 1919, e uma outra de tifo exantemático, que eclodiu em Espinho nos finais de 1917 e se espalhou às «ilhas» do Porto e depois a todo o Norte, chegando a matar 543 pessoas numa só semana. Diz-se que causou 1.725 mortes em 1917-18[106]. Tendo o piolho como principal agente transmissor – como, de resto, logo se notou na altura[107] –, o tifo exantemático propagou-se rapidamente devido às precárias condições socioeconómicas da população do Porto, mas Ricardo Jorge não hesita em atribuir responsabilidades ao conflito armado internacional, qualificando o tifo como uma «epidemia civil de guerra»[108]. No mesmo sentido, Thiago d’Almeida, da Universidade do Porto, observava que o tifo exantemático era «um dos mais terríveis flagelos das guerras. É a doença da fome, da miséria, da imundície, da aglomeração, e as guerras originam tão óptimas condições de aparecimento e propagação desta e outras epidemias»[109]. Também da gripe pneumónica se disse que poderia haver alguma responsabilidade da guerra na sua eclosão: nunca como até aí o Homem inventara e lançara na atmosfera tantos produtos químicos e biológicos, jamais tantos explosivos foram deflagrados ao mesmo tempo, em ocasião alguma se verificou tamanha movimentação e aglomeração de homens, muitos dos quais cansados, doentes e mal alimentados[110], nunca se amontoaram a céu aberto tantos corpos de indivíduos mortos ou feridos[111].
Ainda assim, não deve esquecer-se que, a par da crise socioeconómica, os hábitos de higiene das populações devem certamente ter contribuído para uma mais rápida difusão da doença[112]. Não por acaso, em 1920 uma epidemia de peste assolou o bairro popular de Alfama, infectando 112 pessoas. Deve igualmente recordar-se, a esse respeito, que num estudo levado a cabo na aldeia de Valas, em Trás-os-Montes, se observou que até recentemente se acreditava que tomar banho ou lavar-se com frequência estragava a pele, enfraquecia e relaxava as pessoas. As mães aconselhavam as filhas a não lavarem os pés nem a cabeça durante a menstruação ou no pós-parto porque «podia subir a menstruação ou o parto à cabeça e morrerem, ficarem paralisadas ou malucas»[113]. Julgava-se que, entre muitas outras doenças, o contacto com a água era causa de pneumonia[114]. Uma aldeã confidenciou que as pessoas raramente lavavam a cabeça, pelo que «criavam muitas lêndeas e o cabelo até parecia rijado com aquelas lêndeas todas. Untava-se o cabelo com azeite, para que caíssem as lêndeas, e as pessoas catavam-se umas às outras»[115]. Havia a crença segundo a qual comer castanhas cruas fazia criar mais piolhos. Por ocasião da epidemia de tifo exantemático do princípio do século XX, um médico que analisou a situação de perto na região de Braga, assinalou precisamente que a falta de higiene foi um elemento decisivo na propagação da doença: «no concelho de Braga é provável que ele [tifo exantemático] se tenha tornado agora endémico, devido ao facto de terem sido sonegados inúmeros casos durante a última epidemia, à pobreza extrema que existe nos bairros mais populosos da cidade e freguesias limítrofes, acrescida da falta de higiene que se nota duma maneira geral em todo o minhoto»[116]. No Porto, o tifo progredira, nas palavras de Ricardo Jorge, «açoitando como é sua predilecção as classes ínfimas, mal alojadas, mal tratadas e mal mantidas»[117]. Os médicos envidaram esforços para impedir que o tifo, declarado no Porto, subisse a Braga: o delegado de saúde estabeleceu um serviço de inspecção na estação do caminho-de-ferro de Braga, foram mandados regressar ao Porto mendigos que de lá tinham vindo a pé e que se tornaram suspeitos, os doentes foram isolados no edíficio do extinto Colégio do Espírito Santo, transformado em hospital. Contudo, uma aparente regressão da epidemia fez abrandar as medidas profiláticas, tendo-se deixado de proceder aos despiolhamentos sistemáticos – num total de 27.000 despiolhamentos, realizados nas feiras, às portas das igrejas e dos quartéis, etc. – ou às desinfestações familiares. Em resultado disso, o tifo reapareceu em força, bastando dizer que apenas na segunda quinzena de Março de 1919, o número de infectados cresceu de 120 para 390, segundo informa o médico João Leitão[118]. Mas mesmo os que cuidavam da sua higiene não estavam imunes ao contágio, como sucedeu a um estudante do ensino superior que, na narrativa daquele médico, «estando em Braga por ocasião da epidemia de tifo exantemático de 1919, tinha o máximo cuidado em assuntos de higiene; contudo no dia... de abril foi a um lupanar onde teve relações sexuais com uma mulher suspeita. Chegado que foi a sua casa, tratou de examinar a roupa e o corpo, pois tinha sentido uma picada. No corpo nada de anormal foi encontrado, porém nas ceroulas foram-lhe encontrados dois piolhos, um dos quais na parte interna do tecido, e ao qual ele atribui a picada. Ficou impressionadíssimo e desinfectou-se com sublimado. Decorre o tempo até que, passados três dias, a mulher com quem ele tinha tido relações fica doente e dá entrada no hospital com o tifo exantemático. O referido estudante, assustadíssimo, corre a um médico para saber o que há-de fazer para se livrar do tifo, respondendo-lhe este ser impossível fazer qualquer coisa em vista de serem já passados três dias»[119]. Não se pense, porém, que esta realidade era um exclusivo das zonas rurais; não por acaso, a partir do início do século há uma preocupação renovada pelas deploráveis condições de higiene da população lisboeta, sobretudo dos pobres e dos indigentes[120]. Tal preocupação veio, porém, a revelar-se insuficiente para fazer face ao avanço das epidemias que fustigavam o mundo.
Além das deficientes condições de higiene, há que contar ainda com a  precariedade da resposta médica. As reformas sanitárias que vinham sendo empreendidas desde 1901 mostraram-se ineficazes na melhoria da saúde da população, que continuou a ser vitimada em especial por doenças infecciosas[121]. O médico Acácio da Silva Ribeiro disse, a propósito da gripe, não haver «obstáculo possível ao seu enorme poder de expansão»[122]. Para mais, a gripe tinha uma singular capacidade de dissimulação: de início, surgia «por formas a tal ponto benignas que ninguém as levava a sério»[123]. Não por acaso, quando apareceu em Salvador da Baía, no Brasil, os jornais apelidaram-na de «a epidemia desconhecida»[124]. Um articulista do Diário da Bahia interrogava-se mesmo: «Será gripe? Influenza espanhola? Ou simples andaço sem graves consequências?»[125]. Nas páginas do Portugal Médico, escrevia-se, em tom animador, no mês de Julho de 1918: «foi relativamente de curta duração a onda gripal que invadiu o país»[126]; optimista, Ricardo Jorge dizia: «a vaga epidémica que nos princípios de Junho rolou de Espanha há que reconhecer que nos tratou com acentuada benignidade»[127]. 
Mas, pouco depois, tudo mudaria. A gripe, subitamente, «deixou cair a máscara e mostrou o seu verdadeiro rosto de caveira», como escreve John Barry[128]. Em Setembro, já o Portugal Médico noticiava «não nos abandonou a epidemia gripal»[129]. A 14 desse mês, a Direcção-Geral de Saúde enviava aos jornais uma nota oficiosa sombria, que começava assim: «a influenza continua a sua invasão, assumindo, com insistência, o carácter pneumónico». E, em Outubro, o Portugal Médico afirmava: «como era de prever, a gripe alastrou por todo o país, não havendo um canto indene, desde o alto Minho ao Algarve»[130]. Numa das mais completas descrições do ambiente gerado pela eclosão da pneumónica em todo o mundo, Richard Collier capta de uma maneira assaz expressiva o sentimento colectivo de perplexidade que, naqueles dias tumultuosos, a gripe suscitou: «mesmo numa época em que o horror estava na ordem do dia, muitos experimentaram uma súbita sensação de temor; algo estava errado – mas ninguém sabia dizer o que era ao certo»[131]. Quando surgiu, de Espanha foram enviadas duas mensagens para a Agência Reuters, em Londres, do seguinte teor: «Uma estranha forma de doença de natureza epidémica apareceu em Madrid», seguida de «A epidemia tem um carácter suave, não tendo sido registadas quaisquer mortes». Se a doença conseguia esconder a natureza, depressa se desvendavam os sinais da sua malignidade – e da extraordinária rapidez do modo como se difundia. Não muito depois, em Maio, na Grande Esquadra do rei Jorge V eram reportados 10.313 casos de gripe, não podendo aquela fazer-se ao mar, ao mesmo tempo que o próprio monarca apresentava sintomas da doença[132].  



Enquanto a doença avançava a uma velocidade vertiginosa, beneficiando da facilidade de transporte aberta pelas linhas ferroviárias[133], os clínicos dividiam-se quanto ao seu diagnóstico, a ponto de já se ter dito que «existiram quase tantas teorias quantos médicos»[134]. Estes, na verdade, só souberam lidar com a doença depois dela ter desaparecido, deixando atrás de si um rasto de morte e devastação[135]. A princípio julgou-se que tudo não passava de uns casos isolados de «peste pneumónica»; depois, atribuiu-se à cólera as mortes em crescendo; outros afirmaram que se trataria de dengue, como sucedeu com os professores Virgílio Machado e Carlos Tavares, tendo este, numa comunicação à Sociedade de Ciências Médicas, chegado a sugerir que a gripe deveria desaparecer dos livros de Patologia[136]. Pires de Lima, da Faculdade de Medicina do Porto, sustentava que a causa das mortes era a febre papatacis, também conhecida por febre da Bósnia, febre estival ou febre dos três dias; tendo defendido com vigor esta tese, em artigos sucessivos que publicou na altura, Pires de Lima acabou por ser ele próprio infectado pelo vírus da gripe. Por sua vez, Carlos Ramalhão, numa comunicação feita à Associação Médica Lusitana, avançou o diagnóstico de febre papatacis, o que logo foi contestado por Geraldino de Brito nas páginas da revista Medicina Contemporânea. Na mesma revista, o médico Nicolau Bettencourt reconhecia as dificuldades que enfrentava: «em relação ao tratamento também não tenho colhido impressões pessoais que valham. No meio hospitalar e numa emergência destas, talvez seja mais difícil (...) apurar dados interessantes»[137]. Os médicos, claramente, não se entendiam quanto ao diagnóstico de uma doença que alastrava de forma imparável. A indefinição era, de resto, assumida pelos próprios, que por esse tempo escreviam que as «discussões sobre diagnóstico aparecem sempre nas grandes epidemias»[138]. Outros citavam, não sem alguma ironia, a frase de um professor alemão segundo a qual «gripe é o diagnóstico que o médico faz quando não sabe o que o doente tem»[139].
A confusão instalada na comunidade médica não foi um exclusivo português. Em muitos pontos do globo, clínicos de renome afirmavam que a doença tinha uma única e singela causa: a malnutrição dos infectados[140]. Em breve, a propagação da epidemia infirmaria essa tese. Em Agosto de 1918, uma segunda e mais violenta vaga gripal eclode em simultâneo em três das principais zonas portuárias do planeta: Freetown, Brest e Boston[141]. Ao perceber-se que existia algo diverso em relação à gripe primaveril, os médicos começaram a explorar hipóteses: disse-se que os infectados tinham estado expostos a gás de cloro, suspeitou-se de cólera asiática entre os que se queixavam de uma «dor ardente acima do diafragma», observou-se que as fortes dores de cabeça dos pacientes poderiam indiciar febre tifóide, notou-se que muitos pacientes apresentavam sintomas de uma estranha conjuntivite aguda, pensou-se que se tratava de uma intoxicação de origem alimentar[142], entre muitas outras explicações desencontradas, imaginosas, mas pouco eficazes. Estudos recentes sustentam que, paradoxalmente, foi a violência da resposta do sistema imunitário, combinada com a violência da infecção, que tornou a gripe mais virulenta e letal[143]. Quanto ao tratamento, exaltavam-se as virtudes do ar puro, injectavam-se os doentes com cafeína e adrenalina, enquanto outros aconselhavam a aspirina... Os médicos britânicos prescreviam álcool, ópio, quinino, aspirina, cânfora, eucalipto, côco, àgua salgada, tabaco, sabonete[144]. Mas talvez a opinião mais certeira haja sido a de um reputado médico inglês, Sir Arthur Newsholme: não havia nada a fazer e, como tal, ele nada fez aos seus pacientes[145]. Não admira que, em Outubro de 1918, um editorial do The New York Times dissesse: «Science has failed to guard us»[146]. O melhor remédio, na verdade, talvez fosse o preconizado pelas enfermeiras norte-americanas: comida quente, lençóis quentes, ar puro e muito «TLC» (tender loving care)[147]. Não obstante, ocorriam episódios que impressionavam os profissionais de saúde, como o de um jovem médico do Rio de Janeiro a quem um trauseunte, logo após pedir uma informação sobre o destino de um autocarro, cairia no chão, fulminado pela gripe[148]. Um caso particularmente grave foi o das mulheres grávidas: com a interrupção do ciclo menstrual, não podiam ter esperança numa hemorragia que libertasse as toxinas do seu corpo. Sucederam-se os abortos espontâneos e os partos prematuros, com taxas de mortalidade que, segundo um obstreta de Nova Iorque, chegaram a atingir a devastadora cifra de 70%. Do mesmo passo, muitos ficavam órfãos de pai e mãe: cerca de 2.000 crianças na Cidade do Cabo perderam os pais, por exemplo, enquanto os jornais de Estocolmo publicavam anúncios solicitando que algumas famílias tomassem a seu cargo os cerca de 500 menores que nessa cidade ficaram sós. 
Ainda que tenham permanecido as divergências sobre o seu agente causador[149]  - havendo, de resto, igualmente dúvidas no diagnóstico[150] e, bem assim, quanto ao exacto papel dos piolhos na transmissão do tifo que grassou na época[151] -, a conclusão de que se estava em presença de uma epidemia de gripe acabou por se impor, sobretudo quando, ao mesmo tempo que a Junta Provincial de Madrid declarava que a enfermidade reinante era de natureza gripal, Ricardo Jorge fez uma comunicação no mesmo sentido ao Conselho Superior de Higiene. Simplesmente, o diagnóstico da doença era apenas um primeiro passo. Faltava a terapêutica. E, quanto esta, a ciência médica não escondia a sua incapacidade de resposta, a ponto de Ricardo Jorge haver dito peremptoriamente, numa sessão da Sociedade de Ciências Médicas, «nós não sabemos nada da terapêutica da gripe. O tratamento que se fez é inventado pelo clínico que a isso se vê obrigado». Um outro médico dizia, entristecido, que «o tratamento da gripe – havemos de concordar – não faz parte dos que enchem de prestígio a medicina»[152]. Uma opinião partilhada por colegas como Amândio de Campos[153] ou, numa prosa incisiva, Acácio da Silva Ribeiro:

«Não há, certamente, em todos os livros de Patologia, doença alguma que, de longe sequer, possa comparar-se com a gripe de 1918, no tocante a diversidade de formas, variedade de sintomas e multiplicidade de complicações. Sendo assim, compreende-se bem que a cada forma clínica se impusesse um tratamento, para cada complicação se ensaiasse uma terapêutica e ainda, perante o insucesso de ambos, novas modalidades surgissem, em casos julgados idênticos, na ânsia desesperadora que dominava os médicos de pôr um entrave a tão sinistra derrocada.
Variaram, com efeito, até ao infinito os tratamentos ensaiados com mais ou menos eficácia; revolveu-se toda a terapêutica até hoje conhecida, fizeram-se mesmo algumas descobertas, mas não foi possível acordar num tratamento específico, único, eficaz, o que de resto era de prever no estado actual da ciência»[154].

A par disso, a resposta dos estabelecimentos públicos de saúde era gritantemente deficitária. Ricardo Jorge confessa ter ficado petrificado pela incúria que observou ao visitar o hospital de isolamento do Porto, onde encontrou nada menos do que cinco pessoas infectadas entre o pessoal da enfermaria[155]. De acordo com os seus cálculos, entre Dezembro de 1917 e Dezembro de 1918 registaram-se no Porto 6.254 casos de tifo, de que resultaram 1.203 mortes[156]. Outras fontes apontam para que em 1918 morreram 1.725 pessoas de tifo exantemático e 910 de febre tifóide, contrastando com 42 e 985 do ano anterior. Em 1919, os números são ainda mais impressionantes, com um total de 2.282 vítimas[157]. A pneumónica, por seu turno, foi declarada em Espanha, no decurso das festas de Santo Isidro, em Maio de 1918 e em Junho desse ano já estava em Portugal, trazida pelos trabalhadores que regressavam das fainas agrícolas, nas zonas de Vila Viçosa, Elvas e Arronches. Num fenómeno que ainda hoje permanece inexplicado em todas as suas dimensões, a gripe de 1918-19 propagou-se em «ondas» ou «vagas», avançando e recuando, o que pode ter contribuído para a sua extrema letalidade: nos períodos de recesso, abrandavam as defesas e as medidas sanitárias, após o que a epidemia regressava. Assim, é possível dizer-se que, à escala planetária, a gripe de 1918-19 teve uma vaga moderada na Primavera de 1918, outra extremamente grave no Outono e uma outra, igualmente severa, no início de 1919[158]. Entre nós, ocorreu, com origem no Alentejo, uma primeira vaga, marcadamente verno-estival[159], que termina em Julho, registam-se 517 óbitos. Apareceu pela primeira vez em Vila Viçosa, em finais de Maio, atacando um quinto da população, trazido o contágio pelos trabalhadores de Badajoz e de Olivença; logo surge na Terrugem e em Arronches. Aparece depois em locais tão diversos como o Aljube, a prisão de Monsanto ou a secção dos mutilados de guerra do Instituto Médico-Pedagógico da Casa Pia[160]. Uma semana depois de ter surgido no Alentejo, já se manifestava no Porto[161].
A segunda onda da gripe pneumónica, iniciada em Agosto nos arredores do Porto, em Vila Nova de Gaia, seria mais lenta na sua disseminação, mas muito mais letal quanto aos efeitos, sobretudo pelas suas localizações pulmonares: só em Lisboa morreram 5.000 pessoas – três vezes o normal – em nove semanas. O caso mais dramático deu-se no vapor «Moçambique», que procedia à repatriação das tropas do Corpo Expedicionário Português em África: da população total do navio, composta por 952 pessoas, 199 morreram durante a viagem até Lisboa, registando-se mais óbitos após o desembarque. Entretanto, começam a detectar-se sinais da doença no quartel de Artilharia 6 na Serra do Pilar ou entre os operários das fábricas de Santo Tirso e Riba d’Ave[162]. Para fugir ao contágio, algumas localidades fecharam-se sobre si próprias. Tal sucedeu no Amieiro, concelho de Alijó: os habitantes reuniram-se, decidiram isolar-se e chegaram a estabelecer um sistema de vigilância diurna e noctura que impedia a entra ou saída de qualquer pessoa naquele reduto; de tarde, acendiam pelas ruas e pelas casas grandes fogueiras de rama de pinheiro e de eucalipto, e desse modo, segundo refere o médico Afonso Madeira, conseguiram afugentar a malina: nenhum morador no Amieiro foi infectado[163]. O isolamento dava os seus frutos: a ilha de Santa Helena, onde não aportavam navios, foi dos poucos pontos do globo que escaparam à doença[164].  
A evolução da doença é confirmada num relatório apresentado em Março de 1919 à Comissão Sanitária dos Países Aliados, em que o médico Ricardo Jorge explicou que Portugal foi alvo de duas grandes vagas epidémicas: a primeira, que se fez sentir de Junho a meados de Julho, de difusão rápida mas de efeitos simples, apelidada de primitiva ou verno-estival, ou ainda de gripe espanhola (possivelmente num arroubo anti-iberista, foram os portugueses os primeiros a dar-lhe esse nome, ainda que já em 1580 tenha havido uma epidemia que os alemães denominaram de der spanische Ziep[165] ou Spanische pestilenz[166], que quase impediria a invasão espanhola de Portugal, tendo Felipe II contraído a doença de que sua mulher, Ana de Áustria, acabou por morrer[167]); a segunda, designada de gripe pneumónica, ou estivo-outonal, espalhou-se de meados de Agosto a finais de Setembro, foi, como já se referiu, de transmissão mais lenta mas muito mais letal e maligna quanto aos seus efeitos, devido à sua localização pulmonar. Tratava-se, aliás, de um padrão que remontava ao quadro de salubridade e doença já detectado desde o início do século XIX, pelo menos, em que o Verão e o Outono se afiguravam como as estações de mais temíveis consequências[168]. A segunda vaga da gripe fez a sua aparição em Gaia[169], e logo criou o falso temor de uma revivescência da peste pneumónica que assolara o Porto em 1904. Agora, o caso era mais grave: «o fluxo epidémico invade o País inteiro, deixando por todo o lado a marca do seu furor mortífero»[170]. Ricardo Jorge fala mesmo de uma «hecatombe»[171] contra a qual de pouco ou nada valiam as tradicionais medidas sanitárias de isolamento, a que os médicos assistiam «de braços cruzados», impotentes. Num estudo recente, outro médico falaria de uma «avalanche de mortos», observando que a gripe convergiu geograficamente para uma área alargada localizada na bacia do Tejo, entre Lisboa e Santarém, onde ocorreram as maiores taxas de mortalidade, com percentagens assustadoras de 7% (Benavente), 4% (Azambuja), 3,2% (Vila Franca de Xira) e 2,9% (Salvaterra)[172]. À excepção de Melgaço, todos os concelhos da região Norte são, de um modo geral, poupados pela doença e a gripe atingiu as populações independentemente da densidade demográfica. «Este mal ultrapassou as expectativas mais pessimistas, tanto pela sua extensão como pela sua intensidade (...); desta vez, o tipo pneumónico foi mundial e a sua aparição quase simultânea. O volte-face deu-se por todo o lado e de uma maneira sincrónica, como sob a acção de uma força universal e misteriosa». Ricardo Jorge diz que nem ele mesmo, quando nos relatórios de Junho previa a recidiva da doença, pensara que «Tróia cairia tão depressa». Pior do que tudo, não havia uma explicação plausível para o tenebroso fenómeno: nem os movimentos de guerra nem o desgaste físico das populações por causa das crises de subsistências conseguiriam explicar o retorno tão rápido da doença e a sua mutação devastadora; mais do que isso, não conseguiam explicar a circunstância de a primeira vaga ter tido uma origem externa – a Espanha – e a segunda, ao que tudo indiciava, uma génese autóctone, além de ser difícil perceber o ritmo veloz da primeira onda, propagada através das vias de comunicação, e a progressão mais lenta da segunda, bem como os diferentes itinerários de ambas. Ricardo Jorge avançava apenas umas noções vagas sobre factores agravantes, como as migrações militares (fenómeno também ocorrido em Espanha[173]), movimentações populares, agrícolas, balneárias e navais, aludindo aos movimentos dos recrutas, às feiras e peregrinações, aos trabalhos nas vindimas, às idas a praias e estâncias termais, à exportação e importação de mercadorias através dos portos. A isso acresciam outros factores: nos Estados Unidos, por exemplo, a gripe apareceu fulgurante numa altura em que dezenas de milhares de médicos e enfermeiras se encontravam ausentes, mobilizados para a guerra[174]; o ajuntamento das tropas para entrar em combate potenciou, de forma inegável, a difusão da doença, bastando referir que em certos pontos de embarque, como Hoboken, na Nova Jérsia, por onde passavam cerca de 300.000 soldados por mês, a taxa de mortalidade pela pneumónica atingiu o impressionante valor de 20%[175].




 Havia, de facto, a consciência clara de que os ajuntamentos facilitavam a difusão da doença. O problema é que a epidemia levava à aproximação das pessoas (v.g. dos familiares aos doentes) e, nesse sentido, o contexto social em que aquela se movia era um agente disseminador. Como escrevia o médico António Martins:

«A gripe propaga-se pelas gotículas, que não atingem grandes distâncias. Quem fugir, por conseguinte, dos doentes e evitar o contacto com grandes aglomerações, onde existem frequentissimamente pessoas que têm estado em relação com atacados e objectos a eles pertencentes, está livre de ser contagiado. Aqui temos a justificação das medidas governativas proibindo os mercados, o funcionamento das escolas, dos teatros, dos animatógrafos, tudo, enfim, que provoque um concursus populi.
Estas medidas eram boas se fossem realizáveis. Nas cidades é impossível evitar as afluências humanas; por outro lado, quando uma epidemia alastra como a de 1918, é impossível evitar as aproximações com os contaminados porque, nestas condições, eles existem em todas as famílias»[176].

Um fenómeno semelhante encontrou-se noutros lugares. Em Espanha, a concentração de pessoas por ocasião da festa da Virgen de Balme semeou a gripe numa região extensa, a partir de focos epidémicos situados na zona de Valência[177]; em Madrid, a trasladação do Cristo de la Salud para a sua nova capela, cerimónia a que acorreram milhares de fiéis, de todas as condições e classes sociais, proporcionou um «democrático intercâmbio de gérmens», na expressão irónica de Beatriz Dávila[178]. Na Índia, o percurso da doença, iniciado em Bombaim, acompanha claramente as vias ferroviárias, sendo poupadas as zonas mais distantes do caminho-de-ferro[179]. Na África do Sul, a gripe é detectada pela primeira vez na área do porto de Durban[180]. Diz-se ainda que a doença foi levada para a Argentina e para o Brasil a bordo de um navio espanhol[181], tendo a segunda vaga sido transportada de um navio saído de Lisboa, o Demarara, que chegou ao Rio de Janeiro a 17 de Setembro de 1918, e pelo Reina Victoria Eugenia, que aportou a Buenos Aires a 26 desse mês[182]. Relembre-se que, na Europa, esta segunda vaga gripal foi detectada em Agosto de 1918, segundo parece, na zona portuária de Brest[183]. Um dos principais pontos de localização da gripe foi Freetown, na Serra Leoa, o mais importante porto da África ocidental[184]. Para mais, o estabelecimento de um cordon sanitaire garantido pela força das armas era inviável em face do desenvolvimento das comunicações – com predomínio dos transportes colectivos (comboios e navios[185]), não estando ainda generalizado o uso de automóveis particulares – e do grau de interdependência entre os países; não por acaso, em 1918 os controlos fronteiriços foram tardios e ineficazes, de um modo geral[186]. Foi isso que, segundo alguns observadores, conduziu a uma «igualização viral» que abrangeu todas as categorias sociais, civis e militares, bem como todas as regiões do mundo[187]. 
Morria-se em colapso, às vezes subitamente, outras com cruciantes hemorragias pulmonares, o que ainda mais atormentava os espíritos, dado que as vítimas eram, na esmagadora maioria dos casos, jovens fortes na plenitude das suas faculdades físicas e mentais[188]. E morria-se novo: em 1920, 70,02% dos que faleceram tinham menos de 60 anos e, dentro desse grupo, 43,15% tinham menos de 15 anos[189]. «Nas epidemias anteriores à de 1918 a gripe era, duma maneira geral, mais grave nos velhos que nos adultos saudáveis[190]. Nesta última sucedeu o contrário: os novos foram os que maior contingente deram para a mortalidade causada por esta terrível pirexia», escreveu um médico na altura[191]. Confrontada com isso, em Kiev, uma adolescente de catorze anos anotaria desolada no seu diário: «é especialmente triste quando um jovem morre. Os velhos tiveram a sua época; mas aqueles estão ainda no começo da vida». Por sua vez, um jovem de Boston escreveria, em Outubro de 1918: «percebi que a vida não é um eterno presente, e que até o amanhã fará parte do passado, que, apesar de todos os dias e anos que irei viver, também um dia morrerei»[192].  
Para a propagação da doença contribuíram, como se disse, diversos factores: os movimentos dos soldados, a atitude imprevidente das autoridades militares ao concederem licenças aos recrutas para regressarem às suas terras, a concentração de pessoas nas feiras e romarias em Agosto e Setembro, bem como, quanto aos estratos mais elevados, dos veraneantes nas estações balneares, a deslocação de trabalhadores rurais na época das vindimas[193]. Mas o factor mais decisivo talvez tenha sido a falta de resposta das autoridades sanitárias, onde imperou a improvisação – o que, reconheça-se, não foi um exclusivo nacional, ocorrendo em muitos outros lugares, salientando-se a incúria das autoridades neozelandesas (responsável pela morte de 20% da população da Samoa Ocidental, o lugar do mundo mais afectado pela pandemia de 1918[194]) ou a descoordenação dos serviços em São Francisco, nos Estados Unidos[195]. A Austrália foi dos raros lugares em que as autoridades actuaram de forma eficaz, o que talvez explique a mortalidade relativamente baixa aí registada[196]. Na capital portuguesa, ao invés, alguns doentes, gravemente enfermos, chegavam a ser transportados em side-cars, expostos ao frio e ao vento, o mesmo sucedendo com os que eram levados em camiões do Exército, sem cobertura, nas noites de Outubro e Novembro. «A “cruz de pau” foi o remate de muitos desses transportes», concluiria um médico no seu relatório[197].
No retrato do sidonista Teófilo Duarte:

«O contágio não poupava ninguém, e por isso, os hospitais regorgitavam de doentes, as habitações particulares transformavam-se em sucursais de tais estabelecimentos – pois eram vulgares os casos em que toda a família caía de cama – e os coveiros não tinham mãos a medir.
(…)
Em Lisboa, o número de entradas diárias nos hospitais chegou a ser de 389 e de enterros de 250, diziam os jornais. Fecharam escolas, repartições, bibliotecas, fábricas e grandes estabelecimentos comerciais. Proibiram-se as feiras, as romarias e tudo quanto servisse de pretextos para ajuntamentos, mas parecia que a cólera do Céu não desarmava. Médicos e enfermeiros escasseavam, pois eles também contribuíam com a sua quota-parte para engrossar o número das vítimas. Os medicamentos a breve trecho se esgotaram e a sua substituição tornou-se quase impossível devido ao estado de guerra. O leite, o açúcar e outros alimentos, imprescindíveis a doentes, faltavam no mercado»[198]. 

No Hospital Militar de Campolide, um médico disse ter assistido «ao facto inacreditável e marroquino de serem chamadas a Lisboa forças da província, vindas de focos epidémicos gravíssimos»[199]. Em muitas ocasiões, recorreu-se a um excesso de medicação – ao uso da metralha toda, na gíria médica da altura – que teve efeitos contraproducentes[200]. Alguns pormenores são elucidativos do modo artesanal como a sociedade respondeu a esta praga: a Comisssão Central dos Socorros às Vítimas das Epidemias, que viria a ser presidida por Ricardo Jorge, só se constituiu em Novembro, quando a pior fase da epidemia tinha passado. Em Outubro, a revista Medicina Contemporânea garantia: «pelas informações recebidas, sabemos que no geral a doença não reveste gravidade de maior». Alguns médicos aconselhavam aos doentes a simples ingestão de chá, café ou álcool. Houve quem sugerisse retirar da circulação as notas de tostão, para evitar o contágio. Outros ainda – e não apenas em Portugal – optaram por respeitar o curso natural da doença (vis medicatrix naturæ), controlando apenas a febre e sujeitando o doente a repouso e dieta adequados[201]. No Brasil, acreditava-se nos poderes curativos do alho, da cebola, da canela e, em especial, do limão. Adoptaram-se medidas inúteis, como a desinfecção das ruas com cal ou produtos desadequados, como folhas de eucalipto ou alcatrão, que remontavam aos tempos das pestes medievais, em os médicos recomendavam que se queimassem ervas aromáticas nas ruas[202], crendo que era a corrupção do ar o principal agente transmissor da doença[203]. Não foi um  exclusivo nacional. Em face da desorientação da comunidade médica quanto à terapêutica mais adequada, o refúgio na medicina caseira, «alternativa diante do mal incompreensível», a par da proliferação de receitas milagrosas vendidas a preços especulativos, marcou o surto da epidemia no Brasil, por exemplo[204]. Proliferaram os  casos de charlatanismo, que as revistas médicas denunciavam sempre que podiam[205]. 




Também a ideia da corrupção do ar corrompeu muitos espíritos por todo o mundo. O próprio Presidente Wilson citaria uma quadra que era entoada por todos os parques infantis norte-americanos: «I had a little bird,/Its name was Enza,/I opened the window/And in-flu-enza». De Hong-Kong à América profunda, as pessoas fechavam-se em casa, calafetavam portas e janelas, aqueciam-se com caloríferos alimentados a querosene que queimavam o oxigénio e, não raro, acabavam por morrer sufocadas[206]. Nos antípodas deste método, recomendava-se como panaceia a exposição ao ar livre: sobretudo na Grã-Bretanha, espalhou-se a crença de que o ar livre era o melhor remédio para a gripe, chegando a aconselhar-se o chamado «tratamento do telhado» (roof treatment) nos hospitais infantis, em que as crianças eram colocadas no topo dos edifícios hospitalares, protegidas do frio apenas com borrachas de água quente e lonas para cortar o vento gélido da estação fria. Na Dinamarca, um alto responsável médico recomendou que as janelas fossem pura e simplesmente retiradas dos seus lugares enquanto a gripe não abrandasse; médicos dos hospitais de Milão reconheceram que os doentes que dormiam em tendas nos pátios das casas de saúde tinham maior facilidade de convalescença do que os que permaneciam encerrados no interior dos edifícios. Obedecendo a este dogma do ar livre, em muitos lugares dos Estados Unidos as audiências dos tribunais foram transferidas para praças e jardins públicos[207]. Na linha «desinstitucionalizadora» que caracterizou a apologia do ar livre, médicos dinamarqueses, a par da Academia Francesa de Medicina, sustentavam que o internamento hospitalar agravava o contágio – o que, de resto, era uma verdade, bastando recordar que o Hospital de Boston, por exemplo, começou a registar uma incrível taxa de mortalidade de 50% dos internados e que até na asséptica Suíça um terço dos internados no Hospital de Zurique acabou por padecer de pneumonia[208]. Não é difícil imaginar o que sucedeu em países com menos recursos: na Letónia, os doentes de gripe eram internados ao lado dos que se encontravam mortalmente infectados com tifo ou cólera[209]. Percebe-se, assim, que muitos se recusassem a deixar-se internar ou aos seus próximos – numa localidade italiana, um pai colocou-se à porta de casa com um machado, dias a fio, no firme propósito de matar todo aquele que quisesse vir buscar a sua filha para interná-la num hospital[210].    
Se uns se fechavam em casa, outros fechavam os olhos à realidade, negando a  existência de uma pandemia. No Brasil, o secretário de Estado do Interior, Justiça e Instrução Pública do Estado da Baía descartou qualquer possibilidade de existir uma epidemia de gripe em São Salvador, argumentando que, caso tivesse ocorrido algo de anormal, teria sido avisado pelas autoridades sanitárias, pelo que não acreditava na «devastação anunciada» na imprensa oposicionista[211]; no Rio de Janeiro, responsáveis pela saúde pública diziam, revoltados, que a censura imposta pelos militares muito contribuiu para a propagação da doença[212]; em Espanha, as autoridades de Pamplona ocultaram a existência da epidemia, enquanto o munícipio de Madrid se vangloriava de regar as ruas com 6.000 frascos de desinfectante por dia[213]. Na Alemanha, por razões ligadas à guerra, as autoridades do Reich impuseram, desde Janeiro de 1918, uma censura draconiana às estatísticas das doenças infecciosas e só a partir de Março começaram a circular notícias esparsas sobre a doença que se aproximava[214]. Em Espanha, o Inspector-Geral da Saúde Pública optou pelo negacionismo, afirmando que tinham sido turistas estrangeiros a disseminar a gripe pelas ruas de Madrid[215]. Ainda que tal não corresponda à verdade[216], o certo é que a ideia de que a doença tivera origem em Espanha acabou por correr mundo: na Rússia, o Pravda noticiava «Ispanka (a espanhola) está entre nós», apesar de os médicos hispânicos tudo fazerem para mostrar que a fonte da doença se encontrava justamente no Turquemenistão[217]. Mas, passada a fase dos nacionalismos, em que vários países se acusavam entre si sobre a origem da epidemia, acabou por se gerar uma onda de cooperação sem precedentes a nível planetário. «Hoje em dia, todas as nações espirram como se fossem uma só», escreveu certeiramente um diário de Atenas. Basta recordar, por exemplo, que a Cruz Vermelha dos Estados Unidos fez uma doação de 125.000 dólares à Suíça e enviou médicos, enfermeiras e fármacos para Portugal. Uma missão brasileira deslocou-se a França, ainda que todos os que a integravam tenham adoecido na viagem e quatro hajam morrido a bordo. Em Madrid, o embaixador da Alemanha ofereceu o préstimo de todos os médicos daquele país que se encontrassem nos navios ao largo da costa espanhola. O famoso bacteriologista August von Wassermann deixou afirmado, lapidarmente: «Para mim, não existem alemães nem ingleses – só homens que sofrem e têm de ser ajudados»[218]. Ao invés de impedir a entreajuda à escala internacional, a guerra e pode ter contribuído para a fomentar. Se o ódio aos alemães ainda não estava ultrapassado – no Rio de Janeiro, por exemplo, após o episódio do Lusitania era quase obrigatório cuspir no chão sempre que se passava à porta do consulado germânico – o espírito do tempo foi captado, de forma admirável, justamente por um alemão: «estávamos demasiado exaustos até para odiar», disse o burgomestre da cidade de Colónia, de seu nome Konrad Adenauer[219]; o problema é que, como dizia um seu concidadão, o general Ludendorff, «quem está cansado sucumbe ao contágio muito mais facilmente do que um homem forte e vigoroso»[220].


A busca de novas terapêuticas não pararia. O médico César Torres, que em 1918 acompanhou a gripe em Sabrosa, onde acabaria por ser contagiado por tifo exantemático, depois de reconhecer que onde se encontrava não tinha acesso aos progressos da medicina, refere, entre o mais, que teve dificuldades em convencer os doentes e os seus familiares a autorizarem que lhes fossem aplicadas compressas frias; quanto à dieta, César Torres aconselhava caldos de frango, farinhas, maçãs assadas e, a cada refeição, um cálice de Porto velho[221]. 
Durante a epidemia, que progrediu de modo fulminante (a ponto de um médico ter dito que «o que caracterizaou especialmente esta infecção epidémica foi o seu grande, o seu enorme poder de expansão!»[222]), apesar de no Parlamento se ter falado da «terrível deflagração» da gripe[223] e do «pavoroso desenvolvimento da epidemia pneumónica»[224], o Estado manifestamente não consegue satisfazer as necessidades, sendo grande parte do combate à doença deixado a cargo das instituições tradicionais de assistência, com destaque para as associações mutualistas, os bombeiros, as sociedades recreativas e as então criadas comissões locais de socorro, ou mesmo instituições como o Diário de Notícias, a companhia de seguros «A Oriental», o Banco Português e Brasileiro, o Sport Lisboa e Benfica ou o Partido Republicano, além da acção caritativa de particulares, como a condessa de Burnay. Destacou-se, neste contexto, a Obra de Assistência 5 de Dezembro, apadrinhada por Sidónio Pais, e a Cruz Vermelha[225]. Ao Senado da República chegaram ecos de uma exposição dos farmacêuticos de Alijó, que alegavam ter fornecido medicamentos aos habitantes dos concelhos limítrofes[226]. O senador Desidério Beça advertiria que «no distrito de Vila Real estão grassando com intensidade as epidemias de varíola, tifo e gripe; e alguns concelhos importantes, como Murça, não tem médico permanente; e mesmo que tivesse não era suficiente para atender às chamadas constantes num concelho de grande área e maus caminhos. É pois indispensável que para aquela região sejam enviados medicamentos, agasalhos e socorros monetários»[227]. Outro senador diria que «o cemitério de Aveiras de Cima, concelho de Azambuja, não tem as condições necessárias para receber os mortos da povoação que tem hoje perto de mil fogos, principalmente depois da pneumónica, pois, quando dessa epidemia, houve dias em que se enterraram sessenta pessoas, dando isto lugar a que se passem cenas como as de Edgard Poe, cenas que põem os cabelos em pé»[228]. Anos depois, as doenças de 1919 continuariam a ser faladas do Parlamento português: «ainda estão na memória de nós todos as duas epidemias que grassaram no País há uns 5 anos; a epidemia do tifo no Porto e a epidemia da pneumónica», disse-se em 1925 no Senado da República[229]. E lembrou-se, inclusivamente, o papel desempenhado por alguns religiosos, como o padre Amaral: «há um homem em Espinho cuja extraordinária benemerência é necessário proclamar. É o reverendo padre Amaral, abade da freguesia, por todos respeitado que, por ocasião da epidemia da pneumónica em 1918, quando as autoridades civis viam baldados os esforços para conseguirem hospitalizar os doentes, ele usando do seu prestígio, ia arrancá-los aos seus casebres, improvisou um hospital, de que se fez enfermeiro, angariou donativos, etc., pelo que toda a população lhe estava muito grata e admirava a sua conduta heróica»[230].
O esforço e a mobilização da sociedade civil, atrás referidos, são expressivamente reflectidos no Relatório e Contas da Comissão de Socorros em Alcácer do Sal, que conta casos de farmacêuticos doentes que, em vez de se recolherem à cama, preferiram continuar a trabalhar, de um serviço de abastecimento de água ao domíclio montado por um cabo da Guarda Republicana, um funileiro e um fiscal dos impostos, dos inúmeros empréstimos (animais de carga, veículos, barris) feitos pelos habitantes da vila, de ofertas de carvão feitas por um comerciante recém-chegado a Alcácer, de viúvas que se alistaram como enfermeiras, das brigadas que se formaram para cortar rama de eucalipto, da dádiva de alcatrão para o serviço de fogueira, dos médicos que, apesar de infectados, continuavam a trabalhar incansavelmente, de um funcionário municipal que se voluntariou para substituir o farmacêutico, das senhoras que ofereceram os seus préstimos na confecção de roupas brancas para o hospital e da que abriu em sua casa um asilo para crianças desvalidas. Apenas uma mulher, que se encontrava na cadeia e a quem foi oferecida a liberdade a troco de ajuda, se recusou a colaborar[231]. A Comissão enaltece a ordem que se conseguiu manter em Alcácer do Sal, salientando o facto de os enterros se terem feito dentro dos prazos legais, de não terem existido reclamações contra os serviços do Registo Civil, de o lavadouro público ter sido limpo todas as noites, de não ter havido especulação no preço da carne, do açúcar, do leite e do pão. Sublinha-se que «os socorros da Igreja foram pontualíssimos, e evangelicamente caridosos» e, para respeito da tranquilidade, que «os sinos conservaram-se caladinhos»[232]. Alcácer do Sal vangloriava-se do seu civismo, não deixando de o contrastar com o que se passava noutros lugares:

«O que muita gente aqui sabe é que duma importante vila que fica a menos de 10 quilómetros da capital do distrito, escreviam para Alcácer, pouco mais ou menos nestes termos:
Meu pai
Isto é um inferno! Horroriza o que aqui vai com os vivos e também com os mortos...
Peço-lhe que me mande, pelo correio, um ou dois pães. E se puder obter linhaça, mande-me também”.
Ora, terras daquelas são, no sentir geral, desqualificadas. Terras em que assaltam as lojas. Atiram bombas. Entornam o azeite. Derramam trigo. Onde, com as altas e baixas da política, se agridem uns aos outros, e enchem as cadeias!
Glorifiquemos, pois, Alcácer, esta terra modelar, em que nunca houve um desacato, uma prisão política, qualquer vingança»[233].  

Na capital, as primeiras hospitalizações têm lugar a 24 de Setembro, com uma particular incidência de jovens adultos – e, curiosamente, em números quase idênticos entre homens e mulheres, mas sendo muito mais elevada a mortalidade masculina[234] –, contrastando com um reduzido internamento de idosos e crianças, o que, como já se referiu, constitui uma singularidade da epidemia de gripe de 1918 em confronto com todas as outras estudadas até hoje[235]. Em Lisboa, a esmagadora maioria dos internados era oriunda da própria capital, mas foi nos meios rurais que a mortalidade atingiu níveis mais elevados, o que é tanto mais curioso quanto esses meios são os que registam menores taxas de incidência da doença[236]. De início, foram usados os dois pavilhões de doenças infecto-contagiosas do Hospital do Rego mas, numa «cidade suja e infecta, sem higiene e quase sem água, rica de toda a casta de espécies mórbidas», nas palavras do então director-geral dos hospitais civis, cedo se sentiu a necessidade de novas instalações. Foi rapidamente reactivado, em condições precárias, o velho Hospital de Arroios, usando-se ainda in extreminis parte do antigo Convento das Trinas e o Liceu Camões. Um médico em serviço neste liceu sintetizou numa frase toda a sua impotência: «os doentes morriam e nós não sabíamos como evitar a morte»[237]. O director-geral dos hospitais civis recordou o cenário dantesco vivido nas Trinas:

«Conservo ainda na memória a impressão que senti com a chegada da primeira leva de doentes epidemiados, despejados cerca da meia noite por três automóveis da Cruz Vermelha no pátio do improvisado Hospital, ainda nesse momento iluminado apenas pela luz baça dalguns lampiões e atulhado de material de hospitalização a distribuir ainda pelas várias salas de enfermagem e serviços diversos. Eram todos doentes em estado grave e alguns moribundos que admiti e a que prestei os primeiros socorros – pois ainda não havia clínico de serviço, só 36 horas mais tarde devendo abrir-se o Hospital – providenciando e tudo dispondo para esses doentes (homens, mulheres e algumas crianças) serem transportados do pátio onde se socorreram de pronto com enxergas e cobertores, para as camas de duas enfermarias que assim forçadamente se inauguravam; esforço realizado depois de um dia e noite de trabalho extenuante para todo o pessoal em serviço de instalação desse novo hospital.
O quadro de viva tragédia que naquele pátio se viu, no cenário soturno do velho convento de freiras, era bem digno do pincel dum grande artista e bem merecia ser descrito por quem fosse escritor e o tivesse sentido»[238].  




          Nem mesmo os médicos deixaram de se impressionar com os efeitos destas epidemias nos pacientes. «Num primeiro momento», escreve a investigadora Beatriz Dávila, «a reacção dos médicos foi de confusão e de incerteza»[239]. As análises laboratoriais, para mais, apresentavam resultados inconcluentes: nas lesões pulmonares, encontrava-se uma variada fauna bacteriológica – estreptococos, pneumnococos, estafilococos ou bacilo de Pfeiffer – umas vezes combinada, outras isolada. Em 1890, julgava-se que o bacilo de Pfeiffer era a causa da gripe[240]. Agora, com o mundo mergulhado na gripe, o bacilo nem sempre surgia[241]. Falava-se de cólera, dengue, febre de Pappataci, peste pneumónica[242]. Ninguém se entendia. Mas todos presenciavam os efeitos devastadores da doença. Simões de Macedo, que observou mais de trezentos casos de tifo exantemático, recordou, entre o mais, o imobilismo dos afectados pelo torpor ou estupor tífico: «quem visitava as enfermarias de tifosos, ficava impressionado pelas máscaras imóveis dos pobres farrapos humanos que a época de desgraças para ali atirou. E digo máscaras imóveis porque, embora crispações de músculos as agitassem, abalos de tendões as sacudissem, eram vazias de olhar, sem expressão, ocas de sentimentos. Aqueles olhos parados, obstinadamente fitos num ponto, ou movediços como o pêndulo dum relógio, davam a impressão de não terem retina que fixasse uma imagem; aquelas rugas da fronte, aqueles vincos dos lábios, não eram gerados por um pensamento ou formados por um sentimento»[243]. Os outros sintomas não eram mais animadores: enfraquecimento e astenia, dores do pescoço que impedem ou dificultam a deglutição (disfagia), graves perturbações na fala (a ponto de Simões de Macedo afirmar que os doentes pareciam «ter um corpo estranho na boca»[244]), escrita trémula, diminuição da acuidade auditiva, trémulos fibilares nos músculos da face, da região toráxica e dos membros, contracção dos músculos da nuca, relaxação do esfíncter, perdas parciais ou totais de equilíbrio, erupções cutâneas muito visíveis e disseminadas, um hálito sui generis. Curiosamente, um dos sintomas observados por Simões de Macedo foi um súbito aumento de apetite, com tendência para se converter em aparente bulimia[245]. Este médico, que observou mais de trezentos casos, concluiu que «a invasão [do tifo] é brutal, violenta» e que «a prostração é muito marcada desde o princípio»[246]. Existia outro sintoma peculiar: o medo. «O doente apresenta-se-nos aterrado não só pela rapidez do ataque – como se tivesse levado uma grande pancada, que não sabe de onde caiu, disseram-me alguns –, mas ainda pelo internamento num hospital de que o povo tem uma ideia horrível – um inferno povoado por diabos de casaco branco»[247]. Acrescenta ainda este médico: «quem visitava as enfermarias de tifosos ficava impressionado pelas máscaras imóveis de pobres farrapos humanos que a época de desgraças para ali atirou»[248]. Também Adérito Madeira assinalaria que, nos contaminados por tifo exantemático, uma «doença de excessiva gravidade»[249], «a expressão do rosto (...) é triste, estúpida e parada»[250], notando-se ainda como outros efeitos a anorexia, a sede intensíssima, a respiração acelerada, as vertigens, o cheiro característico da pele (a «palha podre», segundo aquele médico), as insónias, os delírios, a incontinência.
Acrescente-se que em 1911-1920 morreram em Portugal 100.000 pessoas vítimas da tuberculose e que, se as estatísticas fossem mais rigorosas (45% dos portugueses morriam sem certidão de óbito), os números seriam certamente muito mais elevados. Não é por acaso que o número de mortes por doenças desconhecidas, mas indubitavelmente associadas so surto epidémico, subiu vertiginosamente de 55.791 em 1917 para uns assustadores 96.562 em 1918. Em 1912, a população vivera alarmada por uma epidemia de tifo que, em apenas dois meses e meio, matou 254 pessoas, mas o pior estava para vir. Os anos de 1918-1919 caracterizam-se, como se viu, por grandes epidemias: o tifo, a gripe, a pneumonia, a varíola, por ordem cronológica; a gripe, a pneumonia, a varíola, o tifo, por ordem de mortalidade. Oliveira Marques fala de um «estado geral de pânico» que se instalou no País, em especial nas grandes cidades[251].  Associado a essa onda de medo, viveu-se um sentimento de revolta pelos especuladores que se aproveitavam do drama das famílias: os jornais escandalizavam-se com a notícia de médicos que cobravam 50$00 pelas consultas, enquanto em alguns locais o preço do quinino subia de 65$00 para 300$00. O Século denunciava que cada litro de leite dava uma margem de lucro de 200%. O elevado preço dos medicamentos era, pelo menos desde o século XIX, um problema crónico: as populações de menores recursos, não podendo custear os remédios prescritos pelos médicos, refugiavam-se em terapêuticas alternativas, nomeadamente à base de plantas medicinais[252]. Em tempos de epidemia, não só os medicamentos mas todos os géneros são alvo da avidez dos especuladores, realidade que Camus descreverá admiravelmente em A Peste: «a especulação aproveitara-se do facto e oferecia a preços fabulosos os géneros de primeira necessidade que faltavam no mercado habitual. As famílias pobres encontravam-se, assim, numa situação muito difícil, enquanto às ricas não faltava praticamente nada, porquanto a peste, pela imparcialidade eficaz que punha no seu ministério, devia ter reforçado a igualdade entre os nossos concidadãos mercê do jogo normal dos egoísmos, ela, pelo contrário tornava mais agudo no coração dos homens o sentimento da injustiça. Restava, bem entendido, a igualdade irrepreensível da morte, mas essa ninguém a queria». Certamente, não terá sido muito diverso deste o cenário que se viveu em Portugal durante as epidemias de 1918, um tempo em que a onda de mortalidade foi tal que os funcionários da morgue e dos cemitérios, assoberbados de trabalho, chegaram a ser acusados de falta de dignidade no cumprimento das funções. Na cidade de Lisboa circulam carroças apinhadas de cadávares cobertos apenas com uma serapilheira, enquanto nos cemitérios se têm de abrir valas comuns. Os Armazéns Grandella fazem uma campanha de redução de 10% no produto que as famílias mais necessitavam: vestuário de luto. Os oportunistas anúncios da Casa Áurea diziam que o melhor remédio para a gripe era os casacos de malha que aí se vendiam[253].




O médico Juvenal Esteves recorda o ambiente fúnebre que envolveu Lisboa – e, muito provavelmente, todo o País – por ocasião do surto da pneumónica:

«Instalara-se a epidemia de gripe pneumónica que provocou inúmeras vítimas e enorme mortalidade. O ambiente era de contenção exterior, mas o pânico reinava no íntimo das famílias. Os que podiam ausentavam-se para a província ou arredores enquanto os que permaneciam tentavam resistir ao flagelo por meio de rezas e mezinhas. Empregados municipais deitavam cloreto de cálcio em fiada mais ou menos contínua nas ruas, na junção do pavimento com as paredes dos prédios. Esta tira esbranquiçada contracenava de imediato com os anúncios de falecimento em papel de orla e cruz pretas, afixados em porta sim porta não dos estabelecimentos comerciais. A soturna panorâmica urbana completava-se em infindáveis cortejos fúnebres de viaturas com panejamentos negros puxados por cavalos e mulas e se cobriam dos mesmos e desfilavam lentamente, unidos uns aos outros, desde a manhã ao cair da tarde em trajectos de quilómetros até aos cemitérios»[254].

          No mesmo sentido, Amândio de Campos, que na altura exercia funções como médico no Hospital da Misericórdia da Mealhada, dá nota do pânico instalado em virtude da rapidez da expansão desta doença letal. Refere, desde logo, o papel da imprensa na difusão do medo: «nessa altura as gazetas anunciavam uma epidemia desconhecida, mas que fazia inúmeras vítimas, lá para as regiões do Douro»; «os jornais soltam o alarme». Depois, foi a vez da enfermidade chegar à região onde trabalhava, semeando o terror entre as populações: «A onda epidémica lança-se velozmente, desde o Luso até aos confins da Bairrada. Estabelece-se o pânico na região. Todos vêem em volta de si o quadro sinistro da morte, e não sem razão, porque o número de obituários diários é elevado. A epidemia rasteja sem cessar, levando na sua obra devastadora a desgraça, o luto e o terror. Os mais fortes fraquejam. Precisa-se pessoal de enfermagem e todos se recusam. Os operários na sua maioria não trabalham, esperando qie o terrível mal lhes caia abruptamente e os leve»[255]. Em face disso, a classe médica teve de, por momentos, deixar de lado alguns princípios e, não sem uma certa mágoa, recorrer aos velhos tratadores de doenças: «os barbeiros, alguns quase reformados, entram em actividade clínica, visitando e tratando um sem número de doentes. Passam à alta categoria de Clínicos e em certos pontos, por falta de assistência médica, tomam a pose que uma tal situação lhes proporcionou, olhando-nos a nós, por vezes, como um colega, contando um ou outro caso da sua civilizada clientela»[256]. 
Interessa perceber que a terrível devastação provocada pela pneumónica não se traduziu apenas, ou no imediato, no relembrar do papel da Igreja e do conforto espiritual da fé cristã. Por todo o mundo, as igrejas não se alhearam do combate à doença. Muitos templos encerraram, as missas foram proibidas – por exemplo, em Winnipeg, Budapeste, Dunedin ou na Nova Zelândia –, impuseram-se serviços religiosos de apenas trinta minutos com o sacerdote devidamente afastado dos fiéis. O arcebispo católico de Sidney, à frente de um conjunto de padres, trazendo consigo um altar portátil e um saco-cama, desafiou abertamente as autoridades que, cumprindo ordens superiores, impediam que os sacerdotes se aproximassem dos moribundos para celebrar missas e ministrar a extrema-unção. O Parlamento acabaria por permitir o acesso dos padres, «seguindo certas precauções», aos crentes que se encontravam colocados em quarentena. Por sua vez, o arcebispo de Filadélfia ordenou que duzentas freiras da Ordem de S. José fossem mobilizadas para auxiliar os doentes[257]; nessa cidade, as autoridades sanitárias acabariam por proibir quaisquer serviços religiosos. O bispo de São Francisco ofereceu à Cruz Vermelha todos os meios da diocese: quarenta igrejas e centenas de padres e freiras[258]. Já o bispo de Milão se destacaria pelas suas cautelas profilácticas: desinfectava os paramentos, mudava diariamente a água-benta, retirou de uso o cálice da comunhão. Alguns discordavam destas medidas, e não com argumentos religiosos, mas clínicos: um padre do Canadá advertiu que, se acaso as missas fossem proibidas, os fiéis deixariam de ter um motivo para tomar aos domingos o banho semanal, o que a prazo poderia ter efeitos ainda mais perniciosos para o combate à pandemia. Outros avançaram argumentos económicos: com a supressão das missas e da colecta de donativos pura e simplesmente deixaria de haver dinheiro para pagar aos párocos[259].    


Entre nós, os bispos ordenaram preces públicas para que o surto epidémico amainasse e o povo português fosse poupado a mais provações. Alguns sacerdotes, mais práticos, como o Pde. António Maria Pinho, tratam do isolamento dos pobres, reclamam e obtêm subsídios do Governo, fazem distribuir pelas farmácias açúcar granulado para preparação de medicamentos[260]. Outros, como o bispo do Porto, emitem circulares ordenando medidas de desinfecção nas igrejas da diocese contra o surto de tifo[261].
Neste contexto, e à semelhança do que ocorria nas trincheiras da Flandres, tenta- se ultrapassar o medo através do humor. Dos sobreviventes da gripe dizia-se que haviam estado «na cama com a espanhola»[262], enquanto em Madrid se chamava à doença «soldado de Nápoles», nome de uma popular canção de opereta da altura que se dizia ser tão contagiosa como a enfermidade[263]. Noutros casos, há uma redescoberta do sobrenatural ou de causas extraterrenas, não sendo por acaso que a expressão influenza foi cunhada no início do século XVI em Itália para exprimir justamente a ideia de que a gripe sofria a influência das estrelas[264]. Por uma crença algo obscura, os maioris da Nova Zelândia só aceitavam medicamentos castanhos, da cor da sua pele; à semelhança dos médicos ocidentais, os lamas do Tibete velavam os doentes dia e noite, rufando tambores e tocando címbalos. Os russos continuavam a beijar os seus ícones, julgando que durante uma missa era impossível contrair a doença[265]. Em Nova Orleães, cidadãos de todas as classes passaram a abastecer-se de artefactos ligados à prática do vudu e a entoar uma prece capaz de esconjurar a praga (Sour, sour, vinegar-V / Keep the sickness off’n me.)[266]. O Public Health Service recebia cartas de cidadãos propondo que fosse aconselhado o uso de uma fita vermelha ao pescoço, com o argumento irrespondível de que «a gripe é o diabo e o diabo não ataca o vermelho»[267]. Os Cientistas Cristãos questionaram as «terapêuticas materialistas» – que, de facto, se mostravam incapazes de vencer o flagelo – e viraram-se para uma abordagem espiritualista da doença. Um soldado norte-americano, ao ver a morte grassar entre os seus camaradas de armas, reconfortou a sua mãe numa carta em que dizia estar a salvo da epidemia pois acreditava no «poder da mente sobre a matéria», acrescentando: «se todos tivessem a mesma fé no Pai-Mãe Deus tudo seria… diferente»[268]. Os Cientistas Cristãos de Nova Iorque sustentaram que a epidemia era a prova do triunfo do espírito sobre a matéria: se os chineses da cidade eram tão afectados pela doença, não resultava isso da sua iliteracia, do facto de terem dificuldade em ler sequer os cabeçalhos dos jornais? O muito popular pregador evangélico Billy Sunday clamou que as preces públicas eram o único meio eficaz para travar o avanço da doença. Para as Testemunhas de Jeová, cumpria-se a profecia das «pestilências e sofrimentos» que Cristo anunciara no Monte das Oliveiras. Um astrólogo considerou que o culpado de tudo era o planeta Júpiter: o seu efeito sobre o electro-magnetismo da Terra fez crescer e desenvolver-se um microorganismo letal. Já em África, os astrólogos avançaram uma explicação diversa, que se baseava na existência de uma estranha conjunção de Saturno e Neptuno. Proliferaram crenças antigas: os ingleses que habitavam Gibraltar entraram em pânico ao verem os macacos adoecer, já que uma velha lenda dizia que, quando os símios desaparecessem do rochedo, também, os súbditos de Sua Magestade o abandonariam para sempre; em certas aldeias da Noruega, retomou-se a tradição viking de deixar alimentos junto às campas dos mortos; em Cracóvia, na Polónia, um trauseunte assistiu a uma cerimónia bizarra em pleno cemitério judaico: com vista a perpetuar a espécie e resgatar a Humanidade da pandemia, dois jovens órfãos, ainda adolescentes, rodeados por centenas de judeus, uniram-se num «casamento sacrificial; na China, um antigo soldado imperial, para esconjurar a praga, cometeu um acto de loucura, lançando o seu filho às chamas do caldeirão de incenso do templo de Cheng Huang[269]. 
O refúgio no sobrenatural, não raras vezes, esteve associado à crença em produtos milagrosos: além de chegarem a anunciar uma vacina para a gripe, os jornais publicitam cigarrilhas medicinais «ultra-elegantes» contra a bronquite; em Paris, as senhoras usavam ao pescoço, como amuletos, saquinhos cheios de cânfora, de cores bizarras; muitos médicos ingleses acreditavam que o tabaco tinha virtualidades germicidas e, por isso, não só o consumo de cigarros foi permitido pela primeira vez nas fábricas de armamento como na Austrália muitos médicos realizavam as autópsias dos mortos pela pneumónica envolvidos numa atmosfera impregnada de tabaco de cachimbo; por conselho médico, um industrial holandês tornou obrigatório o consumo de tabaco para os seus trabalhadores[270]; quanto a bebidas alcoólicas, as opiniões divergiam, mas logo muitos se aproveitaram da redução do preço do brandy medicinal para passarem a consumi-lo em abundância; outros clínicos recomendavam o quinino e a estricnina, que alguns colegas consideravam perfeitamente inúteis.
Houve, como é evidente, tentativas de aproveitamento e muitos enriqueceram à custa da pneumónica, desde autores de obras que ensinavam a evitar o contágio (o livro «A Gripe Espanhola e Como Curá-la», de Henrik Berg, vendeu só na Suécia 20.000 cópias logo nos primeiros tempos de lançamento), passando por empresas que publicitavam cursos de estenografia para os que estavam confinados às suas casas, até médicos que cobravam consultas a preços exorbitantes[271], para não falar dos que se aproveitaram das máscaras de gaze para assaltarem bancos e estabelecimentos comerciais ou, como ocorreu com um grupo de raparigas em Calgary, para se fazerem passar por profissionais de saúde e assim exigirem os seus honorários. Em muitos casos, farmacêuticos venderam medicamentos adulterados.    
Na cidade de São Francisco, nos Estados Unidos, acreditava-se piamente no poder profilático das máscaras de gaze[272], tendo a Cruz Vermelha vendido mais de 100.000 máscaras, fabricadas pela Levi Strauss and Company. No dia do armístico, as ruas da cidade californiana encheram-se de cerca de 30.000 cidadãos que, com máscaras nos rostos, celebravam a vitória militar em desfiles e bailes. Nos jornais, o Presidente da Câmara, o Departamento de Saúde, a Cruz Vermelha e a Câmara de Comércio publicavam avisos dizendo «Use uma máscara e salve a sua vida!» ou «Uma máscara de gaze é 90% eficaz no combate à gripe»[273]. Quem não usasse a máscara salvadora, advertiam os jornais, iria ser ostracizado[274]. A polícia fez centenas de detenções de cidadãos que percorriam as ruas de cara descoberta, correndo o risco de pagarem uma multa de cinco dólares ou mesmo de serem encarcerados[275]. Mas, quando chegou a segunda vaga epidémica, já quase ninguém levava consigo a sua máscara de protecção[276].
Por outro lado, a epidemia vinha pôr em causa os próprios fundamentos de transformação da sociedade e as promessas de um futuro radioso construído à luz da razão e da ciência que constituíam o património cultural do republicanismo. Não era por acaso que A Capital escreveu, nessa altura, que se estava perante uma «epidemia que zomba da medicina»[277] e que ainda hoje os historiadores afirmem que «a medicina, perplexa, mostrou uma impotência total»[278]. Na altura, com efeito, as deficiências de diagnóstico faziam, por exemplo, com que 40% dos óbitos ocorridos em 1920 hajam sido atribuídos a «doenças ignoradas ou mal conhecida»[279]. A medicina mostrava os seus limites. Por isso já se observou, e com razão, que o fenómeno da gripe pneumónica é tocado por uma contradição fundamental, «ocorre numa sociedade com maiores ambições políticas e civilizacionais, mas muito arcaica em termos estruturais»; «para os princípios civilizacionais de que a sociedade burguesa republicana se reclamava, a epidemia não podia deixar de repugnar»[280]. A religião veio ocupar o espaço deixado vazio por este súbito e dramático recuo da ciência, não sendo por acaso que os habitantes de algumas aldeias piscatórias espanholas viam na origem da doença a mão de Deus[281].
A este respeito, além de lembrar, entre tantas outras iniciativas, as comissões diocesanas de apoio às vítimas de epidemia, criadas em Portalegre em 1918 por D. Manuel Mendes da Conceição Santos[282], poderá invocar-se a personalidade do sacerdote Pereira dos Reis. Sintomaticamente, Pereira dos Reis ofereceu-se como capelão militar na Grande Guerra, mas ao que tudo indicia os seus superiores não o deixaram partir, o que lhe causou grande mágoa. Nomeado pároco da freguesia de Nossa Senhora dos Anjos, em Maio de 1917, um tempo em que por todo o País, e em especial na cidade de Lisboa, grassava a epidemia da pneumónica. Pereira dos Reis destaca-se na assistência aos doentes, entre os quais Jacinta Marto, a vidente de Fátima que acabaria por falecer no Hospital de Dona Estefânia[283]. Essa acção traz-lhe um prestígio que invade até os círculos anticlericais, como recorda Marcello Caetano, uma personalidade cuja formação foi fortemente marcada por Pereira dos Reis:

«Pereira dos Reis deu então um extraordinário exemplo. Explicando-nos que nada havia pior para contrair uma doença epidémica do que o medo, exortou-nos a não faltar à caridade devida aos doentes. Precauções, as elementares: abolido o aperto de mão, lavagem frequente das mãos com sabão azul e branco... Ei-lo a percorrer os bairros mais pobres, a visitar famílias necessitadas, quer o chamassem, quer não, para lhes dizer a palavra de ânimo e lhes levar o socorro possível. Muita gente afastada da prática religiosa pediu ao visitante os sacramentos. Acompanhei-o bastantes vezes, fui com ele levar muitos viáticos. Não tivemos a pneumónica... Mas quando a epidemia passou, o novo Prior dos Anjos tinha ganho nos meios mais hostis da sua paróquia (onde, no Largo do Intendente, tinham a sua sede a Liga do Registo Civil e a Associação do Livre Pensamento) uma atmosfera geral de respeito, admiração e gratidão»[284].

          Um estudo sobre os efeitos da pneumónica no Algarve – que, note-se, foi uma região que muito beneficiou economicamente com a Grande Guerra[285] – salienta o papel da Igreja na assistência às vítimas da doença: «a Igreja Católica teve uma acção importante, sobretudo em zonas rurais e isoladas onde as dificuldades de assistência médica eram maiores. A transmissão de conselhos e de informações profiláticas era feita por párocos nas missas e as visitas domiciliárias realizadas por estes eram, por vezes, o único contacto dos doentes com o exterior. O mesmo sucedeu, aliás, nas zonas rurais espanholas: só em Palencia, morreriam doze párocos por causa da pandemia gripal[286]. Umas quadras da época evocam essa situação: «Del año de 1918 quedará/memoria en toda España/que nunca se olvidará. // Han muerto curas y frailes,/médicos y boticarios./Han muerto muchas personas/que estaban en buen estado.»[287].
Em algumas situações, cabia à Igreja a promoção de obras de caridade para auxílio das famílias vítimas da gripe pneumónica. Dada a dimensão internacional da epidemia, até o próprio Vaticano sentia que tinha que participar na cruzada contra a doença[288]. Tratava-se, de resto, de uma realidade que remontava, pelo menos, ao início do século XIX, quando os padres foram frequentemente convocados para darem a sua colaboração às autoridades sanitárias no combate às epidemias[289]. O Papa ordena a todos os sacerdotes que realizem preces e orações nas igrejas em busca de auxílio divino; e se em Espanha os párocos locais tiveram muitas vezes de fazer de médicos, assistindo clinicamente os doentes, e de realizar enterros[290], entre nós verifica-se, por exemplo, que algumas dioceses, como a de Faro, apoiaram a acção de associações caritativas de senhoras. No final de Outubro de 1918, o bispo do Algarve enviava uma circular aos párocos da região para que estes prestassem todo o apoio possível aos paroquianos, apelando às orações, à penitência e à caridade. «Alguns párocos envolveram-se nas campanhas de assistência aos doentes, quer em ligação com as associações locais de caridade, quer através de visitas domiciliárias. Por vezes, o contacto com os doentes facilitava o contágio da doença e alguns párocos ficavam doentes, ocorrendo em algumas situações a morte. Sendo, muitas vezes, o último recurso dos doentes, o sacrifício de alguns padres não pode deixar de ser realçado na sua missão de acompanhamento espiritual e assistencial durante os meses em que a gripe pneumónica assolou o distrito de Faro» - diz o investigador Paulo Girão[291]. O mesmo autor refere que, na região do Algarve, à semelhança do que ocorreu um pouco por toda a parte, ocorreu uma redescoberta do sobrenatural e do religioso.

«Face às dificuldades de actuação médica e perante a incerteza do futuro próximo, muitas pessoas, amedrontadas e desesperadas, viraram-se para a religião, afinal, como tantas vezes acontece em situações semelhantes. A Igreja, nestes tempos conturbados, ganhava fiéis. Apelos à penitência, à oração e à prática da caridade multiplicavam-se»[292]. 
         
          Um exemplo curioso encontra-se na edição de 1 de Dezembro de 1918 do periódico de Silves Ecos do Além, de carácter espiritualista, que clamava: «Convulsionados por esta grande devastação epidémica, quntas almas afastadas de Deus não se acolheram à sua protecção? Quantos blasfemadores do poder do céu não imploraram fervorosamente o auxílio do grande poder? Quantas almas, há tanto transviadas pelas ilusões mundanas, não acharam salvação naquela espécie de morte? Quantas?»[293].
          Os sinos, uma vez mais, marcariam presença neste tempo de crise. De tal forma que as autoridades administrativas algarvias aconselharam a que não se tocassem os sinos das igrejas enquanto durasse a epidemia, para não recordar às pessoas o falecimento dos seus entes queridos e para afastar a ideia de que a morte se encontrava presente a qualquer momento[294]. O mesmo ocorreu em Itália (provavelmente, o país europeu com maior taxa de mortalidade, a seguir à Rússia), onde foram oficialmente proscritos os toques dos sinos, os cortejos fúnebres, os velórios e até a publicação de obituários nos jornais (o que, de resto, ocorreu igualmente na Suíça)[295]. Silenciar os sinos – algo que também foi feito em França, Espanha e Holanda – era, numa ocasião como esta, uma medida elementar de profilaxia social, que noutras paragens e noutros tempos também havia sido tomada: em 1832, no pico de uma epidemia de cólera declarada em França, o prefeito de Bettancourt decidiu proibir o toque do grande sino da igreja, bem como do carrilhão, seguindo exemplos de outros oficiais públicos que no passado vedaram o ruído dos sinos com o fundamento de que existia uma correlação entre a saúde física e a fortaleza moral, e que, por isso, ambas seriam afectadas se a presença da morte fosse recordada a toda a hora por incessantes dobres de finados[296]. 

   
          Um estudo que incide em especial no concelho de Leiria (a cidade-concelho de Portugal continental mais afectada pela pneumónica, a seguir à Covilhã) nota a omnipresença da tuberculose, o surgimento em Maio de 1918 de um surto de febre tifóide, aparecendo as primeiras mortes por pneumónica no início de Junho desse ano. Os jornais, possivelmente por pressão das autoridades, não dão conta da situação calamitosa provocada pelaa segunda fase da gripe. Se a imprensa era silenciada, o mesmo sucedia com os toques dos sinos, algo que, como se disse, ocorreu também no Algarve. «Deve [...] ser intimado o sineiro dos Marrazes a largar o sino, para não apavorar mais a população do lugar, assim como não deve permitir-se o toque de campainha naquela cerimónia e nos enterros que ali se realizam», escrevia o Jornal de Leiria na sua edição de 10 de Outubro de 1918. As autoridades sanitárias mostraram-se incapazes de enfrentar a epidemia, até porque foram falsamente tranquilizadas pela relativa brandura da primeira vaga. Em todo o distrito existiam apenas sete médicos, o que dava uma média de um médico para 40.000 habitantes. As farmácias não conseguiam fornecer os inúmeros fregueses e rapidamente se esgota o açúcar, substância de importância vital para o fabrico da maioria dos xaropes prescritos aos epidemiados (a ponto de muitos médicos, como Arantes Borges, se oporem à terapia indiscriminada à base de soro glicosado, dados os riscos de desenvolvimento de diabetes açucarada). As organizações que actuavam nas grandes cidades de Lisboa e do Porto – a Cruz Vermelha, a Cruz Verde, a Cruz Branca, a Cruz Roxa e a Cruz de Malta – não realizaram missões de relevo em Leiria[297]. Também aqui as populações se voltariam para a religião e o sobrenatural, exercendo a Igreja um papel de extraordinário relevo:

«A Igreja, pela sua própria missão espiritual, desempenharia um trabalho de grande significado durante a epidemia.
Respondendo ao apelo dos seus fiéis e identificando-se com os anseios e crenças que marcavam a cultura e a mentalidade do seu tempo e, particularmente, aquela época de crise, os párocos desdobravam-se em devotas liturgias, penitências, procissões e missas, suplicando a Deus a sua intercessão para pôr fim à peste.
Procurando balsamizar o sofrimento da alma e também do corpo dos seus crentes, a Igreja participou na consciencialização higiénica das populações, alertando-as para um conjunto de normas sanitárias de grande significado profiláctico»[298].





          No distrito de Leiria, além de uma grandiosa procissão penitencial que percorreu a cidade em meados de Novembro, realizaram-se-iam idênticos actos de penitência. Em Monte Real, onde a epidemia poucas ou nenhumas vítimas havia causado, fez-se uma procissão de agradecimento com a imagem da padroeira, a Rainha Santa. A comissão sanitária local integrava o vigário geral, além do governador civil e do administrador, entre outras notabilidades, como o visconde da Barreira. O médico César Torres conta que alguns costumes populares, como as visitas prolongadas aos doentes, foram um dos factores que mais contribuiu para a difusão da gripe. Os actos de culto externo, sempre muito concorridos, também disseminaram a doença; César Torres refere que os habitantes da sua aldeia foram contagiados por se terem dirigido a Vilar de Maçada, uma povoação vizinha onde a gripe grassava com grande intensidade, para participarem numa festa religiosa aí realizada em honra do santo advogado da peste[299]. 
Noutros locais do distrito de Leiria, as autoridades civis, sabedoras do ascendente que os párocos tinham sobre as comunidades, solicitaram-lhes que durante as celebrações litúrgicas dessem a conhecer aos fiéis um conjunto de medidas profilácticas e terapêuticas, recomendado-lhes que evitassem entrar em casa de pessoas doentes, que removessem as estrumeiras e lançassem sobre as fossas solutos de cal virgem, que tivessem cuidado com as mudanças bruscas de temperatura e desinfectassem a boca e o nariz; caso isso não fosse suficiente, os pobres deveriam internar-se imediatamente no hospital[300]. O surto de religiosidade, ao contrário do que sucedera com anteriores epidemias, não se materializou, no entanto, num aumento das doações ou legados testamentários a favor da Igreja[301]. E esta também sofreu os efeitos da pneumónica, sendo expressiva, a este propósito, a carta que em Setembro de 1919 o Patruiarca Mendes Belo endereça ao Núncio Apostólico. A situação vivida no seminário de Santarém ilustrava as dificuldades que o País atravessava, da gripe à falta de géneros: «julgo conveniente declarar a Vª Emª Verª que, em consequência da febre epidémica que grassou neste País no ano de 1918, as aulas do Seminário [de Santarém] só principiaram a ser frequentadas em meado de Dezembro de 1918, sendo encerradas no fim de Junho do ano corrente. Tudo ali decorreu com a possível regularidade; é, porém, muito para lamentar que, por força da carestia enormíssima dos géneros alimentícios, as contas finais fecharam com um deficit terrível»[302]. 


António Araújo






[1] Cf. Giuliana Bergamo, «Gripe letal por natureza», Focus, de 25-X-2006, pp. 88-89.
[2] Cf. Jared Diamond, Armas, Germes e Aço. Os destinos das sociedades humanas, trad. portuguesa, Lisboa, Relógio D’Água, 2002, p. 218. Há quem situe a mortalidade pela pneumónica em limites muito alargados, que vão dos 20 aos 40 milhões de pessoas: cf. Luís Trindade, «A epidemia da gripe pneumónica. A morte anunciada», História, Novembro de 1998, p. 36. Os autores variam entre cifras como 20 milhões, 15 milhões ou, nas estimativas mais moderadas, 10 milhões de mortos: cf. João José Cúcio Frada, A Pneumónica de 1918 em Portugal Continental. Estudo socioeconómico e epidemiológico, com particular análise no concelho de Leiria, policop., Lisboa, 1998 [posteriormente publicado em livro: Lisboa, Setecaminhos, 2005], p. 111, nota 61.
[3] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española. La pandemia de 1918-1919, Madrid, Centro de Investigaciones Sociológicas, 1993, p. IX. Há quem fale mesmo em 60 milhões de mortos (cf. Roy Porter, Blood and Guts. A short history of medicine, Londres, Penguin Books, 2003), estimando-se que cerca de metade da população mundial (cerca de 2 biliões de seres humanos) esteve exposta ao vírus [cf. Peter B. Heller, «1918-1919. Influenza epidemic strikes», in John Powell (ed.), Chronology of European History. 15,000 b.C. to 1997, vol. 2 – 1765-1997, Chicago e Londres, Fitzroy Daerborn Publishers, 1998, p. 1329].  
[4] Apresentando uma margem muito ampla quanto ao número de vítimas (entre 50 e 100 milhões), certos autores consideram, em face dessa estimativa , que a gripe matou cerca de 5 ou 10 vezes mais pessoas do que os soldados que pereceram na Grande Guerra: cf. N. P. Johnson e J. Mueller, «Updating the accounts: global mortality of the 1918-1920 “Spanish Influenza” Pandemic», Bulletin of the History of Medicine, vol. 76, 2002, pp. 105ss.
[5] Cf. Peter B. Heller, «1918-1919...», cit., p. 1329. Em 10 meses, a gripe matou mais norte-americanos do que o total das baixas verificadas no Exército dos Estados Unidos na I e na II Guerra e nas guerras da Coreia e do Vietname (cf. Alfred W. Crosby, Epidemic and Peace, 1918, Westport e Londres, Greenwood Press, 1976, p. 207).
[6] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., p. 6.
[7] Cf. Peter B. Heller, «1918-1919...», cit., p. 1329.
[8] Cf. Howard Phillips e David Killingray, «Introduction», in Howard Phillips e David Killingray (eds.), The Spanish Influenza Pandemic of 1918-19. New perspectives, Londres e Nova Iorque, Routledge, 2003, p. 3, autores que referem a ocorrência de 30 milhões de mortes (p. 4), dos quais 675.000 cidadãos norte-americanos e 50.000 canadianos (p. 7).
[9] Cf. Maria da Graça David de Morais, Causas de Morte no Século XX. Transição e estruturas da mortalidade em Portugal Continental, Lisboa, Edições Colibri, 2002, p. 40.
[10] Cf. Fernando da Silva Correia, Portugal Sanitário (Subsídios para o seu estudo), Dissertação para doutoramento em Medicina na Universidade de Coimbra, Coimbra, 1937, p. 479.
[11] Cf. Hospitais Civis de Lisboa. Suplemento ao Boletim de 1918. Relatórios e notícias sobre a epidemia de gripe pneumónica, Lisboa, Imprensa Nacional, 1920, p. 23.
[12] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., p. 21.
[13] Cf. A. Abrantes Borges, «Impressões sobre a influenza pneumonica», Portugal Médico, 3ª série, vol. IV, nº 12, Dezembro de 1918, p. 767.
[14] Cf. Peter B. Heller, «1918-1919...», cit., p. 1329.
[15] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady. The influenza pandemic of 1918-1919, Londres, Macmillan, 1974, p. 287.
[16] Cf. Svenn-Erik Mamelund, «Spanish influenza mortality on ethnic minorities in Norway 1918-1919», European Journal of Population, vol. 19, 2003, pp. 83ss.
[17] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., p. X.
[18] Cf. Liane Maria Bertucci, Influenza, a medicina enferma, São Paulo, Editora da Unicamp, 2004.
[19] Cf. Adriana da Costa Goulart, «Revisitando a espanhola: a gripe pandêmica de 1918 no Rio de Janeiro», História, Ciência, Saúde – Manguinhos, vol. 12, nº 1, Janeiro-Abril de 2005, p. 105.
[20] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., p. 53.
[21] Cf. Howard Phillips e David Killingray, «Introduction», cit., p. 10; Geoffrey Rice, «Japan and New Zealand in the 1918 influenza pandemic. Comparative perspectives on official responses and crisis management», in Howard Phillips e David Killingray (eds.), The Spanish Influenza Pandemic…, cit., pp. 73ss.
[22] Cf. Howard Phillips e David Killingray, «Introduction», cit., p. 10; Watan Iijima, «Spanish influenza in China, 1918-20. A preliminary probe», in Howard Phillips e David Killingray (eds.), The Spanish Influenza Pandemic…, cit., pp. 101ss.
[23] Cf. Lee Clarke, Worst Cases. Terror and catastrophe in the popular imagination, Chicago e Londres, The University of Chicago Press, 2006, p. 28.
[24] Cf. Alfred W. Crosby, Epidemic and Peace, 1918, Westport e Londres, Greenwood Press, 1976, p. 25. 
[25] Cf.  Alfred W. Crosby, Epidemic and Peace, 1918, cit., pp. 46ss.
[26] Cf. Lee Clarke, Worst Cases..., cit., pp. 28-29; mais desenvolvidamente, sobre a situação específica de Filadélfia, cf. Alfred W. Crosby, Epidemic and Peace, 1918, cit., pp. 70ss.
[27] Cf. Alfred W. Crosby, Epidemic and Peace, 1918, cit., p. 76.
[28] Cf. o curioso quadro publicado por Beatriz Echeverri, «Spanish influenza seen from Spain», in Howard Phillips e David Killingray (eds.), The Spanish Influenza Pandemic…, cit., p. 176.
[29] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., p. 158.
[30] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady…, cit., p. 288.
[31] Cf. Diário da Câmara dos Deputados, Sessão nº 14, de 17-I-1919, p. 3.
[32] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady…, cit., p. 169.
[33] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady…, cit., p. 145.
[34] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady…, cit., p. 84.
[35] Cf. Alfred W. Crosby, Epidemic and Peace, 1918, cit., p. 68.
[36] Cf. Alfred W. Crosby, Epidemic and Peace, 1918, cit., p. 67.
[37] Cf. Alfred W. Crosby, Epidemic and Peace, 1918, cit., p. 68.
[38] Cf. Portugal Médico, 3ª série, vol. IV, nº 10, Outubro de 1918, p. 667.
[39] Cf., por ex., Portugal Médico, 3ª série, vol. IV, nº 10, Outubro de 1918, p. 668.
[40] Cf. Portugal Médico, 3ª série, vol. IV, nº 12, Dezembro de 1918, p. CCCLXXXII.
[41] Cf. Alberto Saavedra, «Recordações de uma campanha antiepidémica», Portugal Médico, 3ª série, vol. V, nº 1, Janeiro de 1919, p. 30.
[42] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., p. 101.
[43] Cf. Alberto Saavedra, «Recordações…», cit., p. 24.
[44] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., p. 183.
[45] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., pp. 83-84.
[46] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., p. 146.
[47] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., p. 268.
[48] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., p. 146.
[49] Cf. Alfred W. Crosby, America’s Forgotten Pandemic. The influenza of 1918, Cambridge, Cambridge University Press, 1989, p. 76.
[50] Cf. Alfred W. Crosby, America’s Forgotten…, cit., p. XIII.
[51] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady…, cit., pp. 30-31.
[52] Cf. Howard Phillips e David Killingray, «Introduction», cit., p. 10.
[53] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., p. 83. Refere-se que terão perecido 250.000 alemães vítimas da gripe: cf. Winfried Witte, «The plague that was not allowed to happen. German medicine and the influenza epidemic of 1918-19 in Baden», in Howard Phillips e David Killingray (eds.), The Spanish Influenza Pandemic…, cit., p. 49.
[54] Cf. Alfred W. Crosby, Epidemic and Peace, 1918, cit., p. 27.
[55] Cf. W. I. B. Beveridge, Influenza: the last great plague. An  unfinished story of discovery, Londres, Heinemann, 1977, p. 31; contestando, de alguma forma, esta ideia, cf. Celestino da Costa Maia, Estudo Clínico da Gripe Epidémica, Porto, Tip. a vapor «Enciclopedia Portuguêsa», 1920, pp. 75-76; mais recentemente, Howard Phillips e David Killingray, «Introduction», cit., p. 9.
[56] Cf. Peter B. Heller, «1918-1919...», cit., p. 1330.
[57] Cf. W. I. B. Beveridge, Influenza..., cit., p. 2.
[58] Cf. Adriana da Costa Goulart, «Revisitando a espanhola...», cit., p. 109.
[59] Cf. M. E. Cordeiro Ferreira, «Epidemias», in Joel Serrão (dir.), Dicionário de História de Portugal, vol. II – Castanhoso-Fez, s.l., Iniciativas Editoriais, 1975, p. 407.
[60] Cf. Fernando da Silva Correia, Portugal Sanitário..., cit., p. 479.
[61] Cf. Domingos José Dias, A Pandemia Gripal de 1918, Porto, s.n., 1919, p. 45.
[62] Cf. Acácio da Silva Ribeiro, Breve Resumo da Gripe de 1918. Valor do novarsenobenzol «Billon» como preventivo da grande epidemia, Coimbra, Tip. Popular, 1920, pp. 34-36.
[63] Cf. Celestino da Costa Maia, Estudo Clínico da Gripe Epidémica, cit., s/p.
[64] Cf. Paulo Girão, A Gripe Pneumónica no Algarve (1918), policop., Lisboa, 2002, p. 61 [tb. publicado em livro]; cf. ainda Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., pp. 18ss, que discute as teses da «origem americana» e da «origem europeia».
[65] Considerando, porém, que a gripe pode ter tido origem quer nos Estados Unidos da América quer na China, cf. W. I. B. Beveridge, Influenza..., cit., p. 43.
[66] Ainda que seja duvidoso poder falar-se de uma relação directa entre a guerra e a gripe: cf. infra. 
[67] Cf. Marques dos Santos, «Ensaios sobre a grippe coimbrã», Portugal Médico, 3ª série, vol. IV, nº 12, Dezembro de 1918, p. 737.
[68] Sobre a «tese asiática», cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., pp. 20ss, falando num número global de 200.000 coolies enviados para França; cf. ainda Alfred W. Crosby, Epidemic and Peace, 1918, cit., p. 9; explicitando os argumentos a favor da «tese norte-americana», cf. Howard Phillips e David Killingray, «Introduction», cit., pp. 5ss.
[69] Cf. Alfred W. Crosby, Epidemic and Peace, 1918, cit., pp. 37ss.
[70] Cf. Almeida Garrett, «A pandemia gripal», Portugal Médico, 3ª série, vol. IV, nº 10, Outubro de 1918, p. 616.
[71] Cf. Alfred W. Crosby, Epidemic and Peace, 1918, cit., p. 27.
[72] Cf. João José Cúcio Frada, A Pneumónica de 1918..., cit., p. 124; Alfred W. Crosby, Epidemic and Peace, 1918, cit., p. 26.
[73] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., p. 22.
[74] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., p. 24.
[75] Sobre a gripe no Exército dos Estados Unidos, cf. Alfred W. Crosby, Epidemic and Peace, 1918, cit., pp. 145ss.
[76] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., p. 38.
[77] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., p. 25.
[78] Cf. Alfred W. Crosby, Epidemic and Peace, 1918, cit., p. 315.
[79] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., pp. 111-112.
[80] Cf. Adérito Mendes Madeira, Typho Exanthematico, Coimbra, Typographia França Amado, 1918, p. 4.
[81] Cf. Yves-Marie Bercé, «Os soldados de Napoleão vencidos pelo tifo», in Jacques Le Goff (apresent.), As Doenças têm História, trad. portuguesa, 2ª ed. revista, Lisboa, Terramar, 1997, pp. 161ss.
[82] Cf. Ricardo Jorge, «A nova incursão peninsular da influenza», Portugal Médico, 3ª série, vol. IV, nº 6, Junho de 1918, p. 439.
[83] Cf. Martin Gilbert, A History of the Twentieth Century, vol. 1 – 1900-1933, Londres, Harper Collins, 1997, p. 532.
[84] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., pp. 11-12.
[85] Cf. Alfred W. Crosby, Epidemic and Peace, 1918, cit., pp. 171ss.
[86] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., p. 83.
[87] Cf. Yves-Marie Bercé, «Os soldados de Napoleão...», cit., p. 173.
[88] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., p. 12; Alfred W. Crosby, «Influenza», in Kenneth F. Kiple (ed.), The Cambridge World History of Human Disease, Cambridge e Nova Iorque, Cambridge University Press, 1993, p. 810.
[89] Cf. Patrick Zylberman, «A holocaust in the holocaust. The Great War and the 1918 Spanish influenza epidemic in France», in Howard Phillips e David Killingray (eds.), The Spanish Influenza Pandemic…, cit., p. 199. Segundo este autor, não foi a guerra mas sim as redes de transportes que potenciaram a difusão da doença (pp. 199-200).
[90] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., pp. 13-14.
[91] Cf. Celestino da Costa Maia, Estudo Clínico da Gripe Epidémica, cit., s/p. e p. 79.
[92] Cf. Peter B. Heller, «1918-1919...», cit., p. 1329; Alfred W. Crosby, «Influenza», cit., em esp. pp. 809-810. Assim, por exemplo, em Inglaterra, Escócia e País de Gales registaram-se cerca de 225.000 mortos, 45% dos quais na faixa etária entre os 15 e os 35 anos: cf. N. P. A. S. Johnson, «The overshadowed killer. Influenza in Britain in 1918-19», in Howard Phillips e David Killingray (eds.), The Spanish Influenza Pandemic…, cit., p. 132. Em França, verificaram-se cerca de 240.000 óbitos, predominantemente na faixa 14-44 anos e com uma nítida prevalência masculina: cf. Patrick Zylberman, «A holocaust…», cit., p. 193 e p. 197.
[93] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., pp. 14ss.
[94] Cf. Howard Phillips e David Killingray, «Introduction», cit., pp. 8-9.
[95] Cf. Sacuntala de Miranda, «A base demográfica», cit., p. 20. Um relatório de Ricardo Jorge atribuiu 100.000 mortes à influenza de 1918 (in F. G. Velhinho Correia, Situação Económica e Financeira de Portugal. Território e população. Riqueza do País. Bancos e caixas de crédito. Câmbios. Comércio externo, movimento com a Inglaterra. Balanço de contas, Lisboa, Imprensa Nacional, 1926, p. 6).
[96] Cf. João José Cúcio Frada, A Pneumónica de 1918..., cit., p. 284. Há quem refira, a propósito da epidemia da gripe, que entre 1918 e 1919 «sucumbiram 102 750 pessoas» (cf. M. E. Cordeiro Ferreira, «Epidemias», cit., p. 407), mas não é claro que tal número se refira apenas àquela doença.
[97] Cf. J. T. Montalvão Machado, Como Nascem e Morrem os Portugueses, Lisboa, Dep. Gomes & Rodrigues, s.d., p. 477.
[98] Cf. J. T. Montalvão Machado, Como Nascem..., cit., pp. 184-185
[99] Cf. António Arnaldo de Carvalho Sampaio, Subsídios para o Estudo da Epidemiologia da Gripe, s.n., Lisboa, 1958, p. 90.
[100] Cf. António Arnaldo de Carvalho Sampaio, Subsídios para o Estudo..., cit., p. 90.
[101] Cf. F. G. Velhinho Correia, Situação Económica e Financeira de Portugal. Território e população..., cit., p. 4.
[102] Cf. Fernando da Silva Correia, Portugal Sanitário..., cit., p. 479.
[103] Cf. Fernando da Silva Correia, Portugal Sanitário..., cit., p. 479.
[104] Cf. Fernando da Silva Correia, Portugal Sanitário..., cit., p. 480.
[105] Cf. Fernando da Silva Correia, Portugal Sanitário..., cit., p. 480.
[106] Cf. Sacuntala de Miranda, «A base demográfica», cit., p. 20.
[107] Cf. Portugal Médico, 3ª série, vol. IV, nº 4, Abril de 1918, p. 263. Cf. tb. A. de Almeida Garrett, «O typho exantemático no Porto», Portugal Médico, 3ª série, vol. V, nº 4, Abril de 1919, p. 238.
[108] Cf. Ricardo Jorge, Le Typhus Exanthématique à Porto, 1917-1919. Communication faite au Comitè International d’Hygiène Publique dans as session d’octobre 1919, Lisboa, Imprensa Nacional, 1920, p. 7.
[109] Cf. Thiago d’Almeida, Lições de Clínica Médica, vol. II, Braga, Livraria Cruz, 1922, p. 317; Id., «O typho exanthematico», Portugal Médico, 3ª série, vol. IV, nº 1, Janeiro de 1919, p. 38.
[110] Basta referir que só nos seis últimos meses de guerra atravessaram o Atlântico um milhão e quinhentes mil soldados norte americanos: cf. Alfred W. Crosby, Epidemic and Peace, 1918, cit., p. 31.
[111] Cf. Alfred W. Crosby, Epidemic and Peace, 1918, cit., p. 9.
[112] Sobre o conhecimento médico desta doença na época, cf., por ex., Eurico Ribeiro, O Typho Exantematico (Breve estudo), Porto, Imprensa C. Vasconcellos, 1906.
[113] Cf. Berta Nunes, O Saber Médico do Povo, cit., p. 85.
[114] Cf. Berta Nunes, O Saber Médico do Povo, cit., p. 86.
[115] Cf. Berta Nunes, O Saber Médico do Povo, cit., p. 88.
[116] Cf. João Leitão, Breve Estudo sobre o Tifo Exantemático e Algumas Notas da sua Última Epidemia em Braga, Braga, Tipografia A. Costa & Matos, 1920, pp. 26-27.
[117] Cf. Ricardo Jorge, «A epidemia do Porto», Portugal Médico, 3ª série, vol. IV, nº 2, Fevereiro de 1918, p. 65.
[118] Cf. João Leitão, Breve Estudo sobre o Tifo Exantemático..., cit., p. 47.
[119] Cf. João Leitão, Breve Estudo sobre o Tifo Exantemático..., cit., p. 29.
[120] Cf. Maria de Fátima Pinto, Os Indigentes entre a Assistência e a Repressão. A outra Lisboa no 1º terço do século, Lisboa, Livros Horizonte, 1999, pp. 99ss.
[121] Cf. F. A. Gonçalves Ferreira, História da Saúde e dos Serviços de Saúde em Portugal, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1990, p. 275; para uma breve nota sobre as instituições médicas e assistenciais nesse período, cf. A. H. de Oliveira Marques, «A Primeira República», in A. H. de Oliveira Marques (coord.), História de Portugal Contemporâneo (Economia e Sociedade), Lisboa, Universidade Aberta, 1993, em esp. pp. 243ss; em especial sobre o higienismo, até cerca de 1910, cf. M. Ferreira Mira, História da Medicina Portuguesa, Lisboa, Empresa Nacional de Publicidade, 1947, pp. 503ss.
[122] Cf. Acácio da Silva Ribeiro, Breve Resumo da Gripe de 1918..., cit., p. 34.
[123] Cf. António Vaz Patto de Figueiredo Martins, A Grippe, Coimbra, Tipografia Popular, 1919, p. 49.
[124] Cf. Christiane Maria Cruz de Souza, «A gripe espanhola em Salvador, 1918: cidade de becos e cortiços», História, Ciência, Saúde – Manguinhos, vol. 12, nº 1, Janeiro-Abril de 2005, p. 81.
[125] Christiane Maria Cruz de Souza, «A gripe espanhola em Salvador, 1918...», cit., p. 84.
[126] Cf. Portugal Médico, 3ª série, vol. IV, nº 7, Julho de 1918, p. 464.
[127] Cf. Ricardo Jorge, «Influenza pneumonica», Portugal Médico, 3ª série, vol. IV, nº 9, Setembro de 1918, p. 575.
[128] Cf. John M. Barry, The Great Influenza. The epic story of the deadliest plague in History, Nova Iorque, 2004, p. 255.
[129] Cf. Portugal Médico, 3ª série, vol. IV, nº 9, Setembro de 1918, p. 590.
[130] Cf. Portugal Médico, 3ª série, vol. IV, nº 10, Outubro de 1918, p. 664.
[131] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., p. 3.
[132] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., p. 8.
[133] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., pp. 81ss.
[134] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., p. 105.
[135] Cf. Terence Ranger, «A historian’s perspective», in Howard Phillips e David Killingray (eds.), The Spanish Influenza Pandemic…, cit., p. XX; cf. ainda a síntese de Howard Phillips e David Killingray, «Introduction», cit., p. 6.
[136] Cf. Acácio da Silva Ribeiro, Breve Resumo da Gripe de 1918..., cit., pp. 42ss.
[137] Cf. Nicolau Bettencourt, «A propósito da actual epidemia», Medicina Contemporânea, nº 41, reproduzido in Portugal Médico, 3ª série, vol,. IV, nº 10, Outubro de 1918, p. 644. 
[138] Cf. Amândio de Campos, Breves Considerações sobre a Grande Epidemia de 1918, Lisboa, Imprensa Libânio da Silva, 1919, p. 25.
[139] Cf. António Vaz Patto de Figueiredo Martins, A Grippe, cit., p. 39.
[140] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., pp. 12-13.
[141] Cf. Howard Phillips e David Killingray, «Introduction», cit., p. 6.
[142] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., p. 35.
[143] Cf. os estudos in www.nature.com/nature/focus/1918flu/index.html; cf. tb. Diário de Notícias, de 18-I-2007.
[144] Cf. N. P. A. S. Johnson, «The overshadowed killer…», cit., pp. 152-153.
[145] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., p. 238.
[146] Cf. Nancy K. Bristow, «“You can’t do anything for influenza”. Doctors, nurses and the power of gender during the influenza pandemic in the United States», in Howard Phillips e David Killingray (eds.), The Spanish Influenza…, cit., p. 66.
[147] Cf. Alfred W. Crosby, Epidemic and Peace, 1918, cit., p. 7.
[148] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., p. 37.  
[149] «A despeito de tudo o que se tem dito e escrito ainda hoje não é conhecido o verdadeiro agente da gripe», escrevia em 1919 António Vaz Patto de Figueiredo Martins, A Grippe, cit., p. 20.
[150] Cf. António Maria do Couto Zagallo Júnior, Tifo Exantemático (Dados teóricos. Observações clínicas), Coimbra, Casa Tipográfica, 1919, p. 53.
[151] Cf. António Maria do Couto Zagallo Júnior, Tifo Exantemático..., cit., p. 18.
[152] Cf. António Vaz Patto de Figueiredo Martins, A Grippe, cit., p. 59.
[153] Cf. Amândio de Campos, Breves Considerações sobre a Grande Epidemia de 1918, cit., p. 32, que descreve com pormenor os diversos tratamentos ensaiados (pp. 31ss).
[154] Cf. Acácio da Silva Ribeiro, Breve Resumo da Gripe de 1918..., cit., pp. 54-55. As divisões de opinião entre a classe médica não foram, aliás, um exclusivo nacional: também no Brasil existiram grandes querelas sobre a forma mais adequada de tratamento da pneumónica: cf. Adriana da Costa Goulart, «Revisitando a espanhola...», cit., p. 108; Liane Maria Bertucci-Martins, «Entre doutores e leigos: fragmentos do discurso médico na influenza de 1918», História, Ciência, Saúde – Manguinhos, vol. 12, nº 1, Janeiro-Abril de 2005, pp. 143ss,
[155] Cf. Ricardo Jorge, Le Typhus Exanthématique..., cit., p. 10.
[156] Cf. Ricardo Jorge, Le Typhus Exanthématique..., cit., p. 12.
[157] Cf. A. H. de Oliveira Marques (dir.), História da 1ª República Portuguesa. As estruturas de base, Lisboa, Iniciativas Editoriais, s.d., p. 11.
[158] Cf. W. I. B. Beveridge, Influenza..., cit., p. 21.
[159] Cf. João José Cúcio Frada, A Pneumónica de 1918..., cit., p. 127.
[160] Cf. Domingos José Dias, A Pandemia Gripal de 1918, cit., p. 49; Affonso Henriques Malheiro Madeira, A Gripe. Estudo de epidemiologia, Porto, 1921, s.n., p. 69.
[161] Cf. Almeida Garrett, «Contra a epidemia de gripe pneumónica, em 1918, no norte do País», Portugal Médico, 3ª série, vol. V, nº 11, Novembro de 1919, p. 653.
[162] Cf. Domingos José Dias, A Pandemia Gripal de 1918, cit., pp. 49-50. 
[163] Cf. Affonso Henriques Malheiro Madeira, A Gripe..., cit., p. 71.
[164] Cf. Howard Phillips e David Killingray, «Introduction», cit., p. 4.
[165] Cf. Ricardo Jorge, La Grippe. Rapport préliminaire présenté à la Commission Sanitaire des Pays Alliés, dans sa session de Mars 1919, Lisboa, Imprensa Nacional, 1919, p. 11 [tb. publicado como «A gripe», Portugal Médico, 3ª série, vol. V, nº 4, Abril de 1919, pp. 209ss, nº 5, Maio de 1919, pp. 308ss, nº 7, Julho de 1919, pp. 428ss].
[166] Cf. João José Cúcio Frada, A Pneumónica de 1918..., cit., p. 125.
[167] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., p. 5. A doença teve vários nomes nos diversos continentes: «trancazo» em Cuba e nas Filipinas, «a doença bolchevique» na Polónia, a «coquette» para os suíços, a «febre de Bombaim» para os cingaleses, a «febre de Singapura» em Penang; na Grã-Bretanha, prevaleceu a designação oficial de «influenza», substituindo a expressão catarrho epidemico: Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., p. 82.
[168] Cf. Jorge Crespo, A História do Corpo, cit., p. 144.
[169] Cf. Paulo Girão, A Gripe Pneumónica no Algarve (1918), cit., pp. 66ss.
[170] Cf. Ricardo Jorge, La Grippe..., cit., p. 11.
[171] Cf. Ricardo Jorge, La Grippe..., cit., p. 12.
[172] Cf. João José Cúcio Frada, A Pneumónica de 1918..., cit., pp. 286-287.
[173] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., p. 91.
[174] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., p. 44.
[175] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., p. 73.
[176] Cf. António Vaz Patto de Figueiredo Martins, A Grippe, cit., pp. 52-53.
[177] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., p. 92.
[178] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., p. 139.
[179] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., p. 25.
[180] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., p. 26.
[181] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., p. 26.
[182] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., p. 31.
[183] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., p. 28.
[184] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., pp. 28-29; Alfred W. Crosby, Epidemic and Peace, 1918, cit., pp. 37ss.
[185] Sobre o risco particular dos navios como transportadores da doença, cf. Alfred W. Crosby, Epidemic and Peace, 1918, cit., pp. 121ss. 
[186] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., p. 34.
[187] Cf. Patrick Zylberman, «A holocaust…», cit., p. 200.
[188] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., p. 33.
[189] Cf. Maria da Graça David de Morais, Causas de Morte..., cit., p. 130.
[190] Cf. a discussão deste ponto em Alfred W. Crosby, Epidemic and Peace, 1918, cit., pp. 221ss.
[191] Cf. António Vaz Patto de Figueiredo Martins, A Grippe, cit., p. 35.
[192] Apud Alfred W. Crosby, Epidemic and Peace, 1918, cit., p. 325.
[193] Cf. Luís Trindade, «A pneumónica de 1918 em Portugal», in AA.VV., Factos Desconhecidos da História de Portugal, Lisboa, Selecções do Reader’s Digest, 2004, p. 228; Id., «A epidemia da gripe pneumónica...», cit., p. 40.
[194] Cf. Alfred W. Crosby, Epidemic and Peace, 1918, cit., pp. 227ss.
[195] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., pp. 35-37; cf. ainda Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., pp. 92ss; Alfred W. Crosby, Epidemic and Peace, 1918, cit., pp. 91ss.
[196] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., p. 35.
[197] Cf. Hospitais Civis de Lisboa. Suplemento ao Boletim de 1918. Relatórios e notícias sobre a epidemia de gripe pneumónica, cit., p. 25.
[198] Cf. Teófilo Duarte, Sidónio Pais…, cit., p. 231.
[199] Cf. Hospitais Civis de Lisboa. Suplemento ao Boletim de 1918. Relatórios e notícias sobre a epidemia de gripe pneumónica, cit., p. 24.
[200] Cf. Hospitais Civis de Lisboa. Suplemento ao Boletim de 1918. Relatórios e notícias sobre a epidemia de gripe pneumónica, cit., p. 29.
[201] Cf. João José Cúcio Frada, A Pneumónica de 1918..., cit., p. 262.
[202] Cf. Georges Duby, Ano 1000, Ano 2000. No rasto dos nossos medos, trad. portuguesa, Lisboa, Editorial Teorema, 1997, p. 85.
[203] Cf. Ricardo Jorge, Summa Epidemologica de la Peste. Épidémies anciennes et modernes, Paris, Office International d’Hygyène Publique, 1933, p. 13.
[204] Cf. Adriana da Costa Goulart, «Revisitando a espanhola...», cit., p. 112.
[205] Cf. Portugal Médico, 3ª série, vol. V, nº 2, Fevereiro de 1919, pp. LI-LIV.
[206] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., p. 75.
[207] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., pp. 77ss.
[208] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., p. 112.
[209] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., p. 113.
[210] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., p. 115.
[211] Cf. Christiane Maria Cruz de Souza, «A gripe espanhola em Salvador, 1918...», cit., p. 82.
[212] Cf. Adriana da Costa Goulart, «Revisitando a espanhola...», cit., pp. 105-106.
[213] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., pp. 139-140 e pp. 146ss.
[214] Cf. Winfried Witte, «The plague that was not allowed to happen…», cit., p. 49.
[215] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., p. 8.
[216] «A gripe espanhola nada tem de “espanhol”» diz, liminarmente, uma autora espanhola (cf. Beatriz Echeverri, «Spanish influenza…», cit., p. 1739).
[217] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., p. 11.
[218] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., p. 273.
[219] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., p. 16.
[220] Apud Alfred W. Crosby, Epidemic and Peace, 1918, cit., p. 158.
[221] Cf. César Augusto Fernandes Torres, Considerações sobre a Gripe. Dissertação inaugural apresentada à Faculdade de Medicina do Porto, s.l., s.n., 1920, pp. 42-43.
[222] Cf. Amândio de Campos, Breves Considerações sobre a Grande Epidemia de 1918, cit., p. 45.
[223] Cf. Diário da Câmara dos Deputados, Sessão nº 17, de 4-VII-1919, p. 6.
[224] Cf. Diário da Câmara dos Deputados, Sessão nº 108, de 14-VI-1923, p. 9.
[225] Cf. Paulo Girão, A Gripe Pneumónica no Algarve (1918), cit., pp. 149ss. Sobre a resposta do Estado e da sociedade civil, cf., por todos Paulo Silveira e Sousa, Paula Castro, Maria Luísa Pedroso de Lima, José Manuel Sobral, «Responder à epidemia: Estado e sociedade civil no combate à gripe pneumónica 1918-1919», Revista de História das Ideias, vol. 29, 2008, pp. 443-475.
[226] Cf. Diário do Senado, Sessão nº 29, de 13-VIII-1919, p. 5.
[227] Cf. Diário do Senado, Sessão nº 67, de 20-XI-1919, p. 3.
[228] Cf. Diário do Senado, Sessão nº 82, de 19-VII-1922, p. 5.
[229] Cf. Diário do Senado, Sessão nº 22, de 10-III-1925, p. 12.
[230] Cf. Diário do Senado, Sessão nº 43, de 9-IV-1926, p. 11.
[231] Cf. Relatório e Contas..., cit., p. 7.
[232] Cf. Relatório e Contas..., cit., p. 12.
[233] Cf. Relatório e Contas..., cit., p. 14.
[234] Cf. João José Cúcio Frada, A Pneumónica de 1918..., cit., p. 138; em sentido contrário, numa análise global, cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., p. 51 e pp. 58-59.
[235] Cf. António Arnaldo de Carvalho Sampaio, Subsídios para o Estudo..., cit., p. 92; cf. Luís Trindade, «A epidemia da gripe pneumónica...», cit., p. 37.
[236] Cf. António Arnaldo de Carvalho Sampaio, Subsídios para o Estudo..., cit., p. 97.
[237] Cf. Hospitais Civis de Lisboa. Suplemento ao Boletim de 1918. Relatórios e notícias sobre a epidemia de gripe pneumónica, cit., p. 43.
[238] Cf. Hospitais Civis de Lisboa. Suplemento ao Boletim de 1918. Relatórios e notícias sobre a epidemia de gripe pneumónica, cit., p. 6.
[239] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., p. 33.
[240] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., p. 131.
[241] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., pp. 33-34.
[242] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., p. 138.
[243] Cf. Júlio Fernando Simões de Macedo, Tifo Exantemático. Considerações sobre alguns casos. Estudo de clínica terapêutica. Dissertação inaugural apresentada à Faculdade de Medicina do Porto, Braga, Imprensa Henriquina, 1920, p. 26.
[244] Cf. Júlio Fernando Simões de Macedo, Tifo Exantemático..., cit., p. 27.
[245] Cf. Júlio Fernando Simões de Macedo, Tifo Exantemático..., cit., p. 37.
[246] Cf. Júlio Fernando Simões de Macedo, Tifo Exantemático..., cit., p. 22.
[247] Cf. Júlio Fernando Simões de Macedo, Tifo Exantemático..., cit., p. 22.
[248] Cf. Júlio Fernando Simões de Macedo, Tifo Exantemático..., cit., p. 26.
[249] Cf. Adérito Mendes Madeira, Typho Exanthematico..., cit., p. 53.
[250] Cf. Adérito Mendes Madeira, Typho Exanthematico..., cit., p. 16.
[251] Cf. A. H. de Oliveira Marques (dir.), História da 1ª República..., cit., p. 10.
[252] Cf. Jorge Crespo, A História do Corpo, cit., pp. 203-204.
[253] Cf. Luís Trindade, «A pneumónica de 1918 em Portugal», cit., pp. 228-229.
[254] Cf. Juvenal Esteves, Anamnesis. Memória e história. Figuras e factos da medicina portuguesa, 1930-1980, Venda Nova, Bertrand Editora, 1992, p. 35.
[255] Cf. Amândio de Campos, Breves Considerações sobre a Grande Epidemia de 1918, cit., pp. 21ss.
[256] Cf. Amândio de Campos, Breves Considerações sobre a Grande Epidemia de 1918, cit., p. 23.
[257] Cf. Alfred W. Crosby, Epidemic and Peace, 1918, cit., p. 81.
[258] Cf. Alfred W. Crosby, Epidemic and Peace, 1918, cit., p. 97.
[259] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., pp. 148-149.
[260] Cf. Pde. A. Tavares Martins, O Avivar de uma Memória..., cit., p. 93.
[261] Cf. Portugal Médico, 3ª série, vol. IV, nº 2, Fevereiro de 1918, p. 135.
[262] Cf. Luís Trindade, «A epidemia da gripe pneumónica...», cit., p. 39.
[263] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., p. 84.
[264] Cf. W. I. B. Beveridge, Influenza..., cit., p. 24.
[265] Cf. Alfred W. Crosby, Epidemic and Peace, 1918, cit., p. 149.
[266] Cf. Nancy K. Bristow, «“You can’t do anything for influenza”…», cit., p. 67.
[267] Cf. Nancy K. Bristow, «“You can’t do anything for influenza”…», cit., p. 67.
[268] Cf. Nancy K. Bristow, «“You can’t do anything for influenza”…», cit., pp. 66-67.
[269] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., p. 163.
[270] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., p. 105.
[271] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., pp. 186ss.
[272] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., p. 193.
[273] Cf. Alfred W. Crosby, Epidemic and Peace, 1918, cit., p. 102.
[274] Cf. Alfred W. Crosby, Epidemic and Peace, 1918, cit., p. 103.
[275] Cf. Alfred W. Crosby, Epidemic and Peace, 1918, cit., p. 105.
[276] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., p. 37.
[277] Cf. A Capital, de 25-IX-1918.
[278] Cf. Luís Trindade, «A epidemia da gripe pneumónica...», cit., p. 37.
[279] Cf. Maria da Graça David de Morais, Causas de Morte..., cit., p. 172.
[280] Cf. Luís Trindade, «A pneumónica de 1918 em Portugal», cit., p. 228.
[281] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., p. 12.
[282] Cf. Um Arcebispo Apóstolo..., cit., pp. 15-16; Francisco Maria da Silva, A Alma do Arcebispo Apóstolo..., cit., pp. 76-77.
[283] Cf. Visconde de Montelo, As Grandes Maravilhas de Fátima..., cit., pp. 131ss.
[284] Apud António dos Reis Rodrigues, Vidas Autênticas..., cit., p. 25, itálicos acrescentados. Depois de evocar a sua personalidade, dizendo que junto dele «um punhado de jovens procurava esclarecer a sua fé e afirmar a presença católica num meio que a acção do Estado revolucionário e o furor das forças anti-religiosas e anticlericais procuravam descristianizar por todos os modos e o mais depressa possível», Marcello Caetano é peremptório do reconhecimento da profunda marca que nele deixou Pereira dos Reis: «fora da família nenhuma influência recebi na minha formação que se possa comparar à dele» (cf. Marcello Caetano, Minhas Memórias de Salazar, cit., p. 13).
[285] Cf. Joaquim M. V. Rodrigues, «Algarve, 1914-1918. O impacte da guerra», História, Novembro de 1998, pp. 46ss.
[286] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., p. 156.
[287] Apud Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., p. 158.
[288] Cf. Paulo Girão, A Gripe Pneumónica no Algarve (1918), cit., p. 150.
[289] Cf. Jorge Crespo, A História do Corpo, cit., pp. 168ss.
[290] Cf. Beatriz Echeverri Dávila, La Gripe Española..., cit., p. 156.
[291] Cf. Paulo Girão, A Gripe Pneumónica no Algarve (1918), cit., p. 154.
[292] Cf. Paulo Girão, A Gripe Pneumónica no Algarve (1918), cit., p. 190.
[293] Apud Paulo Girão, A Gripe Pneumónica no Algarve (1918), cit., p. 190, nota 684.
[294] Cf. Paulo Girão, A Gripe Pneumónica no Algarve (1918), cit., p. 190.
[295] Cf. Richard Collier, The Plague of the Spanish Lady..., cit., p. 165.
[296] Cf. Alain Corbin, Les Cloches de la Terre..., cit., p. 279.
[297] Cf. João José Cúcio Frada, A Pneumónica de 1918..., cit., p. 252.
[298] Cf. João José Cúcio Frada, A Pneumónica de 1918..., cit., p. 269.
[299] Cf. César Augusto Fernandes Torres, Considerações sobre a Gripe..., cit., p. 16.
[300] Cf. João José Cúcio Frada, A Pneumónica de 1918..., cit., pp. 266-267.
[301] Cf. João José Cúcio Frada, A Pneumónica de 1918..., cit., pp. 276ss.
[302] Cf. AHPL, Correspondência Official com a Santa Sé – Nunciatura – Sé Patriarchal – Bulla – e Indultos Pontifícios, desde 7 de Março de 1908 a ...  [1929], ofício de 11-IX-1919.















8 comentários:

  1. Relato impressionante!
    No tempo presente o sarampo pode ser a doença que acompanhe a pandemia...
    Grata pela partilha

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  2. Porque não faz a reedição desse livro...? :)

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  3. Olá António,

    Sou um grande apreciador dos seus textos e tenho na minha biblioteca os seus livros.
    Já por várias vezes pediu no repositório da católica para poder aceder à sua tese de doutoramento,A oposição católica no marcelismo : o caso da Capela do Rato, e não obtive resposta. Dado que este estudo não foi publicado e está datado de 2011 é possível eu aceder para ler?

    Cordialmente,
    Tiago Ferreira

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  4. Boa noite, Tiago Ferreira, com o maior gosto, autorizo a consulta da tese, sem problema. Quanto à reedição, caro Armando Pereira, de facto o livro está esgotado, mas não será fácil encontrar agora quem queira publicar uma obra com várias centenas de páginas...

    Um abraço a ambos,

    António Araújo

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  5. Obrigado António!!!
    Eu já fiz o pedido no site da Universidade Católica e fico a aguardar a sua autorização para levantar o embargo.
    Abraço,
    Tiago Ferreira

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  6. Já tentei dar a minha autorização, hoje mesmo, algumas vezes, mas dá «erro interno do sistema». No site, pedem para falar com o administrador, Agostinho Macau, como vamos fazer?

    Abraço

    António

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  7. Eu recebi ontem um email do repositório da Universidade Católica a dar conta de que o seu email estava incorrecto e que eles tinham corrigido mas havia o problema do email já não estar ativo. A pessoa que me respondeu ao email foi João Dias.
    Eu posso deixar criar um email fictício e deixar aqui a indicação e o António se não se importar pode enviar para aquele sítio.

    Cordialmente,

    Tiago Ferreira

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