Para assinalar um ano e três meses passados sobre o dia 7 de Outubro de 2023
«Chi meglio di te?» foram as palavras de Elia Dalla Costa, cardeal de Florença, a Gino Bartali. Em 1943, o ciclista já vencera o giro e o tour de France. Bom católico, Gino aceitou a missão. Tratava-se de transportar documentos falsificados entre as duas Itálias, a ocupada e a livre. A pretexto de que se treinava, e sendo uma figura popular que não levantava suspeitas, Bartali contrabandeou os documentos, escondidos nos tubos do selim e do guiador, contribuindo dessa forma para salvar muitos judeus. Hoje tem uma árvore no Yad Vashem, tal como o cardeal Elia Dalla Costa.
Na interpelação do cardeal florentino, não reside uma exigência abstracta e sem destinatário. «Quem melhor do que tu?» é uma interrogação que se dirige a uma pessoa concreta nas suas circunstâncias concretas. O que afirma tem em conta esses elementos mas transcende-os. A pergunta depende dos talentos do espírito, das qualidades do temperamento e dos dons da fortuna, sem dúvida. Mas o que lhes dá sentido e unidade é de outra ordem: qual a finalidade do seu uso? Nessa acepção pode ser universalizada, reencontrando por essa via o messianismo judaico, o mundo só poder ser completado pelo Homem. Em tempos de perseguição – menos do que nunca –, a pergunta do cardeal não fica no passado, relegada ao pó dos arquivos, é de hoje, é a que tem de ser feita a si mesmo por cada qual nas suas circunstâncias: Chi meglio di te?
João Tiago Proença
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