Como muitas
outras coisas maravilhosas que há na Terra, nasceram para a civilização nos anos 80 do século
passado. Só então o mundo cultivado soube que existia este povo, os Moken, numa galáxia distante. São duas ou três mil
almas, que mergulham no Mar de Andamão, ao sul da Tailândia e de Myanmar. Vivem
em barcos durante mais de metade do ano. Kabang,
assim se chamam as suas embarcações, feitas do tronco de uma só árvore. As
crianças Moken aprendem a nadar antes sequer de saberem caminhar em terra firma. Os Moken, conhecidos por ciganos dos mares, são seres de águas
profundas, que conseguem mergulhar lá longe. Num instante, estão aqui, ali.
A
cientista sueca Anna Gislen, da Universidade de Lund (e com um montão de citações FCT no Google Scholar), fez uma descoberta extraordinária: as crianças
Moken têm uma capacidade única, singularíssima, de contrair as pupilas dos
olhos, o que lhes confere uma visão precisa e apurada, muito mais do que a
nossa, enquanto serpenteiam a sua alegria gaiata no azul translúcido. Poderiam
ter utilizado este dom para acumular riquezas, explorando o muito que dão os mares.
Mas os Moken recusaram. São generosos e simples, levam uma vida despojada de
tudo quanto é acessório e efémero. Pacíficos, tranquilos, são peixinhos que
tratam os outros, todos os outros, como se fossem seus familiares. The Family of Man. As suas crenças
animistas levam-nos a acreditar nos oceanos e a respeitar, acima de tudo, o
poder do mar. Por isso, diz-se que o tsunami de 2004 não os afectou.
Pressentindo a sua chegada, refugiaram-se em lugares mais altos, abrigando-se
da Grande Onda. Quando nos elevamos, não há tsunami que nos arraste na sua
voragem vertiginosa. Talvez tudo isto não passe de uma historieta, mas é contado aqui. E a
BBC mostrou-nos os Moken a nadar no mar, contraindo as pupilas para ver, com
nitidez incrível, o fundo do mundo, aquilo que de essencial existe. Ver à
distância, sem haver distância. Se até a BBC acredita, quem somos nós para
duvidar?
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