quinta-feira, 10 de outubro de 2013

peixinhos do mar

 
 

 
 
 
 
 
        Como muitas outras coisas maravilhosas que há na Terra, nasceram para a civilização nos anos 80 do século passado. Só então o mundo cultivado soube que existia este povo, os Moken, numa galáxia distante. São duas ou três mil almas, que mergulham no Mar de Andamão, ao sul da Tailândia e de Myanmar. Vivem em barcos durante mais de metade do ano. Kabang, assim se chamam as suas embarcações, feitas do tronco de uma só árvore. As crianças Moken aprendem a nadar antes sequer de saberem caminhar em terra firma. Os Moken, conhecidos por ciganos dos mares,  são seres de águas profundas, que conseguem mergulhar lá longe. Num instante, estão aqui, ali.
 
 
 
 
 
 
A cientista sueca Anna Gislen, da Universidade de Lund (e com um montão de citações FCT no Google Scholar), fez uma descoberta extraordinária: as crianças Moken têm uma capacidade única, singularíssima, de contrair as pupilas dos olhos, o que lhes confere uma visão precisa e apurada, muito mais do que a nossa, enquanto serpenteiam a sua alegria gaiata no azul translúcido. Poderiam ter utilizado este dom para acumular riquezas, explorando o muito que dão os mares. Mas os Moken recusaram. São generosos e simples, levam uma vida despojada de tudo quanto é acessório e efémero. Pacíficos, tranquilos, são peixinhos que tratam os outros, todos os outros, como se fossem seus familiares. The Family of Man. As suas crenças animistas levam-nos a acreditar nos oceanos e a respeitar, acima de tudo, o poder do mar. Por isso, diz-se que o tsunami de 2004 não os afectou. Pressentindo a sua chegada, refugiaram-se em lugares mais altos, abrigando-se da Grande Onda. Quando nos elevamos, não há tsunami que nos arraste na sua voragem vertiginosa. Talvez tudo isto não passe de uma historieta, mas é contado aqui. E a BBC mostrou-nos os Moken a nadar no mar, contraindo as pupilas para ver, com nitidez incrível, o fundo do mundo, aquilo que de essencial existe. Ver à distância, sem haver distância. Se até a BBC acredita, quem somos nós para duvidar?

 

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