segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Portugal medieval.

 
 
 
Passada a fase da rotunda e do gimnodesportivo, esquecida a tara do monumento ao bombeiro, o Portugal autárquico aposta agora numa nova valência: a feira medieval. De norte a sul do rectângulo, até nas ilhas adjacentes, o país tornou-se um imenso palco de torneios e refregas d'antanho. Pelejas que não aleijam.
 
Em tempos de crise e de troika, a medievalização nacional constitui um bom antídoto contra syrizas e outros devaneios anti-sistémicos. Enquanto andam entretidos nisto, na trolha de papelão, os cidadãos da República, mormente os mais belicosos, evitam a manifestação e a arruaça. Assim, deste modo, à traulitada amigável, encontrou-se um escape, uma evasão – para o quotidiano, que é vil e triste. Os pais levam os filhos à festa, porque é instrutivo e cultura. Enquanto isso, o edificado degrada-se e apodrece, culpa do Estado central.    
 
Por terras de Gaia existiu até há pouco um belíssimo Festival Erótico Medieval, com as princesas Sónia Baby, Sheila e Ama Monika. A castidade reinante em má hora decidiu exterminá-lo, crê-se que corria o ano de 2010. Noutras paragens reconstrói-se o Neolítico, a Roma antiga, e a muy nobre vila de Almeida faz invasões francesas que são um mimo, conjugando a um tempo o rigor histórico versão Hermano Saraiva e o desejo, que no íntimo de todos nós existe, de uma tarde bem passada na galhofa, só malta amiga. Mas, trate-se da pré-história ou dos fastos napoleónicos, do 3º Festival Pirata (Buarcos) ou da madrugada de Abril (Mem Martins), tudo isto remete para uma só e mesma realidade, a medievalização do país. O fenómeno ocorre geralmente a partir de finais de Junho, que é quando chegam os emigrantes e começa o foguetório. Inadvertidos do que se passa, alguns casalitos nórdicos (logo, totós) pagam bilhete para entrar no recinto; lá dentro, o licor de medronho, as farturas a óleo, e muita e boa Idade Média. A medievalização sazonal é o sucedâneo laico das romarias de outrora. Nada de mal, só carnaval. Ainda assim, uma realidade a acompanhar.

 
 
 

























 
 
 
 



























 
 
 







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22 comentários:

  1. Mas ha quem chegue aos calcanhares deste bloggue ?

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  2. Esmagador.
    Grande serviço público.
    Não fazia a mínima ideia destas dezenas de espectáculos por todo o Reino.
    Sem tirar valor a nenhum, acho que o mais autêntico deve ser o 4º Festival do Pirata Português em Buarcos.

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  3. Excelente recolha.

    A atenção dos promotores à tentativa de não imitar o nome/época de outra autarquia qualquer é de salutar (eu não sabia que havia tanto nome para a mesma coisa).

    Pão e circo (ou waffles e Facebook no 'Mosteiro das Hóstias').

    É preciso talento.

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  4. Relativamente ao festival erótico medieval...

    Suponho que nesses tempos as senhoras não teriam os cabelos tão cuidados, e os homens não estariam com o tórax, o abdómen ou os membros inferiores depilados.

    Seria de facto mais autêntico, e até mais erótico, se os modelos escolhidos tivessem uma beleza digamos mais «natural», sem maquilhagens, cabeleireiras e depilações masculinas.

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  5. Impossível pensar nesta "medievalização da sociedade" como um movimento crítico, saudável e retrospectivo, É mais isso, uma "mediavalização simbólica", um circozinho, vagamento rural e aprisionante. Um cenário para comer bifanas com mais estilo.

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  6. foi engraçado assistir, a dada altura, às promoções que as autarquias faziam, nos programas televisivos de entretenimento (tardes da júlia, portugal no coração....) das «suas» festas medievais, únicas no país, épicas, que iriam marcar o panorama cultural e trazer hordas de turistas. claro que era uma única empresa que fazia a festa e a animação cultural em todas as vilas, numa verdadeira digressão pelo país, com os fins de semana preenchidos entre maio e setembro...

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  7. "25 Anos de Experimentalismo nas Lides da Recriação Histórica" (http://www.teatro-vivarte.org/)

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  8. Esse "revival" medievalista não é, obviamente, um fenômeno exclusivamente português, mas sim europeu, ao menos da parte ocidental. Ocorre em outros países do continente, e presumo que também nas Ilhas Britânicas. Por coincidência, ontem mesmo, à raiz de uma releitura do Dom Quixote, fiz uma pesquisa na Internet sobre o "Passo honroso" de Sueiro de Quiñones e descobri que em Hospital de Órbigo, na vizinha Espanha, anualmente se reproduz a famosa justa. Perguntava-me exatamente se em Portugal não se fazia alguma festa semelhante, reproduzindo, por exemplo, as justas reais de Évora, de 1490. Eis que vejo agora, por esse interessante post, que em Portugal abundam tais celebrações, mas não vi nada sobre Évora.

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  9. Este nosso país é mesmo uma maravilha.
    Foi no sítio onde costumo passar férias, Vila Nova de Cerveira, e na sua inevitável feira medieval de Agosto, que descobri que existe uma verdadeira indústria das feiras medievais. Famílias inteiras que andam pelo país o ano inteiro vestidos de pagens ou labregos vendendo ervinhas e brandimel. Fabuloso.

    José Mexia

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  10. Excelente recolha de cartazes. De resto, nada de mais. Espanta-me é o espanto com isto, como se toda a gente aqui descobrisse um mundo novo bizarro, muito do Portugal profundo. Estas feiras e reconstituições históricas fazem-se por todo o mundo, sobretudo no resto da Europa e nos Estados Unidos.

    Pedro Tovar

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  11. E para quando um Festival da Virgindade, essa característica tão rara e tão vilipendiada nos tempos que correm?

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  12. E diria mesmo mais: a virgindade (ai, quem ainda a tem chama-lhe sua...) é uma caracaterística (em) rara e vilipendiada por homens e mulheres nos tempos que correm. Tenho dito!

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  13. O turbo-templário não convence, fico-me pelo cartaz de Belmonte, muito 'mistico'. Sugiro ao Malomil uma série sobre feiras 'misticas'. Dá pano para muita merda.

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  14. Ai Vilar de Perdizes, onda tantos já foram tão felizes...

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  15. Olha ,da muito emprego e mais vale isto que andarem metidos na droga ou se calhar pois não sei...

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  16. Pensando bem ,é melhor que andem na droga.Da emprego na mesma e não estraga tanto a vista.

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  17. Lá temos estes lisboetas engraçadinhos a chamar bimbos a quem vive no resto do país! Quem rouba e vive à custa do Estado mora entre a Lapa e a Quinta da Marinha, não em Fornos de Algodres. Não é a população de Cerveira que decidiu ou ganhou dinheiro com autoestradas sem carros. A dívida dos municípios é pequena. Estes são muito mais bem administrados do que descrevem estes iluminados. Não é poupando uns tostões com estas feiras lamentáveis que se resolve o problema do recuperação do património. Já agora o que faz, diz ou pensa o chefe Aníbal António sobre este assunto? É o vazio. É Lisboa. E o resto é paisagem. Mas não é. Aproveitem e mudem-se para Nova Iorque ou Berlim. É um favor que fazem aos verdadeiros portugueses.

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    1. Atreve-se a chamar feiras lamentáveis a esta amostra inequívoca de descentralização da cultura??!!

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  18. Estes acontecimentos nem sempre dignificam a história local, mas há casos onde se regista grande qualidade plástica e rigor histórico. Porém, uma imitação é sempre kitsch.
    Mas vejamos o caso concreto de Arouca: depois de junho, para além da recriação do modus vivendi das freiras aristocratas do convento cisterciense, concertos musicais no convento e fora dele, dos doces conventuais e regionais, das exposições e museus, das festas populares, das praias fluviais, da paisagem, da gastronomia, do associativismo e do Geo Parque, ainda nos resta tempo para mais cidadania, mais descentralização e MAIS DEMOCRACIA, conforme se noticia aqui http://www.rodaviva.pt/?action=noticias&id=2784&seccaoid=1
    Estão todos convidados!
    SB

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  19. Só para alertar que faltam aí algumas, exemplo da feira em Castelo de Vide e a Almossassa em Marvão (julgo, bienal com Badajoz).

    Algo vai mal no reino da burguesia autárquica.

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  20. Claro que este célebre polígrafo que se deleita com as intromissões metafóricas nas cavidades do corpo de Isabel Moreira, com a repetição de cenas de sexo em autores seminais como Domingos Amaral e Rodrigues dos Santos teria que começar um parágrafo referindo "Por terras de Gaia existiu até há pouco um belíssimo Festival Erótico Medieval, com as princesas Sónia Baby, Sheila e Ama Monika". Sinceramente, porque não arranja uma amante? Ou compra brinquedos eróticos pela internet? Já cansa tanta repressão na sua cabeça.

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  21. Gosto do festival pirata de Buarcos. Comem-se lá sempre os bons jaquinzinhos e umas ricas moelas.

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