«Continua com vontade de ter um filho?
Continuo.
A minha vida não está preparada para um filho, ainda não sei tomar conta de
mim. Acho que a solteirice aguda me cria muito medo, muito respeito, não tenho
uma casa preparada para crianças, tudo na minha casa magoa, tudo se parte, tudo
é tão delicadozinho, parece um museu de tralhas afectivas. Uma criança chegava
ali e partia-me tudo. Se tivesse um filho tinha de preparar a casa, arrumar os biscuits para um uso mais pragmático. A
minha casa não serve muito para viver, é assim uma coisa de passeio.
Mas é uma dimensão que queria ter?
É.
Tenho uma amiga que me anda a puxar para ir a um orfanato onde há crianças de
sete, oito, nove anos, as que têm mais dificuldade em serem adotadas. Talvez
uma criança com essa idade me seja mais fácil receber, e ao mesmo tempo também
é uma aventura muito incrível, acolher-se uma pessoa que talvez já não tenha
esperança nenhuma de ter um vínculo familiar profundo, e dizer-lhe que ela
também tem direito a tudo.»
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