sábado, 6 de julho de 2019

Boneca solitária.

 
 
 
 
 


 



 
         Nunca tinha ouvido falar de Dare Wright (https://darewright.com/) nem de The Lonely Doll até encontrar este livro, de Jean Nathan, produto de uma investigação absolutamente extraordinária, extraordinária. Nem sabia que The Lonely Doll foi – e, em parte, ainda é – um livro de tremenda popularidade, pese ser considerado agora um pouco «incorrecto», mormente por mostrar cenas algo bizarras em que um Teddy Bear espanca uma bonequinha solitária… O livro de Dare Wright e as suas várias sequelas venderam milhares, talvez mesmo milhões, mas o mais fascinante de tudo é a perturbadora história da autora, que atravessou a vida dominada por uma mãe possessiva e a quem de pouco valeu a singular beleza. O seu único amor, um aviador inglês, morreu num acidente (e era ligado à família Sandeman, dos vinhos do Porto). Fora isso, Dare Wright foi uma actriz menoríssima, modelo com alguma fama, mas sobretudo fotógrafa e autora dos livrinhos infantis da Boneca Solitária, como ela. Rejeitou os avanços de inúmeros pretendentes, viveu reclusa em Nova Iorque, num apartamento decorado com o maior esmero, uma atmosfera artificial e assexuada de conto de fadas, com luxo e detalhes bizarros (tinha os brinquedos de criança. a boneca Edith e o urso de peluche, ciosamente guardados no cofre de um banco, e só de lá saíam para as suas produções fotográficos). Os tempos finais foram de declínio e queda, em solidão absoluta. Afundou-se no alcoolismo, dormia ao relento nos bancos do Central Park, levava para casa os mendigos que por lá encontrava, acabou sendo violada por um deles, quando já idosa. Depois, esteve internada anos a fio num hospital para indigentes onde morreu, pondo termo a uma história dramática, terrível. Na aparência, mais um caso de solidão e tragédia, mas o fantástico da investigação de Jane Nathan é o modo como reconstrói as nuances e as subtilezas, aquilo que se esconde nas entrelinhas dos livros de Dare Wright. Como sucede com frequência no universo da literatura infantil, há muito mais do que aquilo que as imagens mostram, uma realidade escondida, subterrânea, claustrofóbica. A vida é um lugar estranho, de facto.  

 




 

 

 

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