Vamos
então soletrar: Hypnerotomachia Poliphili,
abreviatura de Hypnerotomachia Poliphili, ubi humana omnia non nisi somnium esse
ostendit, atque obiter plurima scitu sanequam digna commemorat.
Talvez
mais fácil: Batalha de Amor em Sonho de
Polífilo. Livro enigmático, à semelhança do Manuscrito Voynich, de que já aqui falámos.
Desconhece-se
o seu autor, dizendo uns que foi o monge dominicano Francesco Colonna,
garantindo outros que foi Leon Battista Alberti, e jurando ainda outros que foi
escrito por Lourenço de Médicis. Entendam-se.
Quanto
ao impressor desta preciosidade, isso não tem dúvida: Aldus Manutius, feito em
Veneza em 1499. Do Renascimento, portanto. É referido por Rabelais e diz-se que inspirou os espantosos jardins de Bomarzo, de que já aqui falámos.
A
trama é complexa, e a personagem principal, Polífilo, procura a sua amada em
sonhos, enfrenta deuses e ninfas, seres mitológicos. Há sonhos, muitos. E até
um espantoso sonho dentro de um sonho, a que os ingleses chamam dream within a dream (sim, Edgar Allan Poe).
Para
perturbar as coisas, o livro está escrito em várias línguas: latim, grego,
hebraico, árabe e até hieróglifos egípcios.
A
narrativa tem sonhos e pesadelos, passagens eróticas, aventuras oníricas, e no final a amada do Polífilo desvanece-se no ar, e ele acorda do sono-sonho. Mas
talvez o mais espantoso sejam as suas gravuras, de uma modernidade
deslumbrante, mais parecendo uma novela gráfica de nossos dias.
E
quem pode aborrecer-se, perante coisas como estas?
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