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Caríssimos,
Bem complexo é, Irmãos, o funcionamento de um camião de plástico. Reparai na forma dinâmica e
profissional como uma senhora russa de meia-idade e mãos sapudas
expõe meticulosamente, em voz pausada, as diferentes valências de uma viatura
pesada. Ao longo de um minuto e meio, numa linguagem cinematográfica chã e directa, sereis
informados da diversidade dos modelos, da blindagem do chassis, do rodar dos rodados e até da performance da betoneira. Isto, sim, Irmãos, é proactividade. Isto, sim, Caríssimos, é
empreendedorismo.
A senhora chama-se "Ludmila", e apresenta o "Interniet Magazine".
ResponderEliminarEste número é dedicado ao lançamento do "Çiéri Midel Tréc", de uma "firma" vaga (em russo, "váda").
O "Çiéri Midel Trék" vem equipado com uma betoneira, que é uma geringonça para mexer o betão ("bêtôna mêchálca").
Pousando a mãozinha em cima da cabine, informa que tem doze centímetros ("dzuôdzie çentímiêtra"). Em seguida vira o "trék" de frente e dá outra medida em "çentímiêtra", parece-me que se refere à distância entre eixos (mas não estou certa, porque a pronúncia é regional).
Apontando para o interior da cabine, lembra o potencial comprador que pode levar consigo a sua bicharoca (em russo: "nacharuóca"). Prepara-se para explicar esta vantagem, e antes de voltar a agarrar no "tréc" diz: "e eu vou passar já".
A explicação não se faz esperar: a bicharoca sempre pode ajudar a mudar um pneu, desde que não tenha calos ("cálôs"). Basta fazer "açim".
Voltando a posicionar o "tréc" de modo a que possamos observar a sua lateral, diz que tem 3 funções ("tréat fõndçé") ao dispor do operador (não contamos aqui com a função de passear a bicharoca).
Uma delas é fazer rodar a "plátfuórma" de um lado para o outro.
Outra função, tal como indicam os admiráveis dedinhos da Ludmila, é subir e descer a escada (presumo que "liêdzniêtzca", termo com o qual não estou acostumada) e usar a pá ("lá pátca"), possivelmente para enterrar algum cadáver que lhe prejudique o normal funcionamento dos trabalhos.
Rodando a manivela, concentra-se agora na betoneira ("bêtôna mêchálca", como já vimos) e aproveita para prevenir que o traço do betão deve seguir as normas russas ("rutchqui"), e pela válvula situada no topo do depósito (rêzêrvuár) não devem ser expelidos gases com concentrações de CO2 superiores a um determinado valor, tal como previsto na legislação aplicável.
Por fim, mostra que de lado tem "espuma" do tipo "chutnutqui" (não vale a pena deter-me nestas explicações técnicas, caso contrário não saimos daqui).
A Ludmila termina despedindo-se "até amanhã", por volta "das três".
Não percebo o espanto. A mim, parece-me uma excelente acção de formação.