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Louise Michel (1830-1005)
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“Enjolras était un jeune homme charmant, capable d´être terrible. Il était angeliquement beau. On eût dit qu´il avait déjà, dans quelque existence précédente, traversé l´apocalypse révolutionnaire. (…) Enjolras avait en lui la plenitude de la révolution.”
Quando se invoca a revolução, Os Miseráveis voltam a ser notícia. E com eles, o puro revolucionário da literatura, Enjolras. A personagem quase mítica que representa essa categoria universal do jovem idealista, obcecado por uma convicção que transforma em verdade universal. Por ela, está disposto a tudo, mesmo a condenar todos aqueles que, abstractamente, proclama amar.
“- Il viendra, citoyens, ce jour où tout sera concorde, harmonie, lumière, joie et vie, il viendra, et c'est pour qu´il vienne que nous allons mourir.”
Ora, anos depois, surgiu um Enjolras de carne e osso, aliás, uma mulher, Louise Michel. Uma personalidade fantástica: foi professora e feminista, pedagoga e blanquista, enfermeira e communarde, romancista e anarquista, poeta e dreyfusarde.
Depois da aventura revolucionária de Auguste Blanqui, com a sua predilecção pela violência e pela vanguarda revolucionária, o que o torna num precursor de Lenine, o falhanço da Comuna e a subsequente deportação para a Nova Caledónia, fazem com que Louise Michel abrace as teorias anarquistas.
Na verdade, tornou-se anarquista quando compreendeu algo que Maquiavel há muito ensinara a quem quisera ouvir: o poder nunca é bom.
“J´en vins à cette conviction que les honnêtes gens au pouvoir seraient aussi incapables que les malhonnetes sont nuisibles.”
Mais do que uma seguidora de Bakunine ou de Kropotkine, tornou-se um símbolo do movimento. Foi ela quem criou o estardante anarquista, a bandeira negra que agitou, pela primeira vez, há 130 anos, numa manifestação em Paris em 9 de Março de 1883.
“Plus de drapeau rogue, mouillé du sang de nos soldats. J´arborerai le drapeau noir, portant le deuil de nos morts et de nos illusions.”
O tribunal para Louise Michel sempre foi uma tribuna – no desfecho da Comuna, quando os revolucionários eram condenados à morte em grande número, desafiou o juiz, se tivesse coragem, a fazer o mesmo com ela. Foi em plena sala de audiências que defendeu a bandeira negra:
“Le peuple meurt de faim e til n´a pas même le droit de dire qu´il meurt de faim. Eh bien, j´ai pris le drapeau noir et j´ai été dire que le peuple meurt était sans travail et sans pain. Voilá mon crime!”
Até ao fim defendeu as suas convicções. Morreu neste mesmo dia 9 de Janeiro, em 1905. Com 74 anos, fazia um circuito de conferências. Ainda, como quase sempre, seguida e vigiada de perto pela polícia. Hoje é lembrada em França e no mundo. Evoca-se “La Bonne Louise” ou “La Vierge Rouge”. Durante os primeiros anos após a sua morte, todos os anos nesta data havia uma romagem ao seu túmulo no cemitério de Levallois-Perret. Depois, todos os 9 de Janeiro são sobre ele depositados cravos vermelhos. Certamente que algum admirador lá terá ido no dia de hoje. . . .
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Porquê cravos vermelhos? Porque, certamente sem que os nossos revolucionários de Abril sequer o suspeitassem, foi Louise Michel que os transformou em símbolos revolucionários. A poeta que se chamou Enjolras assistiu à condenação à morte do seu companheiro Théophile Ferré. Enquanto aguardava o dia da execução, escreveu um poema de despedida e de esperança:
Les Ouillets Rouges
Si j’allais au noir cimetière,
Frère, jetez sur votre soeur,
Comme une espérance dernière,
De rouges œillets tout en fleurs.
Dans les derniers temps de l’Empire,
Lorsque le peuple s’éveillait,
Rouge œillet, ce fut ton sourire
Qui nous dit que tout renaissait.
Aujourd’hui, va fleurir dans l’ombre
Des noires et tristes prisons.
Va fleurir près du captif sombre,
Et dis-lui bien que nous l’aimons.
Dis-lui que par le temps rapide
Tout appartient à l’avenir
Que le vainqueur au front livide
Plus que le vaincu peut mourir.
«Nos tempos do fim do império, quando o povo despertava, cravo vermelho, foi o teu sorriso que nos disse que tudo renascia». Há alguma maneira melhor de sintetizar o 25 de Abril ?
Entretanto, é certo, o outro símbolo de Louise Michel, a bandeira negra, pode representar o luto pelas nossas ilusões. As ilusões da concórdia, da harmonia, da luz e da felicidade, sem trabalho, sem organização, sem sacrifício. E, ao longo deste anos, se houve muitos que as tiveram, houve também uns poucos que as alimentaram.
José Luís Moura Jacinto
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