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Já não acredito que um
dia venha a ver auroras boreais. Mas gostava. Auroras boreais, para mim, só no YouTube. É pena. Fica para a próxima.
Encarnação. Quem me mandou este filme foi um grande, enorme amigo. São lindas as imagens, mesmo quando nos
irrita o invólucro místico com que sempre, mas sempre, apresentam este
prodígio da Natureza. Talvez quem as contemple fique assim místico, para sempre encantado
pelos sortilégios verdes dos céus do Norte. Tudo muito erótico, acho.
Kristian Birkeland (1867-1917)
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Aqui
há uns anos, li um livro de Lucy Jago, jornalista, produtora de documentários
para a BBC e para o Channel 4, que decidiu enveredar pela escrita (agora a produzir romances de treta). Lucy paixonou-se
pela vida de Kristian Olaf Birkeland (1867-1917) com a mesma obsessão com que este se
apaixonara pelas auroras boreais. Lucy Jago, uma jovem de ar doce e frágil,
teve de seguir os mesmos trilhos que Birkeland percorreu no virar do século: a
feitura deste livro levou-a à Noruega, Grã-Bretanha, Egipto, Grécia e Japão
(Birkeland morreu misteriosamente num hotel de Tóquio, em 1917). Com tantas
andanças, acabou por produzir uma fascinante combinação de «biografia,
divulgação científica, história, política internacional, literatura de viagens
e intriga», para usar as palavras da Traveller.
A biografia deste norueguês genial e singular – que acabaria tragicamente os
seus dias vendo conspirações e ameaças de toda a parte, perdendo a família e os
amigos e arruinando a saúde por causa das «luzes do Norte» – insere-se num
ponto de confluência entre duas linhas que estão a ganhar um espaço cada vez maior:
a história da ciência, contada numa perspectiva de divulgação, e as narrativas
de viagens. Kristian Birkeland é o personagem ideal para operar essa síntese,
pois foi um inspirado cientista que muito viajou em demanda da comprovação das
suas teorias. Dos campos gelados da Islândia e da Noruega às terras escaldantes
do Sudão, Lucy Jago oferece-nos descrições verdadeiramente assombrosas. Não sei
se tal se deve à sua experiência jornalística ou a trabalho dos editores (ou a
ambas as razões), mas os seus relatos têm a verosimilhança de um documentário
televisivo. Lemos o livro como se estivéssemos lá, com Birkeland e os seus
assistentes, caminhando entre tempestades para vermos as maravilhosas luzes do
Norte, que os lapões acreditavam serem mensagens divinas. Por outras palavras:
a acrescer a todos os outros méritos – narrativa límpida, informação colossal,
fascínio da personalidade biografada, etc., etc. –, há uma qualidade de escrita
que torna a leitura desse livro apaixonante. Convidam-se os menos místicos, ou
mais cépticos, a ver como uma boa prosa é capaz de nos fazer interessar mesmo
pela vida de um professor universitário noruguês cujo principal feito foi
perseguir auroras boreais.
António Araújo
E porque não? Apanhe-se o avião até Estocolmo e depois o comboio de 17 horas até Abisko, para lá de Kiruna, no norte da Suécia. Requere algum tempo, mas não é caro e indo no altura mais propícia, é provável que consiga ver passando lá algumas noites.
ResponderEliminarEu só tive a possibilidade de lá ficar uma noite e não tive a sorte de ver nada. Mas a viagem ao deserto de neve - sem quase montanhas, que essas ficaram para os noruegueses - vale por si mesmo a pena.
E espero lá conseguir voltar.
Boa Páscoa.