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Ao
olharmos para estas maravilhas da arquitectura e do bom-gosto, seleccionadas no
grandioso Ugly Belgian Houses, compreenderemos melhor a Bélgica: a tristeza do
olhar de Brel quando arrasta a pouca e rouca voz por le plat pays adentro, a pedofilia escabrosa de Marc Dutroux, a omnipresente neblina
nos céus e nos espíritos, a rarefacção militante da higiene matinal, a fragrância
gordurosa das frites, os sucessivos e
brumosos escândalos numa terra despojada de governança, o ódio sem tréguas
entre valões e flamengos. Dá que pensar quando a qualidade que mais elogiamos num
país é estar próximo dos outros («está perto de tudo!»). Para este minúsculo território, situar-se no
«centro» da Europa não é sinónimo de atractividade. Não constitui foco de
convergência, mas ponto de fuga – escapar rápido, rápido, rápido dali para fora. Bem,
em matéria de beleza arquitectónica não nos podemos vangloriar. Portugal é hoje
o país mais feio da Europa ocidental. Há décadas, os bisonhos dos belgas dedicaram-se, com metódica aplicação, a arrasar sua capital, convertendo-a numa cidade
prática e funcional mas sem alma e sem graça. Estamos a fazer o mesmo a Lisboa. Por sua
vez, a província portuguesa é um completo pavor, entrecortado por excepções
pontuais que, precisamente pela sua excepcionalidade («Óbidos, que lindo!»), adensam o sentimento de
vivermos rodeados de desleixo e lixo. Há uns anos, um livro chamado Maisons de rêve au Portugal mostrava bem
que, em matéria de kitsch, estamos perfeitamente em linha com as previsões de Bruxelas. No
mau gosto, não temos défice. Os belgas, coitados, têm um país tão feio que
substituíram os clássicos coffee-table
books com vistas aéreas («La Belgique vue du ciel») por um mais suportável Le
ciel vu de Belgique, que só mostra nuvens e azuis coados. Em matéria de degradação do património, faça um tour arrepiante pelo Ruin'Arte, do amigo Gastão de Brito e Silva, de quem falaremos aqui em breve, no Malomil. Quanto à paisagem do país real, Álvaro Domingues tem revelado o estado a que chegámos,
bastando ver o seu A Rua da Estrada.
Simplesmente, Domingues tem uma opinião algo complacente sobre o horrível que nos
envolve. Pelo contrário, Vital Moreira disse-o há anos e Paulo Varela Gomes
repetiu-o recentemente: somos o país mais feio da Europa ocidental. Assino por
baixo:
António Araújo
A arquitetuta explica isso tudo sobre os belgas,incluindo o caso Dutroux? Caramba...
ResponderEliminar'beirão'
ResponderEliminarUma pena que a paisagem arquitectonica do interior do nosso país, nas últimas décadas, tenha vindo a ser paulatinamente subvertida, sobretudo por obra daquelels inqualificáveis mamarrachos dos nossos imigrantes, que, coitados, depois de uma vida inteira a trabalhar duramente, fazendo na 'estranja' os trabalhos que os naturais rejeitam, enterram na casinha lá na terra as economias duma vida.
Não é deles a culpa, porque fazem a casinha à imagem do mamarracho que viram no país para onde foram trabalhar, na Bélgica, na França ou no Luxemburgo, tanto faz, que eles, já se sabe, não são obrigados a saber que 'isso' (esses trambolhos) nada têm a ver com a paisagem portuguesa. A culpa, essa, é toda, todinha, desses irresponsáveis dos autarcas que licenciaram tais abortos.
:-)
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