Felizes pelo regresso do Urso Pardo ao
país, quase nos esquecemos de alguns problemas nacionais de fundo, que bem mereciam uma,
ou mesmo duas, reformas estruturais. Entre as diversas forças políticas com
representação parlamentar, comendador Berardo incluído, não possível alcançar
até hoje um pacto de regime e/ou consenso alargado capaz de erradicar pela raiz
e enfrentar de frente o problema dos layouts congressistas. Instalada na
década de 1980, tem-se agudizado, mercê das novas tecnologias, a prática de sobrecarregar
de informação os cartazes e anúncios de congressos, colóquios, palestras e demais
iniciativas da sociedade civil. O II Congresso Nacional da Insolvência
é disso exemplo, tristemente expressivo. A par da hipertrofia semântica,
responsável pelo fenómeno «cartaz palavroso», técnicas como o Photoshop ou programas
informáticos de tratamento de imagem fomentaram o surgimento de uma outra
realidade, não menos lamentável: o «cartaz com muitas carinhas». Também aqui, o II
Congresso Nacional da Insolvência peca por defeito de excesso. Não contentes com
converter a pagela publicitária num cartel taurino, pejado de nomes grandes da
forcadagem jurídica, o II Congresso Nacional da Insolvência desvenda-se urbi et orbi sob as penosas vestes de
uma caderneta de cromos com 11 carinhas 11, uma das quais repetida. Em pano de
fundo, congressistas inominados, mas contentes. Na imagem superior, de costas,
um insolvente capilar com torcicolo e uma administradora de falências embrulhada
a contrafacção Versace. Cadeirame carmim, aveludado. Em baixo, atrás dos dizeres «Ilustrações
e Esclarecimentos», três auditoras atentas ao olhar das câmaras, na aparência satisfeitas com a aprendizagem congressional (e o certificado de presença).
Realce positivo para os óculos rouge da Drª Ana Filipe Conceição, mas ponto muito,
muito negativo para a foto preto e branco do administrador judicial Dr. Bruno
Costa Pereira, a destoar do plantel policromático. Laivos de culto de
personalidade estalinista-kim-il-sunguiano por parte do Dr. Paulo Valério, que imodestamente
figura em duplo no cartaz do evento que coordenou e coordena. Tamanha
aglomeração de figuras no espaço exíguo de um cartaz congressista implica
sempre o lamentável efeito visual «ombros cortados» no enquadramento de conferencistas,
moderadores, palestrantes e membros da «Mesa Redonda Permanente». O impacto
negativo «ombros cortados», como é sabido, faz-se sempre sentir de forma mais acutilante nos
fatos e blazers dos protagonistas masculinos, como o atesta a imagem. Pese a amputação dos seus
ombros e membros superiores, nota positiva para o bigode do Dr. Mota Gomes, na boa tradição
congressista lusitana. Pena é que, apesar de tanto concentrado de informação, a
sessão de encerramento, momento crucial que antecede a foto de grupo e a troca de emails, continue
precariamente sujeita à incerteza e à provisoriedade do «A Designar», outra pecha recorrente do
congressismo nacional. Como inovação que importa ser sublinhada – e enaltecida –
a oferta do livro físico «Guia da Insolvência», gentileza da Capital Leiloeira.
Dia 24 de Maio, Auditório Hotel Ramada, sob os auspícios da distinta Comissão
para o Acompanhamento dos Auxiliares de Justiça. Logística operacional a cargo da mui verbosa Debates
& Discursos – Organização e Realização de Eventos Jurídicos. Imperdível,
portanto.
Realmente o cartaz é uma trapalhada gráfica e um tremendo ruído visual. Do ponto de vista do design é uma verdadeira insolvência.
ResponderEliminar