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Numa
altura em que se assinala o cinquentenário da primeira das reportagens de
Hannah Arendt que viriam a dar lugar ao livro Eichmann em Jerusalém, talvez seja oportuno falar de um filme-documentário de
Joshua Oppenheimer. Há poucos dias, The Act of Killing
causou sensação no Berlinale e foi
aclamado por cineastas como Errol Morris, de que já falámos aqui, e Werner
Herzog. O documentário mereceu amplo destaque no Der Spiegel, com uma reportagem que pode ser lida aqui.
Filmado na Indonésia durante sete anos, o documentário de Oppenheimer acompanha
antigos líderes dos esquadrões da morte da Indonésia, que após
o golpe de Suharto, em 1965, praticaram incomensuráveis barbaridades sob o
pretexto de estarem a perseguir comunistas. O que causa mais espanto, ao que
parece, é o modo «natural» e «normal», até empenhado, como os antigos
assassinos, torturadores e violadores participam nas filmagens. Antes do golpe de 1965, este grupo vendia bilhetes de cinema no mercado negro. Agora, após décadas de violência, vivem pacatamente, sem nunca terem sido incomodados pela justiça. Participaram no filme não como assassinos mas desempenhando papéis iguais aos dos heróis das fitas hollywoodescas que viam na juventude. A banalidade
do mal, infelizmente actual. Oppenheimer, cujos avós sobreviveram ao Holocausto, não conta regressar tão cedo à Indonésia.
António Araújo
Mais ou menos a propósito: http://www.theatlantic.com/entertainment/archive/2013/02/the-descendants-of-murderers/273221/
ResponderEliminarPS: Obrigada pelo seu óptimo trabalho no Malomil!
Vou ver, não conhecia, muito obrigado. E, naturalmente, muito obrigado pelas suas palavras.
EliminarCordialmente,
António Araújo