sábado, 16 de fevereiro de 2013

The Act of Killing.

. . .
.
.





Numa altura em que se assinala o cinquentenário da primeira das reportagens de Hannah Arendt que viriam a dar lugar ao livro Eichmann em Jerusalém, talvez seja oportuno falar de um filme-documentário de Joshua Oppenheimer. Há poucos dias, The Act of Killing causou sensação no Berlinale e foi aclamado por cineastas como Errol Morris, de que já falámos aqui, e Werner Herzog. O documentário mereceu amplo destaque no Der Spiegel, com uma reportagem que pode ser lida aqui. Filmado na Indonésia durante sete anos, o documentário de Oppenheimer acompanha antigos líderes dos esquadrões da morte da Indonésia, que após o golpe de Suharto, em 1965, praticaram incomensuráveis barbaridades sob o pretexto de estarem a perseguir comunistas. O que causa mais espanto, ao que parece, é o modo «natural» e «normal», até empenhado, como os antigos assassinos, torturadores e violadores participam nas filmagens. Antes do golpe de 1965, este grupo vendia bilhetes de cinema no mercado negro. Agora, após décadas de violência, vivem pacatamente, sem nunca terem sido incomodados pela justiça. Participaram no filme não como assassinos mas desempenhando papéis iguais aos dos heróis das fitas hollywoodescas que viam na juventude. A banalidade do mal, infelizmente actual. Oppenheimer, cujos avós sobreviveram ao Holocausto, não conta regressar tão cedo à Indonésia.
 
 
António Araújo








2 comentários:

  1. Mais ou menos a propósito: http://www.theatlantic.com/entertainment/archive/2013/02/the-descendants-of-murderers/273221/

    PS: Obrigada pelo seu óptimo trabalho no Malomil!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Vou ver, não conhecia, muito obrigado. E, naturalmente, muito obrigado pelas suas palavras.
      Cordialmente,
      António Araújo

      Eliminar