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Caricatura de David Levine
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“- O que é a semiótica em que se
especializou?
- É a forma moderna da filosofia. A
semiótica é a melhor maneira de enfrentar a viragem que está no coração do séc.
XX, a que se chamou a mudança linguística (linguistic
turn). Simplificando: como atribuir o significado copo à palavra copo? Os
filósofos analíticos, dominantes no mundo anglo-saxão, tentaram responder
eliminando o mental, purificando a língua, de tal modo que ela só comportava os
termos que correspondiam
Exatamente aos objetos ou às
situações exteriores que eles designavam. Como se as palavras fossem etiquetas.
A semiótica enfrenta de modo diverso o problema. Ela interessa-se menos pela
referência ao mundo exterior do que à sua significação. Tomemos um unicórnio. Para
um filósofo analítico, reflectir sobre os unicórnios não tem qualquer interesse:
eles não existem. Para um semiótico, os unicórnios são de uma importância capital porque eles fazem parte
do nosso mobiliário mental. O facto que eu possa pensar os unicórnios, como o
facto que eu possa pensar Deus ou o Pai Goriot (personagem de Balzac) constitui
um aspeto fundamental da nossa vida cultural, moral e ética que não se pode
eliminar. Querendo imitar as ciências duras, a filosofia analítica interessa-se
pela linguagem de laboratório que ninguém fala. As pessoas normais nunca se
perguntam se o rei de França era calvo ou se a neve é branca. Elas fazem discursos
mais complexos e mais interessantes: elas falam de coisas que «não existem».”
Umberto Eco, entrevistado em Philosophie Magazine, Paris, nº 66,
Dezembro de 2012/Janeiro de 2013.
Trad. de J. Medina
"Para um filósofo analítico, reflectir sobre os unicórnios não tem qualquer interesse: eles não existem."
ResponderEliminarIsto é completamente falso. Goodman, por exemplo, deu-se até ao cuidado sublinhar o valor instrumental dos unicórnios.
Embora desonesta, chega a ser engraçada a recorrência com que os “continentais” deitam mão destas patranhas.