segunda-feira, 11 de março de 2013

Carta Aberta a Mário Tomé.



 
 
 
 

 
 
Resposta ao artigo de Mário Tomé, no Diário de Notícias, de 06-03-2013
 
 
 
Na qualidade de elemento do Posto de Comando/Regimento de Comandos que, em 1975, enfrentou e neutralizou a tentativa de golpe de 25 de Novembro e de investigador dessa época, afirmo:
Mário Tomé, um dos responsáveis pelas arbitrariedades e crimes praticados pelos militares do Regimento de Polícia Militar, ao longo do PREC/1974-75 (ver Relatório da Comissão de Averiguação de Violências sobre Presos Sujeitos às Autoridades Militares, 1976), veio publicar, na edição do Diário de Notícias de 6 de Março passado, um extenso artigo cheio de incorreções e falsidades e que considero atentatório da honra e consideração do falecido General Jaime Neves.
Este oficial considera o constante do livro biográfico do Professor Rui de Azevedo Teixeira (Homem de Guerra e Boémio, 2012) sobre Jaime Neves e em relação ao 25 de Abril, como "uma aldrabice total". Santa ignorância para quem se intitula "capitão de Abril", pois basta consultar as fotografias de Eduardo Gageiro, que já as expôs em vários locais, para se concluir ter sido o então Major Jaime Neves, na Avenida da Ribeira das Naus, junto ao Rio Tejo que, depois de entregar a Espingarda G3 a um soldado, a dirigir-se pelo meio dessa via, em direcção ao Major Pato Anselmo e o convenceu a render-se e a virar as peças dos carros de combate para o lado da estação do Cais do Sodré, local oposto onde se encontravam as tropas de Salgueiro Maia. Este teve de facto actuação mais destacada, mas na Rua do Arsenal, no confronto com o Brigadeiro Junqueira dos Reis.
O que mais perturbou este "capitão de Abril" foi o facto de todas as entidades oficiais portuguesas (Presidente da República, Presidente e Deputados à Assembleia da República, Primeiro-Ministro, Ministro da Defesa Nacional e Ministro dos Negócios Estrangeiros) terem feito grandes elogios ao General Jaime Neves, tendo alguns o considerado com autêntico herói nacional, por ocasião das suas exéquias, em Janeiro passado. E ainda o referido livro biográfico ter sido publicado por um homem de uma área política que não pode ser conotada com a direita e, muito menos, com a extrema-direita  - pelo contrário! -  e o posfácio escrito pelo cineasta António-Pedro Vasconcelos.
Não diz a verdade quando afirma que o General Eanes foi o "único militar de Abril" a estar no seu funeral. Está muito mal informado. Muitos foram os militares (e operacionais) do 25 de Abril e do 25 de Novembro a estarem presentes na última homenagem a Jaime Neves.
Também apresenta uma falsa versão quando diz que «ocorreu um ataque dos "comandos" à Polícia Militar (…) e que foi uma perfídia de que resultou em três mortos». A verdade (comprovada por vários militares intervenientes) é que duas colunas dos "comandos", ao dirigirem-se para o cerco ao quartel da Polícia Militar, foram inesperadamente atacadas a tiro pelo pessoal do Regimento de Cavalaria n.º 7, na Calçada da Ajuda, e pelo do RPM no arruamento a norte deste quartel (confluência da Rua das Amoreiras à Lapa com a Rua Nova do Calhariz). Dessas acções resultaram as mortes de dois "comandos": Furriel Joaquim Pires e do Tenente José Coimbra. O terceiro morto foi um aspirante mil.º de Infantaria (Ascenso Bagagem), que se encontrava clandestinamente dentro do quartel da Polícia Militar, pois estava na situação de ausência do seu Regimento de Queluz.
Esta incrível versão de Mário Tomé já tinha sido corrigida, aquando da publicação do meu livro 25 de Novembro de 1975; os "Comandos" e o Combate pela Liberdade (2005), em co-autoria com Francisco Proença Garcia e Rui Domingues da Fonseca. Tal ocorreu na sequência de uma carta publicada na revista História, em 1996, por Mário Tomé, assim como da minha resposta dada nessa publicação. Trata-se assim de uma reincidência na asneira, assim como é estranho ele autodesignar-se por antigo líder da UDP (na extrema-esquerda da época), quando é coronel de cavalaria reformado, posto conseguido muitos anos depois, com a reconstituição da carreira, através de uma discutível legislação.
 
 
 
Manuel Amaro Bernardo
Coronel reformado
 

6 comentários:

  1. Obrigado pela reposição da verdade.

    Fico triste de ver Mário Tomé mais uma vez cheio de inveja do general Jaime Neves que, ao contrário dele e dos outros comandantes do RPM (Tenente Coronel Campos Andrada e Major Cuco Rosa), tiveram um papel desastroso depois do 25 de Abril, querendo impor no país uma ditadura do tipo "kmers vermelhos" e ser um dos causadores das mortes referidas.

    Pensava eu que o decurso do tempo o levaria mais à realidade.

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  2. Obrigado pelo depoimento... sendo desconhecedor da história em torno do 25 de Abril, a crónica do Mário Tome impressionou-me...
    Mas depois do que aqui se replica... que grande lata!

    Renato

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  3. Esse pseudo militar ainda conserva o trauma que trouxe de Moçambique,o de ter ficado conhecido no meio castrense como o motorista do Kaulza(levava-lhe as filhas ao colégio)
    Já devia ser pelas qualidades falhadas,ou ter medo de enfrentas "turras".

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  4. Toda a gente tendo "esqueletos no armário" é uma regra de ouro não ír reescrever demasiado a História e as histórias sob pena de haver quem se lembre ainda bem de uma e das outras .

    Ora desta fase da nossa vida colectiva ainda há muita gente que se lembra bem , por virtude do serviço militar obrigatório e da guerra colonial quase todos os homens ali entre os 60 e os 65 anos eram militares nessa altura .

    Mas a aposta na falta de memória das gentes é irresistível para quem não percebe que já só está a escrever para os que , de qualquer modo , acreditariam em qualquer coisa que escrevesse .

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  5. Estou satisfeito pelo facto do meu texto ser esclarecedor em relação às questões colocadas por Mário Tomé. Recebi a informação de que o jornal irá também publicar na próxima semana esta minha resposta.
    Gostaria ainda de salientar o papel persistente de Jaime Neves, ao longo de todo o processo, desde o 16 de Março de 1974. Ainda hoje almoçei com o Coronel Casanova Ferreira, que largou o Jaime em Monsanto, nessa data, para não ser considerado implicado no Golpe das Caldas. Assim, enquanto este oficial e o Manuel Monge foram presos pelo regime anterior e também no pós-11 de Março de 1975, Jaime Neves conseguiu manter-se operacional durante todo o PREC e depois fazer a contenção do golpe utópico da extrema esquerda de Mário Tomé, em 26 de Novembro de 1975. Manuel Bernardo (Cor.)

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  6. Enfim qualquer pessoa de boa memoria se lembra como arbitrariamente foram tratadas as pessoas, muitas delas so por desabafos, no regimento de policia militar de ma memoria. com mt no comando.Entre eles os banhos de agua fria de mangueira.Grande democrata e não vale a pena dizer mais nada.Quanto a Jaime Neves esta tudo escrito e a sociedade deve-lhe muito.

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