O CAMPO DE CONCENTRAÇÃO
DE GURS (1939-1945),
UM DOS MAIS TRÁGICOS EMBLEMAS DO SÉCULO XX
“Com
os campos [de concentração] Satanás reapareceu visivelmente no mundo…”
André
Malraux, Antimémoires (1967).
“L’histoire
du camp de Gurs permet (…) de se confronter – devoir toujours brulant –
à
cette coalition de tous les crimes, de toutes les intolérances et de toutes les
douleurs.”
Robert
Badinter, prefácio a Gurs: 1939-1945, de Claude Laharie,
2005.
“Gurs,
une drôle de syllabe,
comme
un sanglot
qui
ne sort de la gorge.”
Louis
Aragon
A queda de Barcelona em Janeiro de 1939, selando a vitória franquista na
guerra civil de Espanha, forçou a expatriação de meio milhão de soldados republicanos
no Rossilhão, drama que levaria o governo francês de então, chefiado por
Daladier, a construir à pressa, no então chamado departamento dos “Baixos Pirinéus”
(hoje Pirinéus atlânticos), no sudoeste da Aquitânia e a 34 kms da fronteira espanhola,
um campo de internamento desses soldados e das suas famílias, assim como os quase
sete mil combatentes da Brigadas Internacionais que tinham participado ao lado
do regime democrático no combate contra Franco e aos seus aliados nazifascista,
voluntários internacionais – jugoslavos, húngaros, franceses, polacos, alemães,
italianos… –, que Negrin lograra retirar
da frente, despedindo-se destes brigadistas num desfile comovente, nas ruas de Barcelona,
em 15-XI-1938.[1]
Situado entre o País Basco e o Béarn, próximo da cidade de Orthez, este
campo inóspito e isolado, escolhido para local de internamento dos vencidos da
guerra civil vizinha, apresentava todas as vantagens para as partes envolvidas
na tragédia, já que nenhuma estrada departamental passava por ali e a colina
extensa e plana de campos argilosos facilitava a rápida construção, operada entre
Março e Abril desse ano, de barracas de madeira para os soldados desmobilizados.
Esse espaço comunal era até ali constituído sobretudo por terrenos de culturas
de milho, florestas e charnecas para a criação de gado bovino. Uma estação ferroviária
em Oloron facilitava ainda a transferência dos refugiados de Argelès-sur-Mer (Rossilhão)
para esta região agreste bearnesa. O ministério francês do Interior, aceitando
a proposta do maire de Oloron
Sainte-Marie, Léon Mendioudou, único deputado da Frente Popular (1936-1937) no
departamento, aceitou a oferta, ainda que vivos protestos se elevassem na
região contra o projecto de acolher os republicanos, pelo que não foram os “vermelhos”
recebidos com qualquer simpatia pelas populações locais, antes seriam sempre
olhados com desconfiança. A criação do campo era vista no Béarn como uma
decisão política do poder central, imposta, além do mais, em contraste com o
tipo de vida e costumes numa região rural tão afeita à auto-subsistência e ao
labor agrícola, agora confrontada de repente com 23.000 combatentes espanhóis,
incluindo as suas mulheres e filhos, forasteiros que nada tinham a ver com a
sua vida tradicional.
Prefaciando um estudo sobre Gurs, Robert Badinter, o ministro da Justiça
no governo Mitterrand que aboliu a pena de morte, sublinhava a natureza perversa
deste campo de concentração inaugurado pela III República francesa e depois
retomado pelo regime de Vichy: “O campo foi portanto aberto pela República para
republicanos, antes de se tornar o instrumento e o símbolo da colaboração com os
nazis na obra da destruição dos judeus.”[2]
Restos da linha férrea que conduzia ao campo.
Fotografia de João Medina.
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1. Construção do campo e vida no seu
interior (1939-40)
O campo constituía, deste modo, uma tosca
cidade de madeira, destinada a acolher uns milhares de soldados vencidos do
outro lado da fronteira pirinaica, apressadamente
erguido, em apenas 42 dias, entre Gurs, Dognem e Préchard-Josbaig no vale do
rio Oloron, estendendo-se por 1.400 metros de cumprimento e 200 de largura,
cobrindo 28 hectares ,
no meio de pântanos, bosques e terrenos de pasto cortados por uma rua, a única
alcatroada, com 2 kms de extensão, em parcelas de 200 metros de extensão, cada
uma delas isolada por arame farpado, designadas por “ilhotas”, separadas por pequenos
muros baixos, cada uma albergando uma sessenta internados. Havia 428 barracas,
das quais 382 para os refugiados e as demais para os polícias encarregados da
vigilância, num total de 13 “ilhotas”, estando o campo envolvido, em conjunto,
por uma cintura de arame farpado. A rua principal alcatroada atravessava toda esta
cidade-fantasma, sendo os terrenos drenados de modo insuficiente, o que traria
na época das chuvas o pesadelo dos lamaçais que era preciso atravessar a todo o
momento. As barracas, que ocupavam 79 hectares , tinham 24 metros de cumprimento e
6 de largura. De todas estas construções em madeira, hoje só resta uma, reconstruída
para nos dar a noção do que seria a vida ali, naqueles casebres estreitos, sem
uma única janela, sem quaisquer camas ou sanitários nem local para refeições. O
material utilizado para a sua confecção era feito de tábuas de madeira branca,
recobertas de cartão alcatroado, o que não protegia os internados gursianos do
frio e das chuvadas.
A capacidade de albergar refugiados colocou o campo de Gurs entre os
maiores aglomerados habitacionais depois de Pau e Baiona. No campo também havia
serviços médicos e sanitários gerais, assim como um posto de correio, além das
instalações da administração policial. Em cada ilhota havia instalações comuns
para a cozinha, os serviços higiénicos e os banhos, embora as barracas não
dispusessem de nenhum desses elementos, como camas, estrados para colchões ou
retretes. Aparentemente, toda esta cidade parecia destinar-se a uma situação
provisória, quando, na verdade, ela subsistiria durante seis invernos
sucessivos.
Quanto à situação social destes internados, não se distinguia muito ela da
de prisioneiros: nas directivas burocráticas do governo francês, os refugiados
espanhóis da guerra civil ganha pelo franquismo não passam de um “exército
internado”. A situação da França a partir de Setembro desse ano daria a este
total de 24.530 combatentes do exército republicano um estatuto diferente, na
medida em que Gurs
se tornaria, a partir de então, num campo para internamento dos alemães exilados
em França. O
total de “rouges” desta fase inicial do campo incluía, assim, várias
componentes. Primeiro, 6.555 combatentes bascos espanhóis (o País Basco fora
tomado pelos franquistas em 1937), que tinham continuado a combater no Ebro e
na Catalunha. Depois, 5.397 “aviadores”, ou seja, pessoal da aviação
republicana, de todas as espécies, transferidos de Argelès-sur-Mer, no Rossilhão
(Pirinéus Orientais), perto da fronteira espanhola, para Gurs. Quanto aos
voluntários das Brigadas Internacionais – assim como da Legião Estrangeira –, havia
6.808 membros, em geral comunistas, grupo muito disciplinado. [3]
Havia, por fim, 5.760 soldados originários de outras províncias espanholas,
sobretudo de Aragão, oriundos do mundo rural, que o governo franquista se
empenharia em ver transferidos pelas autoridades franceses para Espanha, o que
motivaria a bem sucedida visita a Gurs do general franquista José Solchaga
Zala,[4]
conhecido pelos seus crimes de guerra, o qual conseguiria vê-los efectivamente
devolvidos, sendo então aprisionados no implacável campo de concentração de
Miranda de Ebro.
A maioria dos gursianos espanhóis deixaria Gurs em Agosto e Setembro de
1939, na altura em que a guerra europeia estalava. Um quarto dos internados é
repatriado para a Espanha franquista, sujeitando-se ao encarceramento no campo
de Miranda de Ebro, perto de Burgos, sendo, em muitos casos, sujeitos a
execuções sumárias. Melhor destino tinham tido os “aviadores”, ou seja, o
pessoal do antigo exército republicano espanhol ligado à aviação, já que estes
encontrariam emprego em empresas na região. Muitos outros conseguiram
alistar-se no exército francês e acabariam presos, durante a guerra com a
Alemanha, sendo remetidos pelos nazis para o campo de Mauthausen. Alguns anos
mais tarde, vários espanhóis participariam nos maquis pirinaicos.
2. A segunda fase do campo de Gurs a partir
da guerra de 1939
Com a partida dos espanhóis internados em Gurs desde a inauguração do
campo, este entra na sua segunda fase de vigência com os efeitos resultantes da
guerra declarada entre a França e a Alemanha, e, mais tarde, com o regime de
colaboração com os nazis, chefiado pelo general Pétain, desde 10-VI-1940, quando
o parlamento da III República delegou no antigo embaixador em Madrid plenos
poderes que permitiram ao velho herói de Verdun instituir mais tarde o “Estado
francês” e legislar num sentido anti-semita que superava as próprias leis
hitlerianas de Nuremberga. Com a assinatura do armistício com os invasores
alemães, em 22 de Junho desse ano, criara-se, sob a bota do ocupante e
desfraldando o lema (quase salazarista) de “Trabalho, Família, Pátria”, um
regime de cariz autoritário, corporativo e anti-judeu.[5]
Entre os campos deste período na zona sul há que mencionar o de Les Milles
(comuna de Aix-en-Provence), no departamento das Bouches-du-Rhône. Criado em
Setembro de 1939, tornar-se-ia sobretudo conhecido pela plêiade de grandes
figuras da cultura que ali estiveram internados, pois entre eles se contavam
intelectuais, artistas, cientistas e artistas como Max Ernst, Hans Bellmer,
Alferd Kantorowicz, Golo Mann (filho de Thomas Mann), Manes Sperber, Lion
Feuchtwanger, etc.[6]
A partir de 1981 registou-se em França um movimento iniciado por historiadores
e professores da Universidade das Provença (Aix-en-Povence) no sentido de
restaurar Les Milles como património da história da humanidade na sua vertente
genocidária, bem como local de memória, sendo de sublinhar aqui o nome de Serge
Klarsfeld. Um decreto francês consagraria esses esforços em 1993 com o reconhecimento
como património histórico do campo de concentração de Les Milles, criando-se em
2009 a
Fundação do Campo des Milles – Mémoire et Éducation –, assim como em 2012 o
primeiro-ministro de então inauguraria Les Milles como “site-mémoire”.
3. Do internamento de
“indesejáveis” ao seu extermínio
Ainda durante a III República e antes do início da Segunda Guerra
mundial, o decreto-lei de 12-XI-1938 previa o internamento em centros
especializados de “estrangeiros indesejáveis”. Um outro decreto, de 18-XI-39,
permitiria aos prefeitos internarem os indivíduos suspeitos de porem em perigo
a “segurança nacional” e à “segurança pública”. Depois, com assinatura do pacto
germano-soviético (23-VIII-1939), o governo da República considera e a posição
dos comunistas franceses quanto à Alemanha nazi, tomando medidas no sentido de
internar ou manter sob vigilância os membros do PCF, assim como alguns
sindicalistas, socialistas e pacifistas assumidos que se recusam a trabalhar na
indústria do armamento. Também foram detidos alguns membros da extrema-direita
francesa tidos como simpatizantes de Hitler ou do exército alemão. A
9-IIII-1940, o ministro do Interior informava a câmara dos deputados que tinham,
sido feitas 3.400 prisões, 499 internamentos e 66 intimações judiciais.
Estas medidas, iniciadas desde o começo da Segunda Guerra mundial,
teriam, obviamente, um desfecho muito diverso desde que, passada a fase de
expectativa da drôle de guerre
(Setembro a Maio-Junho de 1940), os exércitos alemães entraram finalmente em Paris. Um decreto de
1-IX-1940 autorizava já o internamento de estrangeiros, assim como outra lei,
de 3 de Setembro, permitia a prisão de “indivíduos perigosos” para a defesa
nacional e a segurança pública. A partir desta data o campo de Gurs passa a acolher
mulheres e o de Riversaltes homens, assim como receberia também 7.000 judeus
que se encontravam internados em campos alemães no Sarre, Platinado e país de
Baden. O arsenal legislativo anterior ao Estado francês de Vichy era agora
alargado ao sector partidário do PCF, registando-se uma rusga em Outubro de
1940, num total de 300 detenções em campos que, um mês mais tarde, passariam da
autoridade do ministério da Guerra para a do Interior. Em cerca de dois anos.
1.800 comunistas da região parisiense ingressariam nos campos de Le Vernet (Ariège),
Rieucros (Lozère) e Saint-Sulpice-la-Pointe (Tarn). Além destas medidas, Vichy
tomaria frequentes decisões de internamento administrativo de vários políticos,
jornalistas críticos, ciganos e suspeitos em geral (um deles foi o católico
Emmanuel Mounier, director da revista Esprit,
detido, julgado, inocentado mas, mesmo assim, colocado em residência fixa).
De acordo com a lei pétainista de 4-X-1940, os “prefeitos” podiam internar
os judeus estrangeiros e os apátridas residindo em França, que foram objecto de
internamento. Embora a população dos campos fosse flutuante, ela parece ter atingido,
em fins de 1941, 50.000 pessoas de sessenta nacionalidades diferentes na zona
sul (dita “não-ocupada”, até 1942). O Inverno rigoroso de 1940-41 provocou neles
uma pesada mortalidade, agravada ainda a doenças como a disenteria, a febre tifóide
e as doenças pulmonares.
Num dos seus ensaios sobre os Judeus, Hannah Arendt mencionou a sua
passagem por Gurs, em seguida a ter sido convocada pela polícia de Paris, detida
no Vélodrome d’Hiver em 1940 e, após uma semana caótica neste local dos judeus
vítimas da rusga, transferida para o campo do Béarn, “no qual tive a
oportunidade de passar algum tempo”, recorda ela de modo de modo minimalista
num passagem do seu ensaio sobre “Nós os refugiados” (também figura noutras
edições com o título de “O Judeu como pária”).[7]
Casada em Janeiro desse ano com Heinrich Blücher, seu segundo marido, Arendt
conseguiria, no entanto, fugir do campo de concentração de Gurs, via Marsellha,
donde, a partir de Lisboa, a filósofa judia seguiria finalmente para os Estados
Unidos chegando a Nova Iorque em 22-V-1941, juntamente com o seu marido. Num outro
texto seu, Arendt recordaria de novo o tempo passado em Gurs, referindo o caos
estabelecido pela derrota da França e a dificuldade em obter papéis necessários
para a expatriação em direcção aos Estados Unidos, pairando sobre o campo
bearnês o receio de que este seria entregue aos Alemães logo que estes
consumassem a conquista da França, o que fez com que só cerca de 200 mulheres
abandonassem o campo, das 7.000 que lá continuariam.[8]
Gurs. Aspecto do cemitério dos detidos.
Fotografia de João Medina.
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Quanto a Gurs, no período da ocupação nazi, este campo conheceria doravante
uma finalidade específica, que era a de receber judeus franceses ou doutras
origens nacionais, estabelecidos no Hexágono, assim como aqueles que, detidos na
região de Baden, do Palatinado e do Sarre, seriam remetidos para o Béarn, como
acima foi referido, num total de 7.500 cidadãos alemães, os quais sofreriam, no
simples período de inverno de 1940-41, 800 óbitos. Gurs também receberia outras
remessas de judeus detidos no III Reich ou vindos da Áustria e da área do
Protectorado Polaco, além de judeus “apátridas”, num total de 20.000 internados,
em larga maioria mulheres. Vê-se por estas cifras como estes novos
contingentes, resultantes da colaboração entre os enérgicos genocidas nazis e o
seu colaborador Pétain, contribuiriam para a Shoah do povo da Aliança. O
ocupante alemão da França considerava que esta solução lhe facilitava o afã administrativo
da matança duma humanidade que, desde 1942, com a decisiva conferência de
Wannsee (20-I-42) seria explicitamente votada a aplicar a “solução final da
questão judaica” [9]. Nesse sentido, as autoridades alemãs encarregaram a polícia francesa
de Paris de inventariar alfabeticamente, em fichas detalhadas, todos os judeus
vivendo ali, com especial menção da origem nacional de cada um deles.
Esta lista seria posta em realização prática em Maio de 1941, com a
captura de todos os judeus polacos inventariados, e em Agosto com os que
estivessem envolvidos em “delitos comunistas ou degaulistas” ou em ataques contra
forças da Wehrmacht. Estes detidos, em número de 7.443, seriam colocados numa
série de novos campos que a Alemanha criou no território francês com o
beneplácito de Vichy, em Drancy, Pithiviers e Beaune-la-Roulande. O pessoal que
administraria estes novos campos seria francês. Em 1942, com a ajuda do eficaz burocrata
Eichmann, o III Reich começou a exportar os judeus capturados em França para
campos mais eficazes na implementação da “solução final” como Auschwitz, para
onde partiria o primeiro comboio com judeus franceses em 13-VII-1942. [10]
Impõe-se ainda uma referência à acção de algumas obras humanitárias que
socorreram os internados nos campos de concentração nestes tempos sombrios. Entre
essas instituições caritativas que operaram em Gurs, há que referir, antes de mais,
o Socorro Protestante, a CIMADE (Comité Inter-Mouvements auprès des Évacués), criada por um grupo de estudantes da Alsácia e da Lorena, entre os quais se destacaria, em 1940, a francesa Madeleine Barrot [11], depois o
Socorro Suíço, animado por Elsbeth Kasser, visando sobretudo as crianças, a OSE
(Organização de Socorro às Crianças), instituição judaica que, com a ajuda da
Amizades Cristãs do abade Glasberg, socorreu a população infantil dos campos e,
por fim, os Quakers, que forneciam preciosas ajudas alimentares. Duas ausências
foram então mais evidentes; nem a Cruz Vermelha francesa nem a Igreja Católica
da região do Béarn manifestaram a sua caridade para com estas gentes atrozmente
perseguidas. Há que referir, finalmente, que algumas famílias bearnesas deram
auxílio aos judeus ou os esconderam, sendo esses Justos que uma placa de pedra talhada em forma poliédrica, a partir
da estrela judia das seis pontas, hoje lembra à entrada do campo de Gurs.
Fotografia de João Medina.
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4. Encerramento do campo de
concentração de Gurs e sua metamorfose em “local de memória”
As autoridades de Vichy fecharam
o campo de Gurs em 1943, depois dum ataque executado em 25-IX-43 por dois
grupos do Exército Secreto, vindos um de Pau e o outro de Mauléon, o que foi
sem dúvida um dos golpes mais audaciosos da Resistência: depois de neutralizarem
os guardas, levaram todas as armas armazenadas no campo, isto é, 255 peças de
artilharia, 271 espingardas, 368 pistolas, 2 metralhadoras e 30.000 munições. O
caso suscitou grande escândalo, pelo que o comandante do campo foi demitido e,
perante a impossibilidade de protegerem um campo vazio, as autoridades
vichysistas optaram por encerrá-lo em 1-XI-43. Contudo, este encerramento não
significava o fim da existência deste campo, ainda que o sector administrativo
e algumas “ilhotas” fossem mantidas prontas para uma eventual utilização
futura, o que de facto se verificou em Abril de 1944, quando campo dos ciganos
nómadas de Saliers (Bouches-du-Rhône) foi deslocado para Gurs, assim como 151
mulheres de Brens (Tarn) em Junho, incluindo prostitutas e traficantes do
mercado negro. Este último grupo feminino, ao chegar ao campo, achou-o em tal
estado de degradação que iniciou um veemente protesto, a que se seguiu o fogo
posto nas barracas, episódio que remataria com a fuga destas mulheres
indignadas pelas terras e florestas vizinhas (25-VI-1944). Dois meses depois, a
maioria das fugitivas seriam assistidas graças à libertação completa dos
“Basses Pyrinées”. A partir de então, o campo de Gurs receberia como internados,
nos restos calcinados das suas instalações, algumas autoridades de regime de
Vichy, acusadas de colaboração com os nazis.
Após a Libertação da
França, o campo de Gurs vivia, deste modo, numa completa confusão. A partir de
Agosto, no meio desta indecisão total, além das personalidades de Vichy ali
internadas, havia agora soldados alemães capturados durante a retirada da
Werhmacht. Em 1945 iniciou-se um esboço de ordem em Gurs: o novo director
mandou reservar as “ilhotas” H e J para os “collabos”, além de 1.585 homens e
mulheres do departamento acusados de pequenos crimes de mercado negro ou por
serem membros do Partido Popular Francês (PPF), do antigo comunista tornado
fascista em 1936, Jacques Doriot (1898-1945), que acompanharia Pétain e alguns
membros do seu governo no exílio alemão em Sigmaringen, no Bad-Wurtemberg, no
castelo do antigo principado dos Hehenzollern, sobre um recanto do Danúbio onde
o navio fantasma de Vichy viera, finalmente, afundar-se, em Setembro de 1944,
que Hitler oferecera ao marechal francês, ao seu alquilador Laval, a mais
alguns ministros e a uma tropa de milicianos, mais dois mil civis franceses extraviados
que seguiam nessa nave perdida, entre o quais um certo Céline, que desse
grotesco desmanchar final de feira deixaria um retrato minucioso e delirante. [12]
Os membros mais activos deste mundo vichysista seriam, todavia, desde o verão de 1944, encarcerados em França, em prisões de maior segurança. Por fim, em 31-XII-1945, as autoridades determinariam o encerramento definitivo do campo de Gurs. Foram queimadas as barracas irrecuperáveis e plantou-se uma floresta no vazio deixado por aquelas. O silêncio reinaria doravante neste espaço de que fora de intolerância, perseguição e violência, uma vez que só 35 anos depois e criaria uma associação dedicada a preservar o sombrio passado histórico desta malfadada região, a Amicale du Camp de Gurs. A sua criação em 1980 marca, assim, a metamorfose deste espaço de horror em local de memória, com vista a uma pedagogia capaz de explicar aos vindouros o que de ignominioso ali se passara entre 1939 e 1944. De qualquer modo, desde 1963 que várias organizações, nomeadamente germânicas, conjugavam os seus esforços no sentido de dar sentido e significado a essa metamorfose da Memória colectiva e local, como foi o vaso do consistório israelita do país de Baden que decidiu restaurar o cemitério judaico e organizar cerimónias evocativas do calvário dos internados e mortos ali. Foi este campo-santo restaurado em 1963, com 1.073 campas, todas iguais, das vítimas judaicas, com um pequeno monumento dedicado a lembrar os republicanos espanhóis e os brigadistas da fase inicial.
Os membros mais activos deste mundo vichysista seriam, todavia, desde o verão de 1944, encarcerados em França, em prisões de maior segurança. Por fim, em 31-XII-1945, as autoridades determinariam o encerramento definitivo do campo de Gurs. Foram queimadas as barracas irrecuperáveis e plantou-se uma floresta no vazio deixado por aquelas. O silêncio reinaria doravante neste espaço de que fora de intolerância, perseguição e violência, uma vez que só 35 anos depois e criaria uma associação dedicada a preservar o sombrio passado histórico desta malfadada região, a Amicale du Camp de Gurs. A sua criação em 1980 marca, assim, a metamorfose deste espaço de horror em local de memória, com vista a uma pedagogia capaz de explicar aos vindouros o que de ignominioso ali se passara entre 1939 e 1944. De qualquer modo, desde 1963 que várias organizações, nomeadamente germânicas, conjugavam os seus esforços no sentido de dar sentido e significado a essa metamorfose da Memória colectiva e local, como foi o vaso do consistório israelita do país de Baden que decidiu restaurar o cemitério judaico e organizar cerimónias evocativas do calvário dos internados e mortos ali. Foi este campo-santo restaurado em 1963, com 1.073 campas, todas iguais, das vítimas judaicas, com um pequeno monumento dedicado a lembrar os republicanos espanhóis e os brigadistas da fase inicial.
Fotografia de João Medina.
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Hoje, ao lado do recente pavilhão audiovisual, ergue-se uma pequena
estela poliédrica de pedra, com a forma duma estrela de David, evoca esses
“Justos”, nomeadamente os membros das associações caritativas suíças
protestantes e de Quakers que deram auxilio aos detidos, bem como as famílias
que muitas vezes abrigaram e esconderam judeus fugidos de Gurs. Foi também
feita a restauração da parte final da linha férrea que transportava os
internados até ao campo, de modo a assinalar símbolos dos tormentos vividos
ali, assim como se ergueu um pequeno memorial a todos os internados do campo. Várias
placas explicativas acompanham a barraca da administração e a única barraca
reconstruída segundo o modelo original, bem como noutros pontos em cuja
geometria se desenvolvia o conjunto desta cidade de aflição e morte, há outras
escritas em francês, espanhol e alemão, ajudando os muitos visitantes que cada
ano vêm a Gurs para conhecer um dos campos mais emblemáticos das várias tragédias
que os povos europeus – entre os quais, o povo da Aliança – aqui viveram.
Na própria região do Béarn, contudo, o eco destes afãs memorialísticos registados
desde os anos 60 do século XX, foram débeis. Hoje, porém, este local da
memória, dotado agora de um elegante pavilhão audiovisual evocativo da vida
sofrida nestes hectares dolorosos, erguido à entrada na zona onde outrora houve
o campo de internamento de Gurs, dispondo de todo um conjunto de apetrechos
pedagógicos que consagram o meritório esforço feito no sentido de assinalar estes
locais das barracas como uma das dimensões daquilo que Arendt – internada em
Gurs em 1939 – classificava como a presença dum nova dimensão do Inferno – e que Malraux, antigo combatente das guerra
de Espanha ao lado dos republicanos – descrevia como a reaparição visível de
Satanás na época contemporânea.
5. Epílogo sobre Hannah
Arendt
Hannah Arendt, tratando da questão dos campos de internamento num dos
seus livros mais importantes, A Origem do
Totalitarismo (edição original em 1951, trad. portug. em 1978) – matéria em
que, como se viu, a filósofa judia teria alguma autoridade pessoal, como
indesejável escapada de Gurs –, tipificava aqueles em três categorias
distintas, correspondentes às três concepções ocidentais básicas de uma vida no
mundo subterrâneo, o limbo, o purgatório e o inferno:
“Ao limbo correspondem aquelas formas relativamente benignas (….)
destinadas a afastar da sociedade todo o tipo de elementos indesejáveis – os
refugiados, os apátridas, os marginais e os desempregados; (…) nada mais são do
que campos para os que se tornaram supérfluos ou importunos. O purgatório é
representado pelos campos de trabalho na União Soviética onde o abandono se
alia ao trabalho forçado e desordenado. O inferno, no sentido mais literal, é
representado por aqueles tipos de campos que os nazis aperfeiçoaram e onde toda
a vida era organizada, completa e sistematicamente, de modo a causar o maior
tormento possível. Os três tipos têm uma coisa em comum: as massas humanas que
eles detêm são tratadas como se já não existissem, como se o que sucedesse com
elas não pudesse interessar ninguém, como se já estivessem mortas e algum
espírito mau, tomado de alguma loucura, brincasse a suspende-lo por certo tempo
entre a vida e a morte antes de as deixar passar no caminho da paz eterna.”
Estas palavras da filósofa judia alemã, internada por algum tempo em
Gurs, embora logrando escapar dele a tempo de não ser expedida depois para
Auschwitz, carregam todo dramático e intolerável peso desses “tempos sombrios”
– e Homens em Tempos Sombrios se
chama um dos seus livros – em que essas três variantes do horror dos mundos
subterrâneos habitados por quase-mortos que oscilavam entre formas de limbo, de purgatório ou de inferno,
como se esses círculos infernais dantescos, reactualizados pelas tecnologias dos
Estados totalitários do século XX (estalinismo e nazismo) e, sobretudo, do
morticínio de massa industrializado com os fornos crematórios alemães e a
química germânica, permitissem que fossem levados até ao extremo limite destas
experiências psicopatas in anima vili,
com aquela fanática Gründlichkeit que
os alemães davam a tudo o que empreendiam no nosso mundo sublunar.
Monte Estoril, 7-IX-2014
João Medina
Bibliografia
consultada:
− Claude Laharie, Le Camp de Gurs: 1939-1945. Un Aspect
méconnu de l’ Histoire du Béarn, Biarritz, J & D Éditions, 1993.
– Claude
Laharie, Gurs 1939-1945. Un Camp
d’Internement en Béarn, Biarritz, Atlântica, 2005, ilustr., com mapas.
– Dennis
Peschanski, La France des Champs. L’ Internement 1938-1946, Paris, Gallimard, 202, ilustr. e com mapas.
– “Camp de Gurs”, extenso artigo na Wikipedia
(em francês).
– Raul Hilberg, The Destruction
of the European Jews, Chicago, Quadrangle Books, 1967.
– Hannah Arendt,
“Nós os refugiados”, in The Jewish
Writings, Nova Iorque, Schoken Books, 2007 (passagem sobre Gurs: pp.265-6).
–
Hannah Arendt, O Sistema Totalitário, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1978.
– César
Vidal, Las Brigadas Internacionales,
2ª ed., Madrid, Espasa Calpe, 1999, ilustr e com mapas.
– Michèle
Cointet, Nouvelle Histoire de Vichy
(1940-1945), Paris, Le Grand Livre
du Mois, 2014.
[1] Sobre as Brigadas Internacionais que combateram pela
República de 1936 a
1938, veja-se o estudo de César Vidal, Las
Brigadas Internacionales, 2ª ed., maxime
pp. 309-316. Gurs não é mencionado neste estudo, que quase nada diz sobre o
regresso dos brigadistas para os seus países, limitando-se a lembrar que a sua
repatriação tinha a ver com a natureza política das nações donde vinham, uma
vez que, exceptuando os casos da França, Estados Unidos, Bélgica ou Inglaterra,
já os combatentes polacos, alemães, húngaros e outros de leste não podiam
tornar à pátria por ali vigorarem regimes fascistas ou autoritários. Nessa
medida, o internamento dos brigadistas em Gurs foi o destino central dos muitos
brigadistas sem possibilidade de tornarem às suas pátrias.
[2] Robert Badinter (nasc. em 1928), pref. a Gurs
1939-1945. Un Camp d’Internement en
Béarn, de Claude Laharie, p.7.
[3] Recordemos os nomes mais conhecidos de alguns dos
brigadistas que passaram por Gurs: os húngaros Laszlo Rajk, executado sob a
acusação de “titismo” em 1949, e Janos Kadar, no poder a partir do fracasso da
revolução liberalizante de 23-X-1956. Gursiano fora ainda o checo Rudolf Slansky,
também eliminado pelo mesmo género de processos anti-semitas na Checoslováquia
de “democracia popular”, executado em 1952 sob a alegação de chefiar um golpe
de Estado (Artur London celebrizou este caso no seu livro L’Aveu, de que Costa-Gavras fez um filme, em 1970). Quanto aos
gursianos jugoslavos, mais tarde membros dos governos titistas, lembremos
Goschanck e Daptchevic.
[4] José Zala Solchaga (1881-1953), de família carlista,
teve destacada acção na repressão da revolução nas Astúrias e, em Pamplona, na
preparação do 18-VII-1936, ao lado do general Mola. General desde 1937, chefiou
as Brigadas Navarras, ascendendo a tenente general em 1943, sendo ainda
capitão-geral da Galiza e da Catalunha.
[5] Quanto à famosa trilogia de Vichy – “Travail,
Famille, Patrie” –, recorde-se como um contemporâneo francês a interpretou:
“Família significa obediência ao cura; trabalho, obediência ao patrão;
pátria, obediência aos militares” (Charles
Rist).
[6] Max Ernst (Brühl, Alemanha, 1891 – Paris, 1-II-1976),
inicia estudos de Filosofia na Universidade de Bona, mas logo se orienta para a
arte, colaborando no grupo do Cavaleiro Azul
(1910), expondo pela primeira vez, em Berlim, obras suas (1913). Conhece Klee,
combate no exército alemão, funda com Arp o grupo Dada de Colónia e, a partir
de 1922, reside em Paris, onde ingressa no surrealismo. Está na Itália em 1933,
regressa a França e em 1939 é internando como cidadão alemão no campo Les
Milles, donde consegue sair, graças ao auxílio do americano Varian Frey e da
milionária Peggy Guggenheim, partindo para os Estados Unidos em 1941, onde se
casa com a sua protectora, da qual se divorcia mais tarde, voltando com a sua
nova mulher para França (1953), indo viver para uma aldeia no Var. Hans Bellmer
(Katowice, 1902 – Paris, 1973), escultor e gravador francês de origem alemã,
faz estudos no Instituto Politécnico de Berlim, é desenhador industrial e gráfico
publicitário, participa no movimento Dada de Berlim, sendo expulso pelo
nazismo, passando a residir em Paris, associado ao grupo surrealista,
realizando desde 1937 as diferentes fases duma boneca de alumínio, realiza
águas-fortes para poemas de Apollinaire e decalcomanias com guaches coloridos,
sendo internado em Les
Milles como estrangeiro. O escritor alemão Lion Feuchtwanger
(1884-1958) torna-se célebre com o seu romance histórico O Judeu Süss (1926), publica uma sátira romanesca sobre o “putsch”
de Hitler em Munique, exilando-se em França em 1933, sendo internado em Les Milles , conseguindo
escapar para os Estados Unidos. Escreveu numerosos dramas e biografias, como as
de Goya (1952) e Rousseau. Angelus Gottfried Mann (Golo Mann) (Munique, 1909-1994),
estuda em Göttingen, vai para o exílio suíço com os pais (1933), oferece-se
como voluntário para o exército francês quando a Alemanha declara guerra à
França, é internado em Les
Milles (1939), conseguindo escapar dali, atravessa a Espanha
e de Portugal segue de paquete para os EUA (Outubro de 1940), onde o esperavam
os pais. Fez carreira universitária na América e, depois, na Europa. Publicou
(1990) umas memórias azedas para com o pai Thomas Mann (1999).Tornando-se cada
vez mais conservador, viveria solteiro os derradeiros anos de vida nos arredores
de Zurique.
[7] Hannah Arendt, “Nós os refugiados”, in The Jewish Writings, Nova Iorque,
Schoken Books, 2007 pp.264-274 (a passagem sobre Gurs: pp. 265-6).
[8] Hannah Arendt,
citada por Richard J. Bernstein, in Hannah
Arendt and the Jewish Question, Cambridge, Polity Press, 1996, op. cit., pp.73-4.
[9] Ver: Arno Mayer, La “Solution finale” dans l’ Histoire,
pref. de P. Vidal-Naquet, Paris, La Découverte, 2002. Edouard Husson, “Nous pouvons vivre sans les Juifs”. Quand et comment ils décidèrent de la
Solution Finale, Paris, La Grand Livre du Mois, 2005.
[10] Sobre a interpretação da Shoah no contexto do anti-semitismo alemão, vejam-se dois livros indispensáveis de Philippe Burrin, Hitler et les Juifs, Paris, Éditions du Seuil, 1995, e Ressentiment et Apocalypse. Essai sur l’antisémitisme nazi, Paris, Éditions du Seuil, 2007.
[11] Veja-se Erica Alary e Bénédicte Vergez-Chaignon, Dictionnaire de la France sous l’ Occcupation, Paris, Larousse, 2011, maxime pp.360-361 (posição dos protestantes em face da política de Vichy, nomeadamente a resistência progressiva de M.Boegner a partir do primeiro e do segundo estatutos dos judeus, i.e, Outubro de 1940 e Junho de 1941), 148-9 (campos de concentração, nomeadamente o de Gurs e outros centros de internamento da região do sudoeste, assistência de diversas organizações caritativas como a organização judia OSE, criada em 1912 –, o CICR, os Quakers, o YMCA, a CIMADE, etc.), pp.152-3 (resistências católicas, como a do jesuíta Chaillet, dos Cahiers du Témoignage Chrétien, alguns membros do baixo clero, mais próximo das dificuldades quotidianas dos franceses, o caso raro e exemplar de Monsenhor Saliège, bispo de Toulouse, ao mesmo tempo que outros prelados como o cardeal Baudrillart ou Mons. Mayol de Lupé estavam do lado de Vichy e do ocupante).
[12] Veja-se Pierre Assouline, Sigmaringen, Paris, Gallimard, 2014
[10] Sobre a interpretação da Shoah no contexto do anti-semitismo alemão, vejam-se dois livros indispensáveis de Philippe Burrin, Hitler et les Juifs, Paris, Éditions du Seuil, 1995, e Ressentiment et Apocalypse. Essai sur l’antisémitisme nazi, Paris, Éditions du Seuil, 2007.
[11] Veja-se Erica Alary e Bénédicte Vergez-Chaignon, Dictionnaire de la France sous l’ Occcupation, Paris, Larousse, 2011, maxime pp.360-361 (posição dos protestantes em face da política de Vichy, nomeadamente a resistência progressiva de M.Boegner a partir do primeiro e do segundo estatutos dos judeus, i.e, Outubro de 1940 e Junho de 1941), 148-9 (campos de concentração, nomeadamente o de Gurs e outros centros de internamento da região do sudoeste, assistência de diversas organizações caritativas como a organização judia OSE, criada em 1912 –, o CICR, os Quakers, o YMCA, a CIMADE, etc.), pp.152-3 (resistências católicas, como a do jesuíta Chaillet, dos Cahiers du Témoignage Chrétien, alguns membros do baixo clero, mais próximo das dificuldades quotidianas dos franceses, o caso raro e exemplar de Monsenhor Saliège, bispo de Toulouse, ao mesmo tempo que outros prelados como o cardeal Baudrillart ou Mons. Mayol de Lupé estavam do lado de Vichy e do ocupante).
[12] Veja-se Pierre Assouline, Sigmaringen, Paris, Gallimard, 2014
A assinatura destes textos com Monte Estoril roça o ridículo.
ResponderEliminarExcelente, está visita guiada e ilustrada ao campo de Gurs
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