28 de Julho
O Sr. Adriano (observei-lhe sobre a sua
parecença com Amílcar Cabral e respondeu-me não ter sido o primeiro a
referir-lhe isso) levou-nos para o lado norte da ilha, com paragens no Jardim
Botânico – um oásis no meio da quase desnuda paisagem e cada vez mais
montanhosa à medida que se avança para norte – S. Jorge dos Órgãos, Assomada, e
sobretudo no Chão Bom, nome irónico para o lugar do [in]famoso campo de
concentração, nos arredores da sede do concelho do Tarrafal.
O museu mexe com o estômago. Uma das
casernas está transformada em informativa sala repleta de memorabilia, desde fotos e documentos oficiais a cartas e
narrativas.
Impressiona a quantidade de gente que
aqui foi “hospedada” ao longo dos anos, bem como as divisões estabelecidas nas
casernas: havia-as para os portugueses continentais (ou brancos) e para os
africanos, divididos por províncias. E lá estava a “Holandinha” – a famosa –
uma cela junto à cozinha onde eram arrumados os mais renitentes a fim de sentirem
de bem perto o cheiro da comida quente e entranhassem mais fortemente a
privação, no caso deles extremada de propósito – água e pão.
Uma casa solta a meio do campo era a
morgue. Esmeraldo Pais Prata, conhecido por “o Tralheira”, médico nomeado
oficialmente para o Campo de Concentração em finais de 1936 (só se apresentou
para consultas em Abril de 1937), terá esclarecido a sua missão nestes
termos: “Não estou aqui para curar mas para passar certidões de óbito.”
Uma aprendizagem sombria e triste.
Felizmente seguiu-se-lhe o bom chão do Tarrafal, a praia melhor da ilha a
convidar a um belo banho neste Atlântico aberto e emoldurado de África.
Texto e fotografias de Onésimo Teotónio de Almeida
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