Tem
havido tanta violência e morte por esse mundo fora – Gaza, Síria, Ucrânia, a
queda do avião da Malaysian Airlines, o vírus do Ébola – que Fred Ritchin se
interroga, num artigo da Time, até
que ponto deveremos ser tão expostos ao sofrimento dos outros. Professor na
Universidade de Nova Iorque, o argumento de Ritchin a favor da publicitação
da violência é convincente, ainda que previsível. Mas há coisas que nos tocam de maneira muito
diferente. Ver uma retrospectiva no 10º aniversário do massacre de Beslan, como esta aqui, perturbou-me ao ponto de não querer sequer escrever sobre aquelas
imagens, sobre o luto que por ali persiste – e que persistirá até ao fim. Na sede da Caixa Geral de
Depósitos foi inaugurada há dias uma exposição fotográfica, imagens de meninas obrigadas a
casar precocemente, contra a sua vontade. Too Young to Wed. Neste caso, o que nos incomoda é a
exibição da vida matrimonial, na sua aparente normalidade. Também aqui, com
os meninos fumadores da Indonésia, não se mostra nada particularmente cruel,
pelo menos à superfície. Não há sangue, não há lágrimas. Tudo normal. Apenas crianças a
fumar cigarros, num país onde 60% da população masculina é fumadora e onde
muitas dos rapazes começam a fumar… aos quatro anos. Não se fale, aqui, neste
caso concreto, de autodeterminação pessoal e de liberdade na vida privada. O que
mostra este trabalho Marlboro Boys,
da fotógrafa canadiana Michelle Shiu, é tão violento como as imagens de sangue e dor. Na Indonésia, a cultura de tabaco é importante para a economia, mas por
todo o Extremo-Oriente se fuma desalmadamente. As multinacionais
tabaqueiras, sentindo-se ameaçadas pelas leis antitabágicas do mundo «civilizado»,
direccionam agora os seus investimentos para roupas e acessórios (a Marlboro é quase tanto uma marca de vestuário como de cigarros), enquanto apostam
forte – e feio – em novos mercados. Isto não é economia de mercado, é crime organizado. Que deveria ser punido como tal, o que jamais acontecerá num país
tão dependente do cultivo do tabaco – e que despreza desta forma tão cruel a
vida dos que nele vivem.
Que coisa tão horrível...
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