quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Memórias, de João Eloy.

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Malomil deleita-se com estas histórias de reencontros e de achados. No final dos anos 50, Maria Eloy via o seu Pai, na salinha de estar de casa, frente a uma velha Remington, a copiar as folhas de um manuscrito. Guardava-as depois na gaveta de uma secretária, ordenando que ninguém mexesse nos papéis. Anos mais tarde, Maria Eloy desobedeceu. Abriu a gaveta e descobriu as «Memórias» do seu avô paterno, João Eloy Pereira Nunes Cardoso.

         João Eloy nasceu em S. Tomé, em Outubro de 1875, vindo em tenra idade para Lisboa, onde foi baptizado em Janeiro de 1876. Bacharel em Direito, toma posse como Inspector da Polícia Judiciária do Porto em Novembro de 1912. Em 1914, é nomeado Director da Polícia de Investigação Criminal de Lisboa, a convite de Bernardino Machado. Demitir-se-á do cargo um ano depois, mas continuará em funções para investigar o Movimento do 14 de Maio e para garantir a segurança dos  monárquicos regressados dos estrangeiro. Mais tarde, após o 28 de Maio, e a convite de Carmona, reassumirá a direcção da Polícia de Investigação Criminal de Lisboa.

         As suas «Memórias», que acabam de sair na Amazon, em edição de Maria e de Pedro Eloy, relatam os tumultos daquela época, a acção da Formiga Branca, os assassinatos políticos, as voltas do governo de Pimenta de Castro. Mas, fora daquilo a que chamava a «politiquice», João Eloy investigava também casos de tráfico de estupefacientes, pornografia, curandeirismo, prostituição infantil, jogo clandestino. O livro é um retrato ímpar da vida política e social durante a Primeira República.

         Esta obra tem uma história que se assemelha a um enredo policial, a uma trama parecida com aquelas que João Eloy investigava. Em 2010, Maria Eloy redescobre, numa mala guardada num velho sótão, as «Memórias» que o seu avô escrevera e que o seu pai tencionava publicar. Decidiu dar à estampa estas preciosas «Memórias». Como o mercado editorial português é o que sabemos, optou por fazê-lo na Amazon. Feita a proposta, em menos de 24 horas a Amazon respondeu afirmativamente, como é evidente. Assim, agora temos entre nós, em língua portuguesa, o livro Memórias: De Inspector da Polícia Judiciária do Porto a Director da Polícia de Investigação Criminal de Lisboa após a Implantação da República em Portugal.

         Disponível na Amazon, acessível no preço. Um livro que bem poderia ter sido editado entre nós. Assim, teremos de pagar os portes de correio. Mas isso de pouco custa, tendo em conta o interesse destas Memórias. Num registo próximo, havia um texto de Sollari Allegro sobre a «Monarquia do Norte» (Para a História da Monarquia do Norte. Amadora: Livraria Bertrand, 1988) e outro, muito mais fraco, de Manuel Nunes (As Memórias de um Agente da Polícia. O chefe Pereira dos Santos contou-me a sua vida. Lisboa: Editora Marítimo-Colonial, 1945). Como estas, não há nenhumas. Essencial para conhecer a República, fundamental para perceber quem fomos – e somos.

 
António Araújo

2 comentários:

  1. A pedido de um elemento da Direção da Tuna Académica da Universidade de Coimbra, venho solicitar a sua colaboração no sentido de me facultar o contato da Srª D. Maria Madalena Eloy Nunes Cardoso, a fim de com ela poderem contatar sobre o avô da referida Srª, e sobre seus tempos de Coimbra enquanto estudante. Grato pela atenção que me puder dispensar
    Jorge Resende,jbgresende@gmail.com

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  2. Amigo jorge Resende
    Tentarei entrar em contato com a minha prima Madalena eloy depois direi algo com um abraço
    Francisco Cannas

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