domingo, 7 de abril de 2013

Quarto 237.

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The Shining (1980)
 
 
 




















 
 
 
 
 
 
 

Vestidos originais do filme
 
 


 



 

Vi The Shining no ano que estreou, em 1980, ou no ano seguinte.  Estava na Bélgica, era miúdo. E, de regresso a casa, tive de atravessar um bosque sombrio… Das personagens mais marcantes do filme, as gémeas Grady e o seu gélido convite: Come and play with us, Danny. Há quem note parecenças com a fotografia Identical Twins, de Diane Airbus, artista inclinada a explorar os aspectos mais bizarros da realidade humana e que, não por acaso, se suicidaria em 1971, aos 48 anos de idade. O realizador conhecera de perto a fotógrafa e a sua obra, mas, segundo a viúva, não se inspirou naquela célebre imagem, sobre a qual existe um interessante follow up, aliás.
 
Diane Arbus, Identical Twins, Roselle, New Jersey, 1967


Cathleen e Colleen, as gémeas de Arbus
 
 

Lisa and Louise Burns, durante as filmagens
 
 
 
 
No livro de Stephen King e no script do filme, as Grady eram irmãs, mas não irmãs gémeas. Contudo, foi assim, ou muito perto disso, que Kubrick as apresentou. Escolheu Lisa e Louise Burns, que, depois desta experiência, não enveredaram pela carreira de actrizes... uma é formada em Literatura, outra é microbiologista (aqui; aqui diz-se que são ambas microbiologistas).  Apesar das críticas negativas com que foi acolhido (sendo, todavia, um sucesso de bilheteira), desde que The Shining estreou a imagem das gémeas inexpressivas tornou-se um ícone de massas, dos quais existem milhares de recriações, de que aqui se apresentam apenas alguns exemplos. É possível, inclusivamente, adquirir aqui uma réplica do vestido puro que envergavam no corredor que conduzia ao Quarto 237. Na novela de King, o Quarto era o 217, mas os proprietários do Overlook Hotel, em Timberline Lodge, Mount Hood, no Oregon, onde algumas cenas exteriores foram filmadas, pediram ao realizador que mudasse o número do quarto fatal para 237, de modo a não afugentar a clientela. Longe disso: o hotel ganhou fama e até existe hoje site com o seu nome, que recolhe ephemera em torno do filme de Kubrick.  
 
The Overlook Hotel
 
 
 
 
Room 237 (também aqui) é, justamente, o nome de um documentário recentemente esteado nos Estados Unidos, da autoria de Rodney Ascher, que aborda as mil e uma teorias, quase todas mirabolantes, que se construíram em torno do filme de Kubrick. Há quem dia que 237 era o número do estúdio em que Kubrick filmou a inexistente chegada à Lua dos astronautas da Apolo 11… Outros asseveram que o filme está pejado de referências implícitas ao Holocausto, a dramaturga Julie Kearns fala de minotauros… A história é contada na edição de ontem do El País, aqui. Sem demérito para o realizador, sem desvalorizar a sua obsessiva demanda da perfeição, não há dúvida de que as arrepiantes cenas em que Danny percorre no seu carro de brincar os corredores do hotel devem muito, muitíssimo, a um artefacto técnico e ao seu criador, Garrett Brown: a Steadicam, já usada anteriormente em travellings no Rocky (1976) e em O Homem da Maratona (1976), mas aqui colocada mais perto do chão e das paredes e levada à máxima potência da sua desenvoltura visual. O ponto é realçado até no livro introdutório à filmografia de Kubrick, da autoria de Paul Duncan, e editado pela Taschen. A propósito de Kubrick, já agora, não perca o excelente suplemento Q. Quociente de Inteligência, saído ontem com o Diário de Notícias.
Enfim, muitas teorias, quase todas disparatadas, mas o certo é que o shining  do filme muito deve a um novo tipo de câmera. Essa é que é essa.
 
António Araújo 



1 comentário:

  1. Ah, Shining. Foi no Casino Estoril que vi pela 1ª vez o ursinho-fétiche :-)

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